Sensibilizar a sociedade e o poder público para a necessidade de implantar a ITV é o desafio que mobiliza entidades e lideranças da reposição independente
Por Claudio Milan ([email protected])
O Seminário da Reposição Automotiva 2018 foi encerrado com um debate que teve a Inspeção Técnica Veicular como tema. Participaram das discussões José Aurélio Ramalho, diretor presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária; Mario Maurício, presidente da Abritev – Associação Brasileira de Inspeção Veicular; e Stephan Blumrich, presidente do Conselho da Afeevas – Associação dos Fabricantes de Equipamentos para Controle de Emissões Veiculares da América do Sul. O encontro foi mediado por Antonio Fiola, presidente do Sindirepa Nacional e do Sindirepa-SP. “Na maioria dos países, cada dólar investido em inspeção veicular pode trazer uma economia de 10 dólares em internações e acidentes de transito. Lamentavelmente ainda vivemos num país em que a gente tem que passar por cima disso e fingir que não estamos vendo que não é dada a devida importância à prevenção. E esse talvez seja o nosso papel, insistir com o cliente e todos os demais elos do mercado sobre a importância da prevenção dos nossos veículos”, disse presidente do Sindirepa.
Ao final do debate, Fiola propôs que as entidades reunidas levem à frente a proposta de implantação da Inspeção Veicular para o próximo governo e trabalhem em todas as frentes para que isso aconteça. A seguir você acompanha os momentos principais do encontro.




“É importante lembrar que o motorista do carro sem condições também se coloca em risco. Esse é o pontoque nós precisamos explicar para ele. Ele usa um carro velho e coloca outras pessoas em risco, mas, pior para ele, coloca a si próprio em risco. Talvez com isso a compreensão dele pelo problema aumente”.
“Eu escrevi um artigo certa vez intitulado “Impunidade fatal”. Na época, um ônibus quebrou numa estrada em Santa Catarina e parou no acostamento. Os passageiros desceram do ônibus e veio um caminhão de vários eixos cuja metade deles já não tinha sistema de freios. Perdeu a direção e matou 27 pessoas. Eu perguntei no artigo de quem era a culpa. Alguns vão responder que é da empresa de ônibus porque o ônibus quebrou. Outros dirão que é da empresa do caminhão, que não fez a manutenção. Outros dirão que quem tem que responder é o motorista, que por sua vez dirá que a culpa é do dono. E aí a resposta é uma só: o culpado é o poder público que deixou aquele caminhão trafegar nas estradas”.


“Nesse exato momento a melhor estratégia seria centrar nossas ações no Congresso, Denatran ou onde?”.
“Tudo o que eu aprendi sobre esse processo é que tem de ser estadual. O estado é dono das licenças dos veículos. É por isso que os estados precisam estar capacitados. Eu considero esse o melhor caminho. Uma alternativa seria produzir uma orientação federal para os estados”.
“Como a gente poderia moldar a cultura de inspeção, uma vez que ela vai ajudar na segurança em um país que, para usar o cinto de segurança, foi necessário estabelecer multas?”.
“Isso tem a ver com os ensinamentos na habilitação. Você não usa o cinto de segurança porque foi orientado. Você usa porque, se não usar, vai ser multado. Muitos motoristas pedem para por o cinto porque a polícia está ali na frente. Não porque querem proteger os passageiros. Nós temos um material didático e pedagógico que doamos para as escolas, o conteúdo é dirigido à formação dos alunos de 1ª a 9ª série, como prevê o Código de Trânsito Brasileiro, que completou 20 anos e o governo não fez nada. Os livros digitais estão lá no Denatran, está tudo disponível. Então o processo é de educação. No caso do cinto, por exemplo, é uma questão de você formar e educar esse condutor. É preciso informar para que as pessoas tenham a percepção dos riscos que correm. Aí mudam a atitude. Depende de todos nós e não só do governo”.

“Eu posso dizer o motivo alegado pelo Denatran porque nós fomos lá fazer uma reunião para discutir isso e o que foi colocado é que o tempo era muito curto e que existiam situações que precisavam ser alinhadas entre algumas entidades governamentais envolvidas no processo, o que exigiria um debate mais amplo. Eu entendo que o que parou o processo foi o momento de grande incerteza do nosso país, que agora espero que estejamos em vias de superar. Mas também entendo que os estados não têm condições de fazer sozinhos e precisam de apoio. Assim, temos que oferecer ajuda, a gente tem que se juntar, todas as entidades do setor, e apresentar uma proposta apoiada por dados de uma organização não governamental e pegar pessoas sérias para fazer o trabalho. Se for para a inspeção sair, a gente vai ter que colocar ela lá. Caso contrário, não vai acontecer”.
“A inspeção veicular sem duvida é a melhor coisa que o motorista pode fazer para sua sociedade. Ela traz benefícios para todos, mas os políticos têm medo do eleitor – ele poderia estar contra a inspeção. Ainda é preciso explicar até para os políticos que é uma vantagem ter o carro regulado, com tudo em ordem, consumindo e menos aumentando o valor de revenda. Então, o cidadão está sendo prejudicado pela a falta da inspeção”.













