O Sindipeças e a Abipeças se manifestaram nesta quinta-feira, 10 de julho, sobre o anúncio feito no dia anterior pelo presidente Donald Trump, que decidiu taxar em 50% a partir de 1º de agosto “todos e quaisquer produtos brasileiros enviados para os Estados Unidos, desvinculados de todas as Tarifas Setoriais”, conforme carta enviada ao Governo Brasileiro.
Segundo as entidades “o novo aumento, para 50% do imposto de importação, anunciado ontem pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terá efeitos danosos para toda a economia brasileira. As entidades que representam a indústria de autopeças no Brasil, Abipeças e Sindipeças, aguardam a publicação da nova legislação norte-americana para estudar os efeitos sobre as exportações do setor para aquele mercado. E apoia integralmente a manifestação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que representa todos os setores industriais no País”.
SUPERÁVIT
As exportações brasileiras de autopeças para os Estados Unidos responderam no período de janeiro a maio de 2025 por 15,9% do total de componentes automotivos vendidos para o exterior. Com isso, o país se coloca na segunda posição do ranking relativo ao setor.
Este índice é maior do que o total de produtos exportados – portanto, considerando todos os setores de nossa economia – pelo Brasil para a nação norte-americana no ano passado: cerca de 12%. Trazendo o foco para as informações mais recentes disponíveis, em junho as exportações totais para os Estados Unidos mostraram alta de 2,4% e somaram US$ 3,36 bilhões. As importações cresceram 18,5% e chegaram a US$ 3,96 bilhões. Assim, a balança comercial com este parceiro comercial resultou num déficit de US$ -0,59 bilhões e a corrente de comércio registrou aumento de 10,5%, alcançando US$ 7,32 bilhões. No acumulado de janeiro a junho 2025, em relação ao mesmo período do ano passado, as exportações para os Estados Unidos cresceram 4,4% e atingiram US$ 20,02 bilhões. As importações cresceram 11,5% e totalizaram US$ 21,70 bilhões. Dessa forma, neste período, a balança comercial para este país apresentou déficit de US$ -1,67 bilhões e a corrente de comércio aumentou 7,9% chegando a US$ 41,72 bilhões – os números foram consolidados pelo Governo Brasileiro.
Voltando às autopeças, em comparação aos cinco primeiros meses de 2024, o volume de produtos exportados caiu -6,5% em faturamento, passando de US$ 564.886.592 para US$ 528.244.282. Assim como ocorre com a balança comercial brasileira como um todo, a relação de comércio exterior das autopeças com os Estados Unidos é favorável aos norte-americanos: até maio último, o Brasil importou US$ 986.566.463, volume que igualmente garante à terra do Tio Sam a segunda posição no ranking, com 10,4% de participação e alta de 9,7% em comparação ao mesmo período do ano passado.
Os dados – divulgados no último boletim do Sindipeças – confirmam que, assim como ocorre com o total da balança comercial entre os dois países, também no setor de autopeças o resultados é bastante favorável aos Estados Unidos. Veja na edição 470 do Novo Varejo Automotivo as informações completas sobre a balança comercial de autopeças.
Um dos argumentos usados por Donald Trump em sua carta para justificar, nesta quarta-feira, 9 de julho, a tarifação de 50% sobre todos os produtos brasileiros foi um falso déficit comercial em prejuízo de seu país. O fato é que temos visto desde janeiro que o presidente dos Estados Unidos comumente falta com a verdade e não utiliza critérios técnicos para governar – e muito menos para gerir suas relações com os parceiros comerciais, costumeiramente agredidos por sua metralhadora giratória. Ao mesmo tempo, muitos anúncios anteriores a respeito de políticas tarifárias não passaram de bravatas, revistas antes do início da vigência. Sendo assim, resta aguardar o andamento de eventuais negociações entre os dois países nos próximos 20 dias, até 1º de agosto, para confirmar o índice, que se efetivamente implementado certamente inviabilizará a maioria dos negócios.
Cabe citar, finalmente, que o movimento de Donald Trump pode resultar em valorização do dólar frente ao real, que traria também impactos em nossas importações, aí globalmente.
A CNI – Confederação Nacional da Indústria, emitiu uma nota oficial na própria quarta-feira. Para a entidade, não há fato econômico que justifique tarifas de 50% e é preciso preservar relação comercial com os EUA. Veja a íntegra:
“A imposição de 50% de tarifas sobre o produto brasileiro por parte dos Estados Unidos foi recebida com preocupação e surpresa pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a instituição, a prioridade deve ser intensificar a negociação com governo de Donald Trump para preservar a relação comercial histórica e complementar entre os países.
“Não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas sobre o Brasil do piso ao teto. Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. Por isso, para o setor produtivo, o mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão”, avalia Ricardo Alban, presidente da CNI.
Brasil e Estados Unidos sustentam uma relação econômica robusta, estratégica e mutuamente benéfica alicerçada em 200 anos de parceria. Os EUA são o 3° principal parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira. O aumento da tarifa para 50% terá impacto significativo na competitividade de cerca de 10 mil empresas que exportam para os Estados Unidos.
Resultados preliminares de consulta realizada pela CNI indicaram que um terço das empresas respondentes que exportam bens e/ou serviços aos EUA tiveram impactos negativos nos seus negócios. O levantamento foi realizado entre os meses de junho e início de julho, ainda no contexto da tarifa básica de 10% e demais medidas comerciais setoriais.
A CNI reforça a importância de intensificar uma comunicação construtiva e contínua entre os dois governos. “Sempre defendemos o diálogo como o caminho mais eficaz para resolver divergências e buscar soluções que favoreçam ambos os países. É por meio da cooperação que construiremos uma relação comercial mais equilibrada, complementar e benéfica entre o Brasil e os Estados Unidos” destaca Ricardo Alban.
EUA têm superávit de US$ 256,9 bi com Brasil
Ao contrário da afirmação do governo dos Estados Unidos, o país norte-americano mantém superávit com o Brasil há mais de 15 anos. Somente na última década, o superávit norte-americano foi de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens. Incluindo o comércio de serviços, o superávit americano atinge US$ 256,9 bilhões. Entre as principais economias do mundo, o Brasil é um dos poucos países com superávit a favor dos EUA.
A CNI aponta que a entrada de produtos norte-americanos no Brasil estava sujeita a uma tarifa real de importação de 2,7% em 2023, o que diverge da declaração da Casa Branca. A tarifa efetiva aplicada pelo Brasil aos Estados Unidos foi quatro vezes menor do que a tarifa nominal de 11,2% assumida no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Nova medida impacta relação de forte complementariedade econômica
A tarifa afeta a economia americana. O relacionamento bilateral é marcado por complementariedade, isto é, o comércio bilateral é composto por fluxos intensos de insumos produtivos. Na última década, esses bens representaram, em média, 61,4% das exportações e 56,5% das importações brasileiras.
A forte integração econômica entre os dois países é evidenciada pelas 3.662 empresas americanas com investimentos no Brasil e pelas 2.962 empresas brasileiras com presença nos Estados Unidos. Os Estados Unidos foram o principal destino dos anúncios de investimentos greenfield brasileiro no mundo entre 2013 e 2023, concentrando 142 projetos de implantação produtiva.
As exportações brasileiras para os EUA têm grande relevância para a economia nacional. Em 2024, a cada R$ 1 bilhão exportado ao mercado americano foram gerados 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção no Brasil. Portanto, o aumento da tarifa de importação americana para 50% impacta diretamente a economia brasileira e abala a cooperação com os EUA.










