Aftermarket gaúcho começa a contabilizar o tamanho do prejuízo -

Aftermarket gaúcho começa a contabilizar o tamanho do prejuízo

Estudos inéditos da Fraga Automotiva quantificam perdas na reparação e no comércio de autopeças

A tragédia que assola o Rio Grande do Sul desde o fim do último mês de abril está longe de arrefecer. No entanto, o fato da água ter baixado em boa parte das cidades do estado, com destaque para Porto Alegre e a sua região metropolitana, já permite que alguns dos prejuízos tangíveis sejam contabilizados.

Nesse contexto, em live realizada na manhã desta quarta-feira, 29/05, a Fraga Inteligência Automotiva traçou o atual cenário do aftermarket automotivo local de uma maneira muito mais palpável daquilo que o mercado conhecia até então.

No início da apresentação, a Fraga contabilizou números que traduzem os impactos da enchente na frota circulante do estado gaúcho. “Com pouco mais de 4.5 milhões de veículos, a do Rio Grande do Sul é a 4ª maior do país. Deste total, no entanto, projeta-se que 269 mil veículos já estejam inutilizados – sendo, dentre eles, 196 mil carros de passeio”, afirmou Danilo Fraga.

De acordo com os apresentadores do evento, Fraga e Hugo Mayson, além de levantar questionamentos sobre o tamanho do impacto deste ‘mar de sucata’ na demanda do aftermarket, o cenário coloca questões ambientais no centro. Afinal, para onde irão as partes descartadas? Uma pergunta significativa, sobretudo levando em conta o atual momento em que lixo nas ruas significa maior chance de entupimento de bueiros e etc.

Para além dessas questões mais evidentes a olho nu, porém, a live da Fraga trouxe atualizações inéditas a respeito dos efeitos da enchente nas empresas dos elos que estão na ponta do aftermarket: a reparação, o varejo e a distribuição.

Reparação

O que você pensaria se dissessem que 4,2% das oficinas do país foram impactadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul? Pensaria que este número signifca muito ou pouco?

Bom, para auxiliar a resposta da audiência, a live da Fraga Inteligência Automotiva contextualizou a proporção das oficinas gaúchas no espectro nacional.

Segundo os números da empresa, o território gaúcho concentra 8% das 102 mil oficinas espalhadas pelo Brasil. Isso significa dizer que cerca de metade dos mais de 8 mil estabelecimentos de reparação automotiva do Rio Grande do Sul foram impactados. Ou seja, mais de quatro mil empresas!

Para oferecer uma ideia ainda melhor do tamanho do estrago feito pelas enchentes no estado sulista, a apresentação quantificou este impacto em números de faturamento.

Segundo o levantamento, as oficinas localizadas nas áreas alagadas somam juntas, em faturamento agregado anual, um montante de 820 milhões.

Para além da tarefa de aferir os prejuízos, a apresentação da Fraga estimou o montante necessário para reconstruir o ecossistema de reparação gaúcho.

Segundo o levantamento, para cobrir gastos com ferramentas e equipamentos, bem como com reformas de escritório, as empresas terão de gastar um montante médio de 115 mil – valor que, somando-se o total das oficinas afetadas, chega a um total de R$ 455 milhões.

Tão grave quanto isso é, claro, a diminuição de faturamento decorrente da supressão de demanda e fase de recuperação das empresas. Afinal, isso significa que as oficinas terão um montante menor do que o comum para se reerguerem, já que serão necessários até 10 meses para que o faturamento seja normalizado.

Cenário exige ajuda governamental

Ao refletir sobre o tamanho do prejuízo nos diferentes nichos do aftermarket afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, a live da Fraga Inteligência Automotiva listou algumas das ações indispensáveis do poder público no sentido de resgatar a viabilidade das empresas do setor. Algumas das medidas sugeridas foram:

– Suspensão/Subsídios a pagamentos de juros e impostos

– Prorrogação de prazos de pagamento

– Aumento de limites de financiamento

– Acesso rápido e facilitado a crédito

– Perdão ou suspensão temporário do pagamento de dívidas

– Programas de manutenção de emprego e renda

– Antecipação de benefícios à população

– Antecipação de férias e disponibilização de teletrabalho

Construção de estoques reguladores de materiais básicos

– Suspensão de frete mínimo

Varejo e Distribuição

Se os impactos da tragédia gaúcha foram enormes na reparação, na distribuição e no varejo eles também foram gigantescos.

De acordo com o levantamento da Fraga Inteligência Automotiva, 497 dos 935 estabelecimentos dos segmentos residentes no Rio Grande do Sul foram afetados pelos alagamentos – o que faz com que, juntos, todos eles representem um faturamento agregado anual de R$ 2,11 bilhões.

Além do comprometimento do faturamento, porém, varejo e distribuição carregam com eles um problema tão ou mais dramático: a perda de estoques.

Segundo Danilo Fraga, boa parte das peças que ficaram imersas na água se tornam irrecuperáveis causando um prejuízo estimado – apenas no âmbito dos estoques – na R$ 380 milhões. “Cada empresa teve, em média, um prejuízo de R$ 766 mil em perda de produtos estocados”, afirmou – antes de complementar.

“Para além de tudo isso, é importante ressaltar o prejuízo que essas empresas terão se estimarmos os dias sem faturar quanto atravessamos o período de reconstrução. Nesse âmbito, estimamos um valor na casa dos R$ 1,14 bilhões, sendo R$ 666,63 milhões do varejo e R$ 476,35 da distribuição”.

Um dos participantes da live, o diretor da Giros Distribuidora, Henrique Steffen, afirmou que sua empresa foi uma das afetadas pela crise e – por conta do fato da água ter subido a uma altura de 1,2m – a perda nos estoques chegou a 30%.

“O pior de tudo é que não tivemos um respaldo do governo. Esse cenário fez com que várias empresas já tenham até desistido de se reerguerem após a tragédia. Só prorrogação de impostos não vai solucionar o nosso caso”, desabafou Steffen.

Na mesma linha, diretor da distribuidora Auto Pratense, Rogério Colla, mostrou preocupação com os prejuízos advindos de problemas enfrentados por outras empresas. Segundo ele, além das questões internas, seu negócio está tendo que lidar com pedidos constantes de adiamento de faturas e boletos.

“Já tivemos 205 clientes nos solicitando a prorrogação de débitos. Isso significa mais de 4 mil boletos”, compartilhou Colla, antes de complementar com uma visão mais ampla da conjuntura.

“Não sabemos ainda a dimensão que a crise terá no nosso setor. Quem fala em R$ 380 milhões em mercadorias perdidas pode errar, mas errar para baixo. De onde virá a reposição de estoque? Não estamos recebendo mercadoria. Os fabricantes conseguirão suprir?”.

Por fim, o diretor da Auto Pratense levantou um tema que deve preocupar todo o aftermarket no futuro próximo: o possível uso clandestino de peças que ficaram imersas durante as enchentes.

Em alerta a todo mercado, Colla afirmou que esses produtos podem ir para desmanches ou vendedores paralelos de todo o Brasil – prejudicando, inclusive, a segurança veicular.


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