A tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos importados do Brasil pelos Estados Unidos acabou atingindo algo entre 35% e 40% do total de nossas exportações ao país. Pode até haver gatilhos políticos para justificar esta medida absurda; mas ela é, na verdade, uma sanção com motivação mais ampla. Estamos sendo castigados pelo avanço dos BRICS e a imprudência de nosso Presidente ao verbalizar a defesa da adoção de uma moeda única pelo bloco.
Como nossa balança comercial é extremamente favorável aos ‘brothers’, não existem razões técnicas para termos sido contemplados com a maior alíquota entre todas as cometidas mundo afora pelo histriônico mandatário.
Somos hoje testemunhas oculares da história. A ebulição global a que assistimos é transformadora, disruptiva – o xadrez político e econômico dos nossos dias só ganha complexidade. A participação do Brasil em um bloco liderado por duas potências do leste – antagonistas dos norte-americanos, totalitárias e avessas à democracia – representa uma ameaça direta aos interesses dos Estados Unidos, que sempre enxergaram a América Latina como seu próprio quintal.
O tarifaço de Trump pode estreitar as relações comerciais entre Brasil e China. O que, por sua vez, tende a gerar fricção com os empresários brasileiros. Acabamos de testemunhar um forte embate: atendendo a um pedido da BYD, o governo zerou por seis meses o imposto de importação de veículos desmontados e semidesmontados.
Em carta a Lula, Claudio Sahad, presidente do Sindipeças e da Abipeças, manifestou contrariedade à medida. “A questão, neste caso, é o favorecimento de competidores externos, em franca e injustificável desvantagem à produção local”.
As montadoras Toyota, VW, GM e Stellatins encaminharam a mesma queixa ao Presidente da República e a BYD não demorou a responder: “A carta tem o tom dramático de quem acaba de ver um meteoro no céu. O problema não é o meteoro, é que ele está sendo bem recebido pelos consumidores — aqueles mesmos que, por décadas, foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso. Agora, chega uma empresa chinesa que acelera fábrica, baixa preço e coloca carro elétrico na garagem da classe média, e os dinossauros surtam”.
O embate nada mais é do que o recorte de um movimento muito maior. Um mundo que precisa aprender a lidar com o avanço sem volta dos carros elétricos chineses – eles já representam mais da metade das vendas globais no segmento. O desafio será construir relações comerciais justas para ambas as partes.
O Brasil precisa, sim, equilibrar tarifas de importação de carros prontos, desmontados ou autopeças a fim de não prejudicar quem gera empregos no país. A desindustrialização nos tem custado muito caro. Mas, claro, não podemos retroceder ao tempo das ‘carroças’ resultantes de um mercado fechado. Protecionismo gratuito não, justiça tarifária sim.
O eterno país do futuro declarou independência em 1822. Mas, infelizmente, jamais deixou de ser colônia. A reengenharia global bem que poderia nos dar a chance de sermos o quintal de nós mesmos.










