Bons números da macroeconomia contrastam com a crise no setor de tecnologia -

Bons números da macroeconomia contrastam com a crise no setor de tecnologia

Especialista em investimentos nas startups oferece balizadores para varejistas que buscam surfar na onda do consumo e estabelecer parceria com estas empresas

Lucas Torres [email protected]

Os números da economia divulgados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) no início do mês de setembro
geraram uma onda de projeções otimistas por parte do
mercado financeiro.
A constatação do fato de o PIB nacional ter atingido sua quarta alta
consecutiva, com um crescimento de 1,2% ao longo do segundo
trimestre de 2022, levou os analistas do Boletim Focus a projetarem
um avanço de 2,39% no consolidado do ano – estimativa que
apresenta grande contraste em relação ao primeiro informativo
deste calendário, quando, em 7 de janeiro, o mercado previa uma
alta de modestos 0,36%.
Na entrevista especial desta edição, a analista do FGV-IBRE,
Juliana Trece, avaliou o atual momento sob a perspectiva
macroeconômica utilizando detalhes do último relatório do IBGE
para oferecer insights importantes sobre o cenário da economia
local no médio e longo prazo.

Em sua análise, a economista apontou fatores como a retomada
presencial do setor de serviços, que seguiu se valendo da
demanda reprimida durante a pandemia para saltar 1,3% no
segundo trimestre, e os estímulos dados pelo governo nas figuras
do saque do FGTS e da antecipação do INSS como determinantes
para o bom desempenho do PIB registrado pelo IBGE.
Na mesma entrevista, Trece ressaltou suas dúvidas em relação à
sustentabilidade deste ambiente de aceleração e previu momentos
mais difíceis tanto para o 2º semestre de 2022 quanto para o ano
de 2023.
Tais análises refletem uma perspectiva mais geral sobre a economia
brasileira e não necessariamente servem como guidance para o
empresariado – para quem a tarefa de planejar investimentos ou
cortes obedece a critérios muito particulares de seus segmentos.
Seria a hora, por exemplo, dos varejistas investirem em tecnologias
que os permitam surfar ainda mais neste boom do consumo?

Proatividade
Para responder esta e outras perguntas, entendendo um pouco
sobre o comportamento esperado dos tomadores de decisão,
nada melhor do que mergulhar na cabeça de um profissional
cuja missão está focada quase estritamente em avaliar a
qualidade do risco-retorno de um investimento.
CEO da Dome Ventures, Diogo Catão trabalha selecionando
e desenvolvendo startups que sejam capazes de aplicar suas
ideias disruptivas de uma maneira sustentável e eficiente dentro
das instituições públicas – posição delicada em um momento
em que diversas empresas de tecnologia atuantes no país
passam por crises financeiras profundas.
Em meio a este difícil balanço de um cenário geral otimista e
um setor que se encontra em crise de modelo, Catão afirma
que, escolhendo bem os investimentos, o momento é de seguir
sendo proativo na busca da modernização – algo que, para
o varejo, significa majoritariamente realizar investimentos na
digitalização de processos e nos modais digitais de venda e
relacionamento com o cliente.
“Os investimentos são necessários e vão continuar. É preciso,
no entanto, fazer as diligências necessárias na hora de investir
e não apenas ‘comprar uma ideia de Power Point’”, aponta o
líder da Dome Ventures.
Questionado sobre quais devem ser estes pontos de atenção
de um empresário na hora de investir no atual momento, ele foi
sucinto: os de sempre.
“É preciso analisar os aspectos jurídicos e financeiros.
Com um diagnóstico adequado e bem mapeado por parte
dos empresários, não creio em redução da quantidade de
investimento. Pode ocorrer, porém, uma queda no volume
financeiro investido, mas não um freio na atividade em si”,
indicou Catão

Especialista analisa erros do setor de
tecnologia, epicentro de demissões em massa
e queda de investimento no último semestre

Outrora vistas como um oceano azul em razão da capacidade
de criar soluções tão disruptivas que as permitiam navegar em
um ambiente sem concorrentes, as startups estão em meio a
um primeiro naufrágio coletivo desde que se popularizaram.
O tom parece ser dramático, visto que, atualmente, ainda
existem mais de 13 mil startups operando no Brasil.
Basta lançar um olhar mais aprofundado, no entanto, para
entender que a magnitude da crise das startups no país
merece, sim, um tom hiperbólico.
Depois de surfarem na onda dos ‘investimentos inevitáveis’
em tecnologia durante a pandemia do novo coronavírus,
estas empresas tiveram uma queda de 44% no volume de
investimento recebido de janeiro a junho de 2022 frente ao
mesmo período de 2021.
Esta redução do nível de arrecadação não passou impune e
teve de ser endereçada por algumas das principais empresas
do segmento por meio das polêmicas demissões em massa.
Somadas, empresas como Ebanx, Kavak, Facily, Vtex, Favo,
QuintoAndar e SumUP ultrapassaram a marca das 1200
demissões só neste ano.
A crise, é claro, assusta os varejistas. Afinal, as empresas
do setor têm estado entre as mais ativas na construção de
parcerias junto às startups – comportamento refletido no fato de haver 270 retail techs (como são chamadas as startups
especializadas no varejo) no país.
Questionado sobre os fatores que levaram o setor de tecnologia
a esta crise, bem como sobre maneiras com as quais varejistas
podem se proteger na hora de investirem em parcerias com
empresas desta modalidade, Diogo Catão apontou que a chave
está na observação de possíveis descolamentos entre a proposta
da solução e a capacidade de entrega de quem a oferece.
De acordo com o especialista em investimentos no setor, os
perigos aumentaram à medida que os empresários se viram
obrigados a se incluírem na onda de transformação digital
para sobreviver durante a pandemia.
“Muitas empresas tiveram de investir em tecnologia, se
reinventando para se manterem vivas no mercado. Muitas
vezes, porém, isso foi feito sem a cautela para averiguar a
capacidade de entrega de cada uma delas. Algumas foram
bem-sucedidas, outras infelizmente não”, analisou Catão
antes de complementar com uma dica valiosa para quem
quer investir em tecnologia a partir deste segundo semestre:
“O importante é que o aprendizado fique. Que a lição seja
aprendida. Ainda é realmente necessário se reinventar e
investir em projetos de impacto, mas tão importante quanto é
fazê-lo com critério”.


Notícias Relacionadas