Benchmarking: concorrência da Amazon mudou mercado brasileiro de livros -

Benchmarking: concorrência da Amazon mudou mercado brasileiro de livros

Bernardo Gurbanov relata ruptura drástica no modelo de consignação que era tradicional no país.
Por Lucas Torres

Nos últimos anos, o termo ‘livre iniciativa’ tem se popularizado entre os empresários, que, abraçando a teoria do liberalismo econômico, acreditam que a diminuição das regulações e o incentivo da ampla concorrência são capazes de construir um ambiente de negócios mais saudável e sustentável.

O atual cenário do setor de livros no Brasil, no entanto, tem mostrado que a ‘mão invisível do mercado’ não é assim tão isenta, podendo favorecer o surgimento de cenários em que empresas que têm capital de investimento significativamente superior aos concorrentes caminhem para espécies de monopólios.

Em entrevista exclusiva ao Novo Varejo, o presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), Bernardo Gurbanov, afirmou que o mercado editorial do país tinha no modelo de ‘consignação’ uma prática tradicional acordada entre livrarias e editoras e que a chegada da Amazon, com uma nova política, tem provocado uma profunda crise nas empresas tradicionais.

“O mercado funcionava da seguinte maneira: as editoras cediam os exemplares para a livraria e esta era incumbida de realizar a venda e repassar parte do percentual arrecadado de volta para as editoras. A Amazon chegou com uma política diferente. Por contar com um capital de investimento muito alto, passou a comprar os exemplares e vender por um preço muito mais baixo, já que não precisaria repassar parte do valor.”

E põe capital de investimento nisso: sozinha, a gigante americana tem um faturamento anual quase 40 vezes superior a todo o mercado de livros brasileiro. “A Amazon é uma empresa mundial e, contando todas as operações, fatura em torno de 100 bilhões de dólares anuais. Nosso mercado de livros fatura, em números brutos e não líquidos, no máximo R$ 12 bilhões, sendo muito otimista”, diz Gurbanov.

Esse cenário caracterizado como “concorrência cruel” ajudou a impulsionar uma profunda crise em duas das principais livrarias brasileiras, a Cultura e a Saraiva, que têm dívidas estimadas em R$ 285 milhões e R$ 675 milhões, respectivamente, levando ambas a apresentarem pedidos de recuperação judicial.

À primeira vista, vender livros de maneira antecipada para o varejista pode parecer um grande negócio para as editoras. Mas as grandes livrarias representavam 40% do faturamento dessas empresas, que, com o corte drástico nesse volume, bem como o calote de livros já consignados antes da crise, ficam à mercê das condições impostas pela Amazon.

Nos Estados Unidos, onde a empresa é líder com 41% do mercado, as editoras têm apresentado seguidos manifestos contra as condições impostas por ela, como, por exemplo, o direito de imprimir ela mesma um livro esgotado caso a demanda supere a oferta ou uma regra na qual um livro não pode ser vendido em nenhum outro lugar a um preço mais baixo que o estabelecido pela Amazon.


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