Crimes home office, sucesso absoluto -

Crimes home office, sucesso absoluto

O leque infinito de possibilidades abertas por um planeta conectado digitalmente amplia a distância entre a capacidade criativa dos bandidos e o tempo de reação das autoridades.

Era uma manhã qualquer de 1974. Eu, singelamente, brincava com minha irmã no quarto quando nossa mãe entrou afobada pela porta e, literalmente, despachou as duas crianças ainda pequenas pela janela com a orientação de pedir ajuda para que o vizinho chamasse a polícia. Dentro de casa, um ladrão armado com revólver fazia ameaças em busca de dinheiro. A cena ocorreu há mais de 50 anos e foi, até onde consigo me lembrar, meu primeiro contato real com a criminalidade.

Os invasores de domicílio jamais deixaram de existir – assim como os chamados “ladrões de galinhas”, pródigos em pequenos furtos. Seguindo conceitos dos novos tempos, poderíamos até chamar tais modalidades de “crimes presenciais”. Mas, ao longo de décadas, a subtração dos bens alheios ganhou complexidade e muita – mas muita mesmo – sofisticação.

No exato momento em que digitávamos estas mal traçadas linhas, o Brasil conhecia a maior fraude bancária digital de sua história, com ataque hacker a um prestador de serviços do Banco Central e prejuízo anunciado de até 800 milhões de reais. Sem qualquer possibilidade de contestação, a tecnologia digital trouxe ganhos inestimáveis à sociedade.

Ao mesmo tempo, abriu portas até então inexistente para aqueles que usam a própria genialidade para criar meios tão brilhantes quanto ilícitos para aplicar os mais surpreendentes golpes em instituições financeiras, empresas e pessoas físicas, em geral despreparadas para enfrentar tais modalidades de assédio. E, para aumentar esta complexidade, os golpes online podem ocorrer a partir de outros estados ou países. A evolução tecnológica proporcionou a comodidade dos crimes home office”.

O setor automotivo, como qualquer outro, está diariamente sujeito à perspicácia dos gatunos. Já citei anteriormente neste espaço editorial uma reportagem que publicamos no Novo Varejo em 2016 relatando a incrível aventura vivida pelo jornalista Andy Greenberg, da revista norte-americana Wired, especializada em ciência e tecnologia.

O carro que ele dirigia a 110 km/h subitamente sofreu um corte na transmissão e parou em local de risco na estrada. Assustado, o motorista se deparou com a imagem alegre de dois pesquisadores na tela da central multimídia que, sentados em um sofá distante 16 quilômetros da cena, precisaram apenas de um laptop e uma rede de internet sem fio para invadir o carro e assumir o comando de diversos sistemas veiculares.

O risco de invasão aos novos automóveis por hackers custou caro ao Aftermarket Automotivo na medida em que serviu de pretexto para que as montadores aumentassem a segurança dos sistemas eletrônicos e, assim, bloqueassem o acesso de scanners para diagnóstico dos carros conectados.

Neste universo dos crimes cibernéticos, ninguém pode estranhar a criação de falsas lojas de autopeças na internet, que vêm ludibriando consumidores e causando prejuízos à imagem dos varejistas estabelecidos. Este é o assunto que tratamos em reportagem de capa desta edição. O leque infinito de possibilidades abertas por um planeta conectado digitalmente amplia a distância entre a capacidade criativa dos bandidos e o tempo de reação das autoridades. O “crime home office” é um território confortável para uma geração de gênios. Um sucesso absoluto.


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