Você sabia que existe um grupo para a troca de informações entre balconistas de autopeças? Pois é, batizado de ‘Balconista do Brasil’, ele surgiu durante a pandemia da covid-19 como forma de auxiliar os profissionais do segmento em relação aos desafios do período. Atualmente, o grupo possui 37 participantes no WhatsApp e mais de 800 seguidores no Instagram – contando representantes das cinco regiões do país e de localidades como Portugal e Venezuela. Números significativos para espaços que não só proíbem a participação de profissionais de outros nichos, como desencorajam o debate de qualquer questão que fuja à atividade diária de um balconista de autopeças. Num aquecimento para as comemorações ao Dia do Balconista de Autopeças – 26 de novembro, uma criação do NovoVarejo que hoje faz parte da agenda de grande parte das empresas do aftermarket automotivo – e com o propósito de conhecer a iniciativa em mais detalhes, sobretudo as pautas comuns que movimentam os participantes, conversamos com seu idealizador: o gaúcho Júlio César Sampaio, conhecido como ‘Balconista dos Pampas Entre os diversos temas da entrevista, falamos sobre a percepção dos balconistas sobre a recente norma ABNT, que gerou certa polêmica na classe ao unificar todas as carreiras como vendedores de autopeças. “Posso falar por mim mesmo que esse descontentamento começa pelo nome, já que, por trabalhar há décadas no balcão, tenho um carinho especial pela nomenclatura ‘Balconista de Autopeças’”, afirmou Júlio César. Esse tom honesto e transparente usado pelo ‘Balconista dos Pampas’ na questão foi a marca durante toda a entrevista cuja íntegra você confere agora.
NovoVarejo Automotivo – Quando e como surgiu a ideia do Grupo Balconistas do Brasil?
Júlio César Sampaio – Atuo no mercado de reposição automotiva há mais de 30 anos e com o crescimento e a amplitude do mercado, tenho estado muito motivado a continuar trabalhando em prol do setor. Em 2019 surgiu algo diferente no mundo, que foi a pandemia da covid-19. Nesse período, tivemos de nos adequar e adaptar a novas normativas globais. Até então, eu ainda era um profissional mais analógico, tendo sido preciso buscar notícias e informações sobre como nossos colegas estavam se adequando a essa realidade. Nessa época tivemos aquele movimento de muitas lives, e, diante dos desafios que todos estávamos enfrentando, senti que não poderia ficar de fora dessa tendência – afinal, precisávamos de notícias relacionadas ao nosso ramo de atividade. Foi aí que criei meu perfil profissional @balconistadospampas no Instagram, nome pelo qual sou conhecido por muita gente do mercado na atualidade. Nessa minha atividade digital, encontrei, em Lauro de Freitas, na Bahia, meu amigo e colaborador Diego Rezende. Trocamos informações sobre nossas diferentes culturas e realidades, mas, ao mesmo tempo, compartilhamos questionamentos em comum. Foi desse diálogo que surgiu a ideia de criar um grupo de Balconistas de Autopeças no WhatsApp. Ele começou com 7 colaboradores de algumas regiões do Brasil, mas logo que o trabalho começou a se intensificar, criamos o perfil no Instagram visando abranger outras regiões e todos os elos do mercado de reposição automotiva.
NVA – Quantas pessoas atualmente fazem parte do grupo? Quais localidades do país estão representadas?
JCS – Atualmente estamos com 37 colaboradores no grupo de WhatsApp. Temos colaboradores em todas as regiões do Brasil: Sul, Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte! Além disso, temos duas colaboradoras oficiais em Portugal, bem como – não oficialmente – pessoas na Venezuela e Espanha atuando como auxiliares, trazendo sempre as atualizações do mercado automotivo mundial e participando de feiras automotivas globais.
NVA – Quais são os principais temas discutidos no grupo? Você sente que as dificuldades e cenários enfrentados pelos balconistas das diferentes regiões do país são semelhantes entre si ou existem diferenças significativas de região para região?
JCS – Nosso dia a dia é muito corrido e os assuntos são os mais variados. Mas, entre os assuntos que mais aparecem estão as nossas dificuldades comuns, como disponibilidade de estoque e questões de garantias das peças. Também falamos muito sobre as feiras automotivas. Temos uma linguagem específica e muitas vezes conseguimos sorrir entre tantas dificuldades, pois todos que estão no grupo são apaixonados pelo setor, vestem a camisa e não medem esforços. Temos um grupo de profissionais bastante engajados. Enfim, somos por volta de 65 mil balconistas de autopeças no Brasil e nosso trabalho ainda é uma gota nesse oceano. Mas, aos poucos estamos crescendo e queremos agregar um número cada vez maior de pessoas, pois, como reforça o nosso lema, #juntossomosmaisfortes.
NVA – Como a norma ABNT para os vendedores de autopeças repercutiu no grupo? A maioria está informada? Alguns já buscaram a norma?
JCS – A norma não foi muito bem recebida pela maioria dos colaboradores do grupo. E posso falar por mim mesmo que esse descontentamento começa pelo nome, já que, por trabalhar há décadas no balcão, tenho um carinho especial pela nomenclatura. “Balconista de Autopeças”. Sabemos, porém, que essa é uma realidade e mais importante do que sermos chamados de balconistas, atendentes ou vendedores, o mais importante é estar conectado com o cliente e todas as tendências do mercado. Em resumo, a maioria dos profissionais está informada, mas demonstra pouco interesse em participar, até porque falta incentivo.
NVA – Na sua percepção, como os balconistas do grupo se relacionam com a tecnologia? Muitos deles já exercem suas funções de maneira híbrida? Ou seja, realizam vendas no balcão ao mesmo tempo em que o fazem via canais como o WhatsApp?
JCS – A tecnologia está no nosso dia a dia e a maioria dos balconistas já utiliza aparelhos eletrônicos na sua rotina de trabalho. Muitos estão até mesmo comprando novos equipamentos para tirar fotos e fazer vídeos para postar em suas redes sociais, no perfil da loja e WhatsApp. Essa é uma realidade de todos do grupo. É muito comum, aliás, chegar em uma loja de autopeças e ver o balconista com o celular na mão, fazendo uma consulta, mandando um áudio ou vendo um vídeo.
NVA – O grupo de vocês é bastante restrito e profissionais de outras atividades não podem fazer parte. Qual é a importância dessa confidencialidade para o conforto dos participantes com o que é discutido neste ambiente exclusivo?
JCS – Essa é uma regra interna. Consideramos essa exclusividade necessária e por isso proibimos a participação de palestrantes, representantes comerciais e de fabricantes. Embora saibamos que todos são muito importantes para a nossa categoria, essa exclusividade nos traz uma noção maior de união. Não barramos só pessoas, porém. Também excluímos assuntos como futebol, religião e política. A exclusividade é para profissionais e assuntos relacionados ao dia a dia dos balconistas.
NVA – Por fim, gostaria de te perguntar uma questão conceitual: o que diferencia um balconista de autopeças dos balconistas de outros setores?
JCS – Trabalhar como balconista de autopeças é lidar com uma frota gigantesca e um mercado que não para de crescer. Além disso, é trabalhar com a paixão, já que amar os carros é uma característica do brasileiro. Gostaria de aproveitar a oportunidade e agradecer a toda equipe do NovoVarejo, que sempre valorizou os balconistas de autopeças, trazendo assuntos relevantes a nossa categoria, e um caderno especial dedicado aos balconistas no qual busca sempre ouvir os profissionais de diferentes regiões do país. O tempo é oportuno e aproveito para divulgar o nosso trabalho em andamento chamado Papo de Balcão com lives todas as segundas-feiras, às 20h no Instagram @balconistasdobrasil. Do carro ao caminhão vem com a no Papo de Balcão.