Em São Paulo, varejo de autopeças apresentou crescimento de 6,8% no último levantamento da Fecomercio
Lucas Torres
Desde o segundo semestre de 2014 consumidores e empresários dos mais diversos setores econômicos do país vêm se acostumando com a negatividade diária das notícias relacionadas às áreas de seus interesses.
Esse clima de depressão geral causado pela maior recessão do Brasil em sua história republicana parecia não dar sinais de um fim próximo. Entretanto, passados cerca de 18 meses do agravamento da crise, o mercado de reposição independente também já visualiza os sinais de recuperação geral e já anima os investidores do segmento. “Em décadas de atuação no mercado só vi a reposição crescer. Há períodos melhores, outros nem tanto, mas a verdade é que o aftermarket é um setor muito bom para se trabalhar. Infelizmente as pessoas têm o costume de chorar muitas vezes sem razão”, disse recentemente à reportagem do Novo Varejo um importante executivo do setor.
Na reparação, o que se observa são as oficinas cheias. Confirmando a expectativa do presidente do Sindirepa Nacional e do Sindirepa-SP, Antônio Fiola, o movimento não caiu, mas sim o tíquete médio. Na prática, as pessoas continuam reparando seus veículos quando necessário.
Ainda é cedo para dizer que o país vive um bom momento na economia – pelo contrário, a crise está longe de ser vencida, apesar dos crescentes sinais de recuperação da economia – mas os reflexos da possível inauguração de um momento melhor na reposição já podem ser sentidos na ponta da cadeia. Empresas como a Bono Pneus, radicada na cidade de Campinas (SP), apresentam balanços positivos. Segundo seu diretor operacional, Aparecido Bueno, o crescimento dos negócios está em torno de 10%, resultado, para ele, impulsionado pela exploração adequada de uma nova estratégia de viagem adotada pelos brasileiros: a substituição do transporte aéreo por rotas feitas em automóvel.
“Assim, a manutenção dos carros se torna necessária e constante, já que o desgaste com o uso também aumenta”, pontua. Além disso, Bueno cita a queda de 25% na venda de veículos novos este ano como razão para o aquecimento no setor de reparação.
Ventos favoráveis sopram no varejo
Os índices positivos das oficinas mecânicas parecem também a contagiar o varejo de autopeças – sobretudo no estado de São Paulo. No último levantamento divulgado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o faturamento real do varejo paulista apresentou retração de 4,5% no mês de maio em relação ao mesmo período de 2015. O setor de autopeças e acessórios, entretanto, teve o expressivo crescimento de 6,8%, destacando-se de outros segmentos como eletrodomésticos; vestuário e calçados; e materiais de construção.
Para Anderson Gurgel, professor de economia do Mackenzie de São Paulo, a maior atividade das oficinas mecânicas deve, naturalmente, seguir impulsionando a melhora de resultados no varejo de autopeças.
Seguindo o tom de otimismo, Gurgel prevê que a tendência geral de retomada suba cadeia acima. “É normal que o varejo seja o primeiro a sentir a melhora dos índices das oficinas, pois é ele quem mantém relação direta com o mecânico. Já a indústria leva, por vezes, até um semestre para sentir os efeitos da movimentação do consumidor final”, afirma o professor, que complementa: “é preciso levar em conta a questão dos estoques quando se fala da relação indústria-distribuidor-varejo. Além disso, é preciso que se identifique um padrão de recuperação para que a indústria retome a normalidade de suas atividades, pois um aumento de produção prematuro pode ocasionar milhões em prejuízos”, conclui.
Um case de sucesso
Empresa de reparação adota estratégias uteis também para os varejistas
Diretor operacional da Bono Pneus, Aparecido Bueno, dá dicas importantes para que empresários orientem seus negócios rumo ao crescimento.
Qual estratégia a empresa adotou para crescer em meio ao cenário de incertezas?
Intensificamos as ações de marketing e desenvolvemos estratégias para os pontos de venda; ampliamos o número de parcerias com empresas e serviços como o Sem Parar para a instalação do sistema de pagamentos eletrônicos de pedágios e estacionamentos em veículos; também aumentamos os anúncios em sites de compras coletivas, entre outras ações.
A Bono já sente os efeitos da mudança de humor do consumidor?
Já percebemos certo otimismo no mercado e acredito que o ano de 2017 deve ser de retomada e crescimento da economia. No nosso setor, o segundo semestre geralmente apresenta melhores resultados já que os consumidores estão pensando nas férias do final do ano, tem o 13º salário e não existe IPVA, IPTU, rematrícula de escolas, ou seja, os gastos obrigatórios nos primeiros meses do ano.
Qual é a chave para se manter competitivo durante os períodos de crise?
Para esses períodos é necessário um conjunto de medidas com a diversificação das ações de marketing; análises constantes dos movimentos dinâmicos do varejo; atenção às mudanças de cenário e conhecer o mercado em que está inserido.










