Arrefecimento da economia mundial deve reduzir comércio exterior -

Arrefecimento da economia mundial deve reduzir comércio exterior

De Xangai a Hamburgo, principais portos do mundo já sentem os efeitos desse cenário. Economista considera conjuntura preocupante

O clima de recessão e baixo crescimento ao qual nós – brasileiros – estamos nos habituando nos últimos meses parece não ser exclusividade tupiniquim. Embora tenhamos nossos próprios ‘méritos’ nesse cenário, uma análise detalhada da conjuntura mundial mostra que as principais economias do planeta têm funcionado como uma espécie de ladeira capaz de impulsionar nossos indicadores para um poço ainda mais fundo.

De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio global cresceu apenas 2,8% no ano de 2015, taxa que representou o quarto ano consecutivo de crescimento abaixo dos 3% – dado considerado negativamente histórico pela entidade.

Tal situação se reflete nos índices de movimentação dos principais portos do mundo. No “Shangai International Porto”, maior porto chinês, 2015 apresentou queda de 5% em relação ao ano anterior. Situação semelhante à enfrentada pelo porto de Hamburgo, terceiro mais movimentado da Europa, que recuou para o menor patamar em relação ao total de cargas desde 2009.

De acordo com o economista da RC Consultores, Thiago Biscuola, o cenário ainda não pode ser considerado ‘uma crise econômica generalizada’, entretanto o arrefecimento enfrentado pelas principais economias mundiais representa uma situação de perigo iminente.

“A economia americana está num processo de acomodação, só que numa taxa menor de crescimento. A Europa continua em situação frágil, enquanto o BCE deverá manter a política de redução dos juros, aprofundando a taxa em campo cada vez mais negativo. A China e demais emergentes seguem desacelerando. Os riscos de uma turbulência financeira permanecem elevados conforme o crescimento potencial das economias míngua”, pontua Biscuola.

Para ele, o clima de instabilidade política atravessado por Estados Unidos – às vésperas de uma nova eleição presidencial –, Europa, com a possível saída do Reino Unido da Zona do Euro e o agravamento da crise dos refugiados, e China, com a campanha anticorrupção lançada por Pequim recentemente, agravam ainda mais a desaceleração mundial.

Cenário impacta importações brasileiras

Tal desaceleração já está impactando os índices de importação do Brasil. Na avaliação do economista, produtos chineses, como autopeças, por exemplo, – outrora boas saídas para a supervalorização do dólar e do euro em relação à nossa moeda – tendem a se tornar a cada dia menos acessíveis.

“O mundo tem crescido menos enquanto a China se torna cada vez mais cara, seja via apreciação do câmbio ou por meio do aumento dos salários e demais custos. A produção chinesa terá que se voltar cada vez mais para o mercado doméstico”, analisa.

Em relação às exportações, os produtos brasileiros seguirão com boa aceitação no mercado internacional. O problema é que os únicos beneficiados pela manutenção da demanda mundial são os produtores primários brasileiros, ou seja, aqueles que produzem os chamados produtos básicos oriundos da agropecuária.

Ainda no contexto das importações, vale dizer que, embora a demanda internacional seja mantida, a desvalorização das commodities seguirá sendo uma tendência no comércio internacional.

A desaceleração mundial será um fator que pode vir a retardar a recuperação brasileira, principalmente quando falamos dos preços das commodities, que devem permanecer abaixo da média nos próximos anos.

Situação internacional não isenta política econômica nacional

Embora esteja cada vez mais difícil encontrar economias crescendo a índices considerados prósperos no cenário mundial, a situação internacional por si só não é capaz de justificar o momento de recessão pelo qual passa a economia brasileira.

De acordo com Thiago Biscuola, erros estratégicos nos chamados ‘momentos de bonança’ foram fatores determinantes para desestimular quase que por completo a economia brasileira.


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