O tema central da indústria da mobilidade em todo o mundo hoje é a descarbonização. A solução encontrada por parte significativa dos países para atingir as metas de zerar as emissões veicula – res de CO 2 na próxima década é a eletrificação da frota. Solução esta que traz inúmeras contradições. Entre elas a estrutura necessária para recarregamento das baterias e – de forma mais imediata – e lentidão com que vem ocorrendo a troca dos motores a combustão pelos propulsores elétricos.
Neste Novo Varejo já tratamos inúmeras vezes da vantagem que o Brasil apresenta sobre a maioria das outras nações. Desde 1975, desenvolvemos e aprimoramos tecnologias para mover nossos veículos com o etanol. Mas, não basta ter a tecnologia: é preciso ter o combustível, o que exige ampla área agricultável, questão que se tornou polêmica desde a criação do Proálcool. Todas estas questões foram debatidas em junho no seminário “Brasil em Movimento: Segurança Energética e Alimentar – As rotas para o sucesso dos biocombustiveis e da bioeletrificação”, promovido pelo Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCBrasil), realizado em 16 de junho, em São Paulo.
O encontro reuniu representantes do setor público, Governo, iniciativa privada e academia, e marcou a apresentação do estudo “Biocombustíveis como solução imediata e eficaz para a descarbonização do trans – porte”, conduzido pela Professora Doutora Glaucia Souza, da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Programa BIOEN da FAPESP. O estudo ratificou o que tem sido demonstrado no ambiente do Aftermarket Automotivo: o Brasil não precisa esperar por inovações tecnológicas futuras para reduzir as emissões no transporte. Também esclareceu que a bioenergia já corresponde a 50% dos recursos renováveis globais e os biocombustíveis são vitais para conter o aquecimento global, com necessidade de expansão de 2,5 vezes até 2030. Isso representaria um corte de quase 800 milhões de toneladas de CO 2 fóssil, ou 10% das emissões globais atuais do transporte. “O Brasil tem um potencial imenso para liderar a descarbonização do transporte. Temos a tecnologia, a capacidade produtiva e um histórico de sucesso no uso de biocombustíveis. Transformar esse potencial em ação, tanto no campo dos biocombustíveis quanto na bioeletrificação, é uma questão de estratégia e compromisso”, disse José Eduardo Luzzi, coordenador do Conselho de Administração do MBCBrasil – veja entrevista exclusiva com ele no Jornal Novo Varejo Automotivo na edição digital 466.
O estudo também rebate uma das críticas mais comuns ao uso de biocombustíveis: a suposta competição com a produção de alimentos. Segundo Glaucia Souza, os dados analisados mostram que essa correlação não se sustenta cientificamente: a agricultura pode, em paralelo, prover biomassa para vários produtos, por exemplo, alimentos, biocombustíveis, bioeletricidade, outros usos e reciclar os resíduos.
Além disso, práticas agrícolas como o cultivo duplo têm mostrado que a agricultura pode contribuir para chegarmos à neutralidade de carbono, melhorando a eficiência do uso da terra e promovendo cobenefícios como a biodiversidade e o sequestro de carbono no solo. “Os biocombustíveis, quando produzidos de forma sustentável, podem ser um motor de desenvolvimento e potencializar a sustentabilidade do setor agrícola, abrindo novos mercados e valorando a nossa produção”, destacou.
Transição
Em 2024, o G20 acordou um conjunto de princípios para transições energéticas justas e inclusivas com a seguinte recomendação: “Ressaltamos o papel crucial de abordagens tecnologicamente neutras, integradas e inclusivas para desenvolver e implantar uma variedade de energias de baixa emissão, combustíveis e tecnologias sustentáveis, inclusive para redução e remoção, gestão de carbono e redução.










