Bons negócios à frente -

Bons negócios à frente

 

Rubens Campos, Vice-Presidente Senior Aftermarket Automotivo Schaeffler América do Sul, comenta os resultados favoráveis da empresa no mercado de reposição e a principal novidade tecnológica que a marca trouxe ao Brasil.

 Novo Varejo – Qual é a principal inovação tecnológica que a Schaeffler trouxe ao mercado brasileiro nos últimos tempos?

Rubens Campos – Uma das novidades mais importantes é a embreagem dupla, que a gente apresentou ano passado na Automec. Já temos quase 120 mil carros na América do Sul rodando com esse sistema. Estamos falando de Fiesta, Ecosport, Focus, Golf, são carros de grande volume. Essa é uma tecnologia que resulta em menos emissão de poluentes, reduz o consumo de combustível e melhora a performance. Para o dono do carro, é como uma transmissão automática, só que quando você está em primeira, a segunda já está pré-engatada. São dois discos no sistema. A embreagem dupla é um produto que proporciona grande performance técnica num componente mais barato que uma caixa automática convencional. Um carro com esse sistema é muito bom de dirigir, não tem trancos. Há muitos modelos ainda no mercado que usam caixas automáticas antigas, de quatro velocidades, que consomem mais combustível e não oferecem o mesmo conforto de uma embreagem dupla.

NV – Como preparar o mercado independente para a manutenção de um sistema avançado como esse?

RC – Primeiro trouxemos para o Brasil um especialista alemão para treinar nossos técnicos. Porque é um sistema bastante complexo, não somente pela parte mecânica, mas também em razão da eletrônica. Em segundo, é importante disponibilizar as transmissões tanto Ford quanto Volkswagen para fazer o treinamento técnico do pessoal aqui ao vivo. Vamos trazer a Sorocaba uma série de mecânicos. Essa é uma fase muito importante, treinar os reparadores da América do Sul porque temos esses carros em diversos países do continente. Esse é um grande negócio para o aftermarket global da Schaeffler, na Europa a embreagem dupla já gera demandas no mercado de manutenção, pois o sistema existe há alguns anos por lá. Com essa tecnologia, você vai de uma embreagem simples, que tem um grande mercado ainda pela frente, para o sistema duplo, mais complexo, que vai requerer do mecânico um trabalho de aprendizado. Isso vai ser muito bom para os reparadores.

NV – Além da exigência de aprimoramento por parte dos mecânicos, que desafios o avanço da tecnologia impõe aos outros elos do mercado?

RC – Vai haver impactos no mercado. Temos novos produtos lançados, itens realmente novos, não se trata de uma atualização da embreagem de um modelo já existente para outro mais moderno. Isso para o distribuidor e o varejo. Normalmente eles estão acostumados a vender aquilo que gira muito. Mas, de repente, eles irão perceber que a venda de uma embreagem como essa nova para o Fiesta vai dar um resultado melhor para o seu negócio. Vai haver uma mudança para toda a cadeia. É um produto complexo, mais caro, e que faz parte dos itens de desgaste natural do veículo. Isso é muito bom para o mercado como um todo. E vale dizer que essa é uma tecnologia exclusiva da Schaeffler, da LUK.

NV – Lançamentos como esse certamente exigem muito investimento em pesquisa e desenvolvimento. A globalização faz com que muitas inovações venham das matrizes e a crise pode agravar esse quadro. Como essa questão vem sendo tratada pela empresa?

RC – A Schaeffler é uma das empresas que mais investem em pesquisa e desenvolvimento no mundo. São 7 mil pessoas envolvidas diretamente com isso. Fora o número de patentes; na Alemanha, se não me engano, a Schaeffler é a segunda empresa em número de patentes e novos produtos por ano. Especificamente no Brasil, temos o InovarAuto. Quando a gente vê novas montadoras – além das quatro tradicionais no país – montando fábricas por aqui fica claro que elas precisam localizar produtos para obter os benefícios legais e ter carros competitivos no mercado. Na Schaeffler temos recebido muitas consultas sobre produtos que a gente nunca fez no país para atender essas empresas e suas aplicações. Por exemplo, muitas peças de transmissão, que na Europa até temos. Alguns carros já fabricados no Brasil têm o powertrain já pronto trazido do Japão ou outro lugar do planeta. Agora essas montadoras estão precisando localizar a produção desses componentes. Nossos engenheiros estão trabalhando nessas solicitações devido ao InovarAuto. O trabalho de engenharia continua. A crise afetou a engenharia na América do Sul? Afetou. Mas o desenvolvimento continua.

NV – O seu comentário é interessante porque, em geral, muitas indústrias de autopeças têm manifestado certa frustração com os resultados do InovarAuto.

RC – Para nós, da Schaeffler, o efeito é positivo. A produção local é necessária para que a montadora conquiste os benefícios fiscais e demais vantagens do programa. Existe uma oportunidade aqui. Vejam o número de montadoras fabricando carros no Brasil. Há, inclusive, modelos premium sendo feitos aqui. Existe mercado, ninguém faz uma fábrica onde não há oportunidades. E quem já está instalado no Brasil há décadas, como a Schaeffler, vai continuar investindo aqui.

NV – Outra tendência que se discute muito é o comércio eletrônico de autopeças. Qual é sua opinião sobre esse canal?

RC – É uma tendência bastante viável no mercado de autopeças, mas acho que no Brasil vai demorar um pouco. A venda pelo e-commerce ainda é bastante baixa. O maior complicador é o desconhecimento do dono do carro quanto à aplicação. Ele simplesmente coloca no site o modelo do carro, o ano, a motorização e o produto que ele precisa. A probabilidade de comprar o produto errado é grande. O número de modelos é muito grande e ainda não temos no Brasil os números de identificação dos veículos, o VIN number, que é o DNA do carro. Com o VIN number ele não erra. Você fala com meu colega nos Estados Unidos ele está vendendo direto para o e-bay ou para o Amazon. No site do Amazon já tem embreagem. Aqui nós temos alguns distribuidores vendendo pela internet, mas acredito que a parte de autopeças é baixa, eles vendem mais som e acessórios. Então, embora seja uma tendência, a peça técnica tem a complexidade da aplicação. Nessa questão a coisa pode pegar. E se o cliente está com o carro parado e diz para o mecânico que vai comprar a peça pela internet, se o item adquirido não for o certo o processo da devolução é muito mais complexo do que quando o mecânico vai ao varejo e troca a peça na hora. Eu ainda acho que a venda eletrônica vai ser feita pelo distribuidor. Já as fábricas não têm a capilaridade e logística para entregar esses produtos.

NV – Qual é o objetivo do lançamento da marca Ruville no Brasil?

RC – É mais um capítulo de inovação. É uma marca da Schaeffler que oferece uma série de produtos para segmentos como undercar, suspensão e motor. Decidimos iniciar pelos veículos premium. Já dispomos de uma boa quantidade de itens no portfólio e já temos os distribuidores parceiros, que acreditaram na marca e vão nos ajudar a colocá-la no mercado.

NV – Em relação ao mercado de reposição hoje, com a crise a venda de carros 0 km é menor, o que em tese beneficia o setor. Qual é a sua avaliação do mercado?

RC – O mercado para as montadoras está bastante complexo. Basta ver o número de concessionárias fechando, foram mais de 1.000 ano passado. Mas a venda de carro usado tem crescido, o que é favorável para o nosso negócio. Como vivemos num país movido a rodas, o aftermarket está bom. Nós fechamos bem o ano passado, crescemos bastante em relação a 2014. Conseguimos alavancar a venda de vários produtos, melhoramos o marketshare de linhas importantes. Em 2016, já tivemos um bom primeiro trimestre e isso não deve mudar. O trânsito continua caótico na maioria das cidades. As pessoas continuam andado de carro – podem até estar deixando de fazer outras coisas, mas não guardaram o carro na garagem. Portanto, creio que o consumo de peças vai continuar em bom nível. E eu não ouço nenhum cliente nosso falando que vai ficar pior que no ano passado. Acredito que para o aftermarket automotivo teremos um ano bom.

NV – A queda na rentabilidade de alguns elos da cadeia de negócios do setor é um problema anterior à crise. É possível recuperar margens no mercado de reposição?

RC – Temos que recuperar. Primeiro porque existe um Custo-Brasil notório. A maioria das empresas não depende apenas do que é produzido aqui. Trazem matéria prima de fora, produtos de fora, então o efeito do dólar alto afeta bastante o custo. Nós tivemos uma inflação de cerca de 10% no ano passado que, de alguma forma, precisa ser repassada. Os custos estão aí. Houve um aumento de custos considerável para as indústrias estabelecidas no Brasil. A conta de chegada está difícil. Só a inflação de mais de 10% já é um índice de dois dígitos considerável. Se você considerar dissídios e outros fatores o resultado em termos de custos é significativo. É preciso, de alguma forma, repassar isso.

NV – Existe alguma mudança de percepção da matriz em relação ao mercado brasileiro, especialmente em razão do quadro político e econômico que enfrentamos hoje?

RC – Infelizmente os números de OE mostram que o cenário é bem diferente do que deveria ser. O Brasil brigava com a Alemanha pela quinta posição no ranking de produção de carros. Hoje caímos. Mas as empresas multinacionais vão tirar o pé e sair do Brasil? Acredito que não. Também não é o caso da Schaeffler, muito longe disso. Mas o Brasil perdeu em importância. Hoje é preciso fazer mais reuniões para explicar o inexplicável. Não vejo a Schaeffler mudar o foco de investimentos, mas é um cenário complexo. Felizmente aqui temos um aftermarket muito forte e exportamos bastante, isso ajuda. Minimiza o fato de a montadora não estar consumindo como poderia. Exportamos também muito intercompany. Isso ajuda no resultado final.

NV – De que forma a empresa se relaciona com o varejo e o que as lojas precisam fazer para vencer as adversidades?

RC – Nós temos um relacionamento estreito com o varejo. Estamos bem posicionados há muitos anos, com um marketshare importante. Vemos que muitas empresas ainda trabalham no sistema familiar, tradicional. Além dos grandes varejos brasileiros que se profissionalizaram, temos também novas empresas de fora que vão crescer na América do Sul, elas não estão vindo para o Brasil para montar duas lojas apenas. O planejamento é crescer o número de lojas. E onde essas empresas abrem uma loja normalmente afetam o varejo antigo. Portanto, os varejos familiares terão que se modernizar, aprimorar a organização da loja, usar código de barras, aprimorar a logística interna, a informática, o sistema operacional, a gestão administrativa e financeira. E buscar sempre a informação. O varejo que só vende aquela peça da curva A terá problemas. Não é nessa peça que ele vai ganhar dinheiro, é nos itens B e C. Com essas peças ele vai conseguir maior rentabilidade. É um mercado muito dinâmico. Temos que citar também a complicação tributária do Brasil. Hoje em dia para você receber um fiscal na loja é muito fácil. Já tivemos casos de lojistas que foram presos por falta de uma etiqueta. As lojas precisam estar preparadas para essa complexidade. Mas o fato é que o varejo é importantíssimo.

 


Notícias Relacionadas