Estadão Conteúdo
Principais clientes cativos da indústria automobilística, as locadoras que compram carros direto das fábricas, normalmente com altos descontos, começaram a buscar alternativas de fornecimento.
Mesmo com um movimento que começou recentemente, de devolução de carros alugados por parte de motoristas de aplicativos – desta vez por causa do alto preço da gasolina -, o presidente da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Júnior, diz que faltam produtos nas empresas por causa da redução de entregas pelas fabricantes, por dificuldades na produção devido à falta de semicondutores.
Segundo ele, foram devolvidos até agora cerca de 30 mil automóveis. Em 2020, quando as pessoas ficaram isoladas em casa em razão da pandemia, cerca de 160 mil carros de aplicativos voltaram para as locadoras. Essa “perda”, diz o executivo, foi recuperada ainda no ano passado.
Com a queda drástica nas entregas a partir do primeiro trimestre, as locadoras, que nos últimos cinco anos têm ficado com 20% em média do total de automóveis e comerciais leves vendidos no País, viram essa participação cair para 15%.
Do 1,33 milhão de automóveis e comerciais leves comercializados até agosto, quase 200 mil foram para o mercado de locação, cálculo feito com base em dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
O recuo na participação das vendas ocorre num momento em que a mais nova modalidade de aluguel por assinatura, com prazos de até três anos, tem crescido, assim como a terceirização de frotas de empresas, que estão vendo mais vantagem na locação do que na posse de veículos.
“Para não deixar o cliente na mão, principalmente aqueles que têm necessidade em substituir a frota, buscamos várias alternativas, como percorrer revendas e comprar o que elas ainda têm em estoque”, diz Miguel Júnior, acrescentando que até carros usados estão na mira do setor, mas nesse segmento também está difícil encontrar modelos com baixa quilometragem.
Segundo ele, há filas de espera para locação por assinatura e frotas. Nas concessionárias também há filas e, se houvesse oferta, a Fenabrave calcula que as vendas no varejo seriam de 15% a 20% superiores em relação aos números atuais.
Válvula de escape
Segundo o diretor executivo da Fenabrave, Marcelo Franciulli, não ocorreu alteração significativa nas fatias das vendas corporativas e daquelas parcelas no varejo – que cresceram igualmente 14% em relação ao mesmo período do ano passado -, mas a oferta de produtos reduziu para ambos.
Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, ressalta que as locadoras são a “válvula de escape” das montadoras e normalmente estão prontas para negociar os volumes que as fabricantes não conseguem colocar no mercado”. Neste ano, mesmo com as filas de espera no varejo, o segmento tem recebido sua cota de carros.