Setor automotivo: Como funciona o segmento no Brasil?

A configuração do setor automotivo no Brasil

Entre os diversos elos que compõem a fabricação e venda de automóveis e autopeças, segmento é responsável por 22% do PIB Industrial do país.
O setor automotivo é uma parte importante da indústria do Brasil

A história do setor automotivo nacional se confunde com a própria história da industrialização e urbanização do Brasil.

Foi a partir do desenvolvimento de uma indústria brasileira de automóveis e autopeças que alguns dos presidentes mais influentes do último século – tais como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, que o Brasil passou de um país majoritariamente rural para o bloco dos ‘emergentes’ no âmbito da tecnologia e do desenvolvimento.

Esse papel central nos primórdios da indústria local – em meados da década de 1950, tem se mantido até os dias atuais, 70 anos depois.

Hoje, em 2020, o setor automotivo representa uma fatia aproximada de 22% do PIB industrial. Seu poder de influência sobre a economia, porém, não se restringe ao fato de ser diretamente responsável por uma parcela tão relevante da indústria tupiniquim, mas também por sua ligação intrínseca com diversos outros setores industriais.

Dentre esses segmentos que flutuam na órbita do setor automotivo se destacam setores de aços e derivados, materiais eletrônicos – além de artigos de borracha e plástico.

Considerado pelo Ministério da Economia como um ‘subsetor’ da cadeia automotiva, sobretudo no âmbito das autopeças, o setor de aços e derivados é responsável pela fabricação de insumos indispensáveis para a produção de automóveis e, principalmente, suas peças.

Em termos mais diretos, o que isso significa é que – quanto melhor caminha o setor automotivo, maior a demanda e o sucesso do setor de aço – segmento pertencente àquilo que chamamos de ‘indústria de transformação’.

Pelo alto padrão tecnológico exigido na prática de produção de automóveis e todo o aparato de pesquisa e planejamento que ela envolve, as montadoras de carros tem também ligação direta em áreas como Pesquisa e Desenvolvimento e investe pesado em máquinas, equipamentos e montagem da infraestrutura de produção.

Nesse contexto – é justo dizer que todas essas atividades de pesquisa e produção de tecnologia industrial, engenharia e mecânica, são segmentos indissociáveis do setor automotivo.

Além deles, o mesmo acontece com toda a estrutura de logística – que torna possível que a cadeia de produção automotiva brasileira tenha conexão com pólos tecnológicos e industriais do mundo inteiro, fator indispensável para o funcionamento de uma cadeia de produção em que a maior parte dos players se constituem em empresas transnacionais.

Atual configuração do setor automotivo nacional sob uma ótica globalizada

Já sabemos que o setor automotivo tem um impacto colossal na indústria tupiniquim, desde sua formação até o fato de ser hoje responsável por 22% do PIB industrial local – bem como impactar significativamente outros segmentos de nossa indústria.

É impossível, no entanto, quantificarmos a robustez de tudo que envolve os elos da cadeia de automóveis no país sem números importantes como a quantidade de empregos gerados, faturamento bruto e quantidade de veículos produzidos.

Para melhor traçar a ‘big picture’ desse segmento, levantamos esses dados junto ao MDIC – fonte oficial do Governo Federal no âmbito da indústria, comércio exterior e serviços.

De acordo com o órgão, o Brasil possui atualmente 31 fabricantes – no acumulado que engloba produtores de veículos, máquinas agrícolas e rodoviários.

No mercado de autopeças – unindo os players que produzem para as montadoras e para a reposição automotiva, o chamado aftermarket, o Brasil conta atualmente com 590 fabricantes.

Já no âmbito do comércio de veículos, o país contava com 5.592 concessionárias no último levantamento realizado pelo Governo Federal, em 2017.

Fruto do movimento de descentralização da indústria de automóveis intensificado no final da década de 1990, depois de mais de 40 anos de absoluta concentração na região que ficou conhecida como ‘ABC’ – na Grande São Paulo, 67 fábricas de automóveis e/ou autopeças se distribuem em 11 estados brasileiros, alcançando 54 municípios, e somando uma capacidade produtiva instalada de 5.05 milhões de unidades de veículos.

No ano de 2015, o setor faturou expressivos U$ 59,1 bilhões e exportou U$ 17,9 bilhões – em números que incluem também as autopeças.

Tamanho faturamento gerou a receita de U$ 39,7 bilhões via tributos como o IPI, o ICMS, o PIS, o COFINS e o IPVA em 2015 – bem como possibilitou a criação de 1.3 milhões de empregos entre vagas diretas e indiretas.

Esses expressivos números do setor automotivo interno colocam o Brasil como um dos principais players do planeta: tanto no âmbito da produção de veículos, área em que ocupa a décima colocação mundial atrás apenas de: China Estados Unidos, Japão, Alemanha, Índia, Coréia do Sul, México, Canadá e Espanha; quanto no que diz respeito à comercialização desses veículos – onde está em 8º lugar, ficando atrás de China, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Índia, Reino Unido e França.

Autopeças – um grande setor dentro do ‘mundo automotivo’

As autopeças são um dos componentes vitais do setor automotivo.

Além da produção e venda de automóveis ‘inteiros’, o setor automotivo produz enorme impacto na economia nacional por meio de todos as facetas que cercam o mercado de suas ‘partes’ – as chamadas autopeças.

No âmbito industrial – o segmento é subdividido entre os fabricantes de autopeças de grande parte (nível 1), grupo composto em sua maioria por empresas de capital estrangeiro, e os fabricantes de menor parte (níveis 1 e 2) cuja maioria de seus integrantes são empresas de capital nacional fabricantes de fundidos, estampados, plásticos, artigos de borracha – dentre outros.

Apesar de sofrerem com constante pressão de elos do setor como as montadoras e os próprios fornecedores, os níveis e 2 e 3 constituem a base do setor, por tornarem viável a produção dos sistemistas e das montadoras.

Já os chamados produtores de nível 1, possuem alta competitividade internacional e grande poder de barganha nas negociações comerciais – sentando à mesa, muitas vezes, em igual condição com as montadoras.

Em uma visão geral dessa faceta industrial das autopeças no Brasil, temos – atualmente – 590 empresas que, espalhadas em dez unidades da federação, contam com um faturamento médio na ordem dos US$ 18,8 bilhões,

Somente em 2016, o setor de autopeças gerou em torno de 162,2 mil empregos.

O competitivo mundo dos varejos de autopeças

O varejo de autopeças marca presença no segmento.

Mesmo com seu pouco alcance midiático e, a bem da verdade, contando com uma negligência constante dos formuladores de política pública para o setor automotivo, as revendas ou varejos de autopeças tem sido – tal como o agronegócio – um refúgio para a economia nacional em meio a anos de crises e recessões.

O segmento conta com 35 mil lojas espalhadas pelo território tupiniquim, empregando quase meio milhão de pessoas e movimentando um montante de aproximadamente R$ 25 bilhões por ano no país.

Tradicionalmente um setor que se movimenta em períodos nos quais a venda de carros novos decai pela diminuição do poder aquisitivo do brasileiro e/ou pela diminuição da confiança do consumidor quanto à possibilidade de manutenção da renda – estas empresas possuem ligação próxima com o mercado de reparação de automóveis.

Seus principais clientes são as oficinas mecânicas – nicho que tem hoje cerca de cerca de 100 mil estabelecimentos no Brasil e adquire nos varejos as peças para a reparação dos veículos de seus clientes, sejam eles motoristas individuais ou frotistas de automóveis.

Apesar do relativo sucesso em meio aos seguidos momentos de instabilidade pelos quais a economia tem passado da metade da década de 2010 para cá, as lojas de autopeças estão sendo desafiadas a responder a uma demanda crescente por uma transformação digital que vêm de clientes acostumados com a cultura ‘da internet’.

Por conta disso, essas lojas que – historicamente são controladas por pequenos comerciantes familiares – têm sofrido uma pressão cada vez maior para, segundo estudo da consultoria Roland Berger, se tornarem conglomerados de maior estrutura a partir da junção com elos como a distribuição de peças, de modo que possam aumentar suas capacidades de investimento em áreas como, por exemplo, o comércio eletrônico.

O mesmo estudo da consultoria aponta ainda o crescimento da tendência de que esses conglomerados absorvam também as funções hoje realizadas pelas oficinas de reparação – a fim de responder a demanda do consumidor final por maior agilidade e conveniência.

Essa alteração da dinâmica familiar das lojas de autopeças para um modelo mais ‘estruturado’ que, inevitavelmente exige maior capacidade de investimento, tem atraído o forte interesse do capital estrangeiro.

Tal como acontece em outras áreas do setor automotivo, como na produção de automóveis – por meio das montadoras transnacionais, e na produção de autopeças, a revenda de peças para a reposição automotiva começa a conviver com a concorrência internacional.

Recentemente, a estadunidense Autozone desembarcou no Brasil e já opera com 9 lojas no estado de São Paulo – enquanto planeja uma expansão nacional.

Além desses novos players de fora do país, o varejo de autopeças tradicional também se vê pressionado pelo aumento do interesse de empresas fortes como o grupo DPaschoal – cujo seu braço varejista, a ‘Auto Z’, que atua no comércio eletrônico desde o ano de 1999, tem aumentado seus investimentos em também nas lojas físicas.

Você sabia que as máquinas agrícolas e rodoviárias também compõem o setor automotivo nacional?

Trator da John Deere. As máquinas agrícolas também compõem o segmento de veículos

Poucas pessoas sabem, mas o setor de máquinas agrícolas e rodoviárias também estão oficialmente incluídas no grande escopo do setor automotivo brasileiro.

Isso acontece, aliás, desde o início da consolidação da indústria de veículos local.

Empresas como a Vemag e a Romi – esta última responsável por fabricar, no ano de 1956, o primeiro automóvel local, por exemplo, tem suas origens na indústria de máquinas agrícolas.

Hoje, este setor conta com um número grande de fabricantes no país e congrega as indústrias que se dedicam à fabricação de máquinas autopropulsadas concebidas para a execução de tarefas como a pavimentação de estradas, vias públicas e outras atividades ligadas À construção civil.

De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), pouco mais de 54 mil máquinas agrícolas e rodoviárias foram fabricadas no ano de 2016 – produção possibilitada por um corpo trabalhador que gera mais de 16 mil empregos diretos.

Entre as máquinas fabricadas pelo segmento das máquinas destinadas à construção civil se destacam equipamentos como retroescavadeiras, tratores de esteira e motoniveladoras – bem como, mais especificamente no âmbito agrícola, têm destaque a produção de máquinas necessárias para o preparo do solo, plantio e colheita, como tratores de rodas, colheitadeiras e pulverizadores.

Essa relação aproximada com o mercado agro nos dá uma dimensão ainda maior daquilo que representa o setor automotivo, em sua totalidade, para a economia nacional. Já que, apesar do alto nível de urbanização do país, o agronegócio tem ainda hoje peso importante para o PIB, sobretudo pelo impacto que produz sobre a balança comercial.

Já no que diz respeito aos componentes rodoviários, a indústria do setor se responsabiliza pela fabricação de reboques, semi reboques e carroceria sobre chassis – gerando cerca de 35 mil empregos diretos e indiretos e sendo responsável pela fabricação de implementos que transportam cerca de 60% de toda a carga brasileira, percentual que simboliza o protagonismo do transporte rodoviário como o principal modal de locomoção do país.

Em 2016, este setor de produção de implementos rodoviários produziu cerca de 88 mil equipamentos – menos da metade de sua capacidade de produção de aproximadamente 215 mil por ano. Ainda assim, faturou na ordem de R$ 4.2 bilhões.

O ‘puxadinho’ dos pneumáticos

Os pneumáticos é uma espécie de 'puxadinho' do setor.

Apesar de não ser considerado um componente oficial do setor automotivo brasileiro, o segmento dos pneumáticos funciona como uma espécie de ‘puxadinho’ do segmento – já que 63.4% da produção do setor se destina ao mercado de reposição automotiva e à rede de revendedores. Além disso, conforme dados da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) – outros 18.2% da produção da indústria são absorvidos pelas montadoras de automóveis.

Atualmente, este setor de pneumáticos conta com 20 fábricas, pertencentes a 12 empresas diferentes, instaladas no país – e se distribuem nas regiões sudeste, sul, nordeste e norte.

O sudeste conta com 11 – sendo nove delas estado de São Paulo e outras duas no Rio de Janeiro.

A região vem na sequência com cinco, abrigando três no estado do Paraná e duas no Rio Grande do Sul.

O estado da Bahia concentra todas as três fábricas de pneumáticos localizadas na região nordeste; enquanto o Amazonas conta com a fábrica solitária da região norte.

Com esses dados você pode ver o tamanho do setor automotivo no Brasil. Os diferentes segmentos que o formam o transformam em um das principais áreas industriais de nosso país.


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