Mariana Missiaggia no Diário do Comércio
No início do ano, o iFood foi autorizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a fazer entregas por drone no Brasil. A liberação é inédita no país e, por ora, os drones farão apenas parte do trajeto levando os pedidos até uma área específica e segura para pousos e decolagens – chamada de droneporto ou dronepoint, em inglês. Lá, o pedido é coletado por um entregador do iFood que o transporta até o cliente.
A novidade retrata bem um cenário de consumo cada vez mais variado e permeado de experiências tecnológicas com ajuda de serviços móveis de alta qualidade.
Com as compras no digital acontecendo a passos largos, a presença do 5G no país deve gerar oportunidades ao varejo que ainda são pouco ou nada exploradas.
Muitos acreditam que o 5G seja o grande responsável pelo futuro do varejo. Será que é isso mesmo?
A Quinta Geração da internet móvel representa grandes melhorias, como a evolução na velocidade e capacidade de conexão. Isso porque o 5G se baseia em três fundamentos básicos: velocidade de 1 Gigabite por segundo, capacidade da rede que pode suportar até 1 milhão de dispositivos por quilometro quadrado e baixa latência, ou menor tempo de resposta (abaixo de 1 milissegundo).
Países da Ásia, como China e Coréia do Sul, já usufruem de servidores que permitem essa navegação ultra rápida para pessoas e coisas. Entretanto, o que temos até agora no Brasil (e na maior parte do mundo) é apenas a teoria.
Apesar de parecer simples, a implantação dessa inovação é bem burocrática. A instalação de infraestrutura – estações de rádio base, antenas e torres que transmitem o sinal da operadora para os celulares – depende de leis que mudam de cidade para cidade e deixam esse processo mais longo.
Para ilustrar, acredita-se que a demanda do 5G exigirá de quatro a cinco vezes mais antenas do que as que estão instaladas atualmente, bem como mais roteadores e muito investimento.
Mesmo assim, José Barletta, diretor de soluções e tecnologia da Worldline América Latina, aponta que é dever de todos trabalhar para que essa jornada de evolução e inovação seja a mais rápida possível. Falando em varejo, o especialista acredita que lojista e consumidor final terão vantagens com o 5G.
“A adoção de novas tecnologias para aprimorar a experiência dos clientes deve ser encarada como uma ação constante – e que não pode ficar restrita ao que acontece até o momento de se levar o carrinho até o caixa”, diz.
Tamanho poder nas mãos do consumidor contribui diretamente para o desenvolvimento do setor. Dentre as inúmeras melhorias em nosso cotidiano, Barletta destaca que os pagamentos feitos em lojas físicas e on-line, por exemplo, devem chegar a um patamar frictionless (sem atrito, em português) com a implementação de soluções com biometria, pagamentos sem cartão, uso de reconhecimento facial, aplicativos para o autoatendimento, via smartphone, entre outros.
Na prática, toda essa inovação proporciona maior conectividade e transferências de dados, rapidez na comunicação, mais facilidade para visualizar produtos e finalizar compras, menor instabilidade na rede, facilidades nos processos de pagamentos – são muitas as eficiências esperadas e que devem impactar diretamente na tomada de decisão.
Na outra ponta, a implementação da Internet das Coisas, com a conexão de aparelhos domésticos aos smartphones, promove experiências imersivas que devem ser aceleradas pelo 5G. O consumidor poderá, por exemplo, visitar uma loja virtual, “tocar” os produtos, comprar e pagar dentro do ambiente de realidade virtual, criando uma experiência única ou até receber mercadorias por drones.
Veja, de forma resumida, outros impactos esperados do 5G no varejo em geral:
– Evolução na questão técnica, como a velocidade de transmissão de dados. Fala-se no dobro da velocidade que o 4G oferece atualmente.
– Baixa latência, ou seja, uma redução significativa de tempo entre o momento que se dá início a um comado e a resposta disso. Isso pode fazer muita diferença em uma operação de compra on-line. Segundo um relatório da ReadyCloud, páginas que demoram a carregar, principalmente na hora do checkout, podem aumentar o abandono de carrinhos em 75% e derrubar a lealdade em 50%.
– Maior possibilidade de conectar mais dispositivos em uma mesma rede sem perder velocidade e qualidade.
– Maior eficiência energética, ou seja, economia de bateria de equipamentos.
– Maior acesso a celulares e outros dispositivos da casa do consumidor, como geladeira e televisão. Fala-se muito nesse tipo de tecnologia (Internet das Coisas), mas ainda não há qualidade na proposta de utilizar a internet para comandar dispositivos da casa.
– Maior uso de realidade aumentada e virtual na experiência de compra, que ainda é utilizada de forma muito inicial no varejo.
– Maior presença e uso de live commerce.
– Ascensão do metaverso e de maior interação entre as empresas e consumidores no cenário digital.
– Mais espaço para o uso de drones para a entrega de mercadorias e o aumento de dronepoints.