Reflexões em tempos de home office -

Reflexões em tempos de home office

Percebemos então, de súbito, que a modernidade disposta naquela medida de se poder trabalhar em casa, aparece substituída pelo peso da necessidade; e o conforto pretendido no conceito dos afazeres remotos, de repente surge transformado em incômodo; e a escolha antes tão exaltada, então desponta aniquilada pela obrigação, pela ordem das coisas desse tempo.
O home office se tornou protagonista nos tempos de quarentena e isolamento social.

É interessante perceber desde os nossos sentimentos, talvez os menos evidentes, que há algo que denúncia insatisfação com esse novo imperativo para os dias profissionais de nossas vidas. 

Percebemos então, de súbito, que a modernidade disposta naquela medida de se poder trabalhar em casa, aparece substituída pelo peso da necessidade; e o conforto pretendido no conceito dos afazeres remotos, de repente surge transformado em incômodo; e a escolha antes tão exaltada, então desponta aniquilada pela obrigação, pela ordem das coisas desse tempo.

Não vale aqui destacar aqueles velhos e desgastados conselhos sobre comportamentos ideias. Esses dias profissionais nos ambientes privados das nossas vidas costumam ser orientados por esses clichês, aquela coisa enfadonha de se disciplinar, escolher horários rígidos, separar-se das interferências, aquilo tudo que estiver alheio seu trabalho, vigiar sobre as ameaças das horas subtraídas, ou das estendidas demais nessa dedicação laboral.

Mas o que parece oportuno é uma reflexão sobre o que se consegue extrair dessa nova experiência, o que está sendo aprendido, compreendido, devolvido desse ensaio de dias inesperados.

Parece que a primeira evidência pode vir da constatação de que temos algo sempre a reivindicar desde as nossas vontades, que mesmo quando todos aqueles distantes anseios se materializam – nesse exemplo do home office, ter mais horas com a família, estar livre dos congestionamentos e horas perdidas em deslocamentos, escolher se alimentar com a comida de casa, ter horários flexíveis e autônomos, usar o tempo disponível para ser gerido a seu próprio critério; percebemos, então, surpreendidos, que faz sobrar em nossas mentes o avesso das pretensões anteriores: queríamos ver pessoas, conversar, cumprimentar, tocar, conviver, queríamos trocar de ambiente, recrear nossos olhos em paisagens diferentes, poder contar com a distração como meio de descontração, de entretenimento, de passatempo.

Então, eis que surge a oportunidade para se refletir sobre a cronicidade dessa insatisfação humana, sobre onde pode estar a raiz notável desse sentimento de sempre querer algo que não se tem e de se estar em um lugar que não se quer estar. De que lugar pode brotar esse desprazer contínuo? Talvez da urgência de se dinamizar os dias, ou da exatidão dos contatos físicos, ou do desejo forçoso de dar fluxo ativo no sentido do tempo despendido. Ou por nenhum desses, aquele que pode nascer da sua própria cogitação, genuína reflexão, dedicada e autônoma.

Vale começar pela premissa que demanda dessa incurável postura insatisfatória, um sentimento real de consequências emocionalmente danosas, mas que podem ser a oportunidade que se esperava, desde o instante de flagrar suas disposições contraditórias, para se discutir dentro das consciências próprias e únicas sobre o porquê de não estarmos satisfeitos com o que desejávamos e querermos voltar ao que rejeitávamos.

Para não avançar e levar o raciocínio a embrenhar-se em labirintos filosóficos, siga-se refletindo desde a funcionalidade requerida, a investigação dentro de si mesmo, dos indícios que levam a respostas sólidas, legitimamente livres, algo que questione verdadeiramente sobre o porquê de termos o que aspirávamos, para então experimentar e descartar.

Pensando bem, seria seguro concluir sobre a inimizade da sobriedade, do equilíbrio, da consciência com as adversárias, as emoções, as sensações, as rejeições, sempre condicionadas, perenemente contrariadas.

Reflita, inquira, explore desde a sua própria consciência, acima do seu coração, sobre suas emoções, além das instantaneidades passageiras, aproveitando o tempo que está a seu favor nesses dias de home office em benefício de construir melhores respostas sobre suas questões para si mesmo, por você mesmo, pelas suas próprias investigações.  

Ouça mais convites à reflexão nos podcasts Pensando Bem, a informação tratada para se tornar original por você mesmo.


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