Baixo grau de automação e infraestrutura de comunicação são desafios para a Indústria 4.0 no Brasil -

Baixo grau de automação e infraestrutura de comunicação são desafios para a Indústria 4.0 no Brasil

Para aproveitar os potenciais da quarta revolução industrial, fabricantes de autopeças e montadoras precisam superar uma série de obstáculos no país

 

Por Claudio Milan ([email protected])

Indústria 4.0 é o termo utilizado para redes dinâmicas envolvendo homem, máquinas, sistemas de informação e empresas em conjunto. A definição foi apresentada por Mauro Toledo, gerente de projetos da consultoria Roland Berger por ocasião de sua apresentação no 6º Fórum IQA da Qualidade Automotiva, realizado no mês de setembro em São Paulo. “Outra forma de introduzir a indústria 4.0, um pouco mais palpável, é comparar com a transformação digital. Isso já está mais na nossa vida, tanto pessoal quanto profissional”, explica o especialista.

Uma das características da chamada “quarta revolução industrial” é a ruptura nos parâmetros de competitividade das indústrias. “Haverá novos ganhadores e novos perdedores”, sentencia Toledo, que completa: “O que enxergamos como questão central é a capacidade de customização em massa que esse novo conceito vai proporcionar. Ele traz novos produtos e novos meios de produção e exige muita atenção”.

Atualmente, vivemos um momento de transição, em que ações rumo à indústria 4.0 já podem ser vistas. No entanto, segundo o gerente da Roland Berger, a verdadeira e plena aplicação do conceito não ocorrerá antes de 2025. E, até lá, o Brasil tem uma infinidade de obstáculos a superar. O primeiro, elencado por Mauro Toledo, é o baixo índice de automação no país. “Temos, ainda, uma média de um robô para cada 10 mil operadores enquanto na Alemanha a media é de 42 robôs para 10 mil operadores. É uma diferença brutal”. Outro gargalo que diz respeito ao Brasil e cujos efeitos sentimos diariamente em nossas atividades é a infraestrutura de comunicação precária. “A cobertura 4G, nos Estados Unidos, alcança 77% do território; no Brasil, apenas 44%. Estamos avançando, mas a questão ainda é um desafio com o qual as empresas têm de lidar”.

 

Conceito exigirá novas habilidades dos profissionais

Segundo dados da Roland Berger, o Brasil é o 114º país em disponibilidade de cientistas e engenheiros. Encontrar mão de obra qualificada é um dos problemas nacionais, em boa parte dos setores – no varejo de autopeças, por exemplo, não é diferente. Para que o país se enquadre nas exigências da indústria 4.0, muito terá de ser feito. É preciso considerar, também, que novas funções surgirão nas empresas e outras serão extintas.

“Na medida em que essa indústria evolui, eu vou ter um baita desafio na área de qualidade, porque o produto simplifica e o desafio da qualidade aumenta. E a barreira, na minha leitura, para enfrentar esse grande desafio é um só: gente”, analisa Letícia Costa, sócia-diretora do Prada Assessoria. A consultora apresenta uma estimativa que merece reflexão. “O setor automobilístico tem hoje, em todo o mundo, cerca de 70 mil engenheiros e vai ter que chegar em 110 mil em 2020. O problema é que as habilidade que eu vou precisar para operar uma industria 4.0 são diferentes daquelas que tem hoje, porque aquelas tarefas rotineiras repetitivas são sujeitas, não totalmente, mas em grande parte à automação. Mas eu vou precisar de novas habilidades em cerca de 60% ou 65% das posições. Então eu vejo um cenário bastante desafiador em que a indústria caminha para uma disrupção muito grande”, prevê Letícia Costa.

 

Transformação digital é demanda para toda a cadeia

Se fabricantes de veículos, sistemas e autopeças caminham para a indústria 4.0, é fato que a cadeia automotiva como um todo precisa apontar para a transformação digital. “A digitalização na indústria automotiva vai impulsionar e elevar o faturamento anual das montadoras a 2,3 bilhões de dólares até 2020. Será preciso ter investimentos na transformação dos negócios para o digital não só nas montadoras, mas em toda a cadeia, passando também pelos clientes e fornecedores”, ressalta Danilo Lapastine, CEO da Hexagon Manufacturing Inteligence. O executivo enumera os desafios e superar os obstáculos a vencer na busca pela transformação digital:


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