OCDE prevê desaceleração no Brasil mesmo elevando projeção de alta do PIB -

OCDE prevê desaceleração no Brasil mesmo elevando projeção de alta do PIB

Para a organização, o investimento deve perder força em 2026, pressionado por juros elevados, incerteza global e tarifas dos EUA sobre exportações brasileiras
Crédito: Shutterstock

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elevou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2025, mas vê perda de fôlego na virada do ano e mantém o alerta sobre inflação resistente e necessidade de aperto fiscal.

Em relatório divulgado nesta terça-feira, 2/12, a entidade projeta expansão de 2,4% em 2025 e 1,7% em 2026, números ligeiramente maiores que os estimados em junho, de 2,1% e 1,6%, respectivamente. A melhora reflete sobretudo a forte safra agrícola, prevista para crescer 17%, e o impulso do consumo das famílias, apoiado pelo mercado de trabalho aquecido: o desemprego caiu a 5,6%, mínima histórica, e a renda real avança mais de 3%, pontua a OCDE.

Apesar disso, os dados recentes apontam desaceleração, destaca a entidade. O índice de atividade recuou 1,8% desde abril, e vendas do varejo e produção industrial voltaram a cair em setembro. A confiança empresarial também se enfraqueceu.

Para a OCDE, o investimento deve perder força em 2026, pressionado por juros elevados, incerteza global e tarifas dos EUA sobre exportações brasileiras, cujo impacto ainda é limitado graças à diversificação de mercados.

Outro ponto ressaltado é a inflação, que segue acima da meta. O IPCA deve ficar em 5,1% em 2025, ante previsão anterior de 5,7%, recuando para 4,2% em 2026 (ante projeção anterior de 5%) e para 3,8% em 2027. Energia elétrica, alimentos e serviços continuam entre os principais vetores de pressão inflacionária, diz a OCDE.

O documento destaca que expectativas para 2026 e 2027 permanecem acima do centro da meta, de 3%. Com esse quadro, a política monetária permaneceu dura: o Banco Central levou a Selic a 15% em julho, de 11,25% no fim de 2024. A expectativa é que o afrouxamento comece apenas em 2026, com trajetória gradual até cerca de 10,5% em 2027, aponta a organização.

O relatório destaca que um mercado de trabalho apertado e a combinação de salários em alta e déficit fiscal ainda pressionam preços, exigindo manutenção de uma postura “restritiva por mais tempo”.

No campo fiscal, a OCDE vê risco elevado ao cumprimento das metas. O déficit segue “expressivo”, e a dívida bruta – hoje em 77,7% do PIB – deve continuar crescendo. A organização projeta que o indicador avançará para 80,1% em 2026 e 82,2% em 2027. Em junho, as projeções já apontavam deterioração, mas em ritmo ligeiramente menor: a dívida subiria de 76,5% em 2024 para 78,2% em 2025 e 82,2% em 2026.

A instituição reforça que será necessário esforço adicional de consolidação, sobretudo no controle de gastos obrigatórios, para manter a dívida em trajetória sustentável. Uma eventual frustração das metas poderia ampliar a incerteza e prejudicar o investimento.

Mundo 

A economia global mostrou-se mais resiliente do que o esperado este ano, mas fragilidades subjacentes permanecem devido ao aumento das barreiras comerciais e à significativa incerteza política, de acordo com a OCDE.

A organização alerta que os efeitos completos das tarifas mais altas ainda não foram sentidos, mas estão se tornando mais visíveis, especialmente nos EUA. “O crescimento do comércio global se moderou após um forte adiantamento do comércio de mercadorias no início do ano, antes dos aumentos tarifários antecipados, e a inflação ainda não voltou à meta em alguns países. Há também alguns sinais de enfraquecimento da demanda por trabalho entre as economias”, acrescenta.

Por outro lado, a OCDE destaca que políticas macroeconômicas de apoio, condições financeiras melhoradas impulsionadas pelo otimismo sobre o impacto potencial de novas tecnologias e o aumento do investimento e comércio habilitados por inteligência artificial (IA) ajudaram a sustentar a demanda em diferentes graus entre as economias, “amortecendo os ventos contrários da elevada incerteza política e das crescentes barreiras ao comércio”.

Como resultado, a organização manteve as projeções de crescimento do PIB global e espera uma moderação de 3,3% em 2024 para 3,2% em 2025 e 2,9% em 2026, seguido por uma pequena recuperação para 3,1% em 2027.

A OCDE ainda espera que a inflação gradualmente retorne à meta na maioria das principais economias até meados de 2027, bem como reduções nas taxas de juros. Segundo o texto, a perspectiva “permanece frágil”, considerando especialmente as barreiras em torno de insumos críticos, que podem causar danos significativos às cadeias de suprimentos e à produção global.

A organização também alerta que altas avaliações de ativos baseadas em expectativas otimistas de lucros corporativos impulsionados por IA “representam um risco de correções abruptas de preços”. Vulnerabilidades fiscais podem elevar os rendimentos soberanos de longo prazo, apertando as condições financeiras e prejudicando o crescimento”, adverte.

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