Brasil: um País de paradoxos na economia e política

Um paradoxo chamado Brasil

Será que o céu vai continuar limpo e radiante em 2025? Pois é, aí está o paradoxo brasileiro

Balanço + perspectivas. No Brasil, este binômio se faz frequente nas pautas de grande parte das mídias gerais e das segmentadas ao longo do mês de dezembro. Ao final de 2024, a combinação se torna particularmente interessante e desafiadora. Um ano atrás, poucos imaginavam que seria possível comemorar indicadores tão positivos quanto os que se apresentam agora. O Banco Central prevê que o Produto Interno Bruto brasileiro crescerá 3,5% em 2024. Crescimento sempre traz boas notícias. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 6 de dezembro mostra que “o crescimento interanual da renda habitual média do trabalho foi de 3,7%. Além disso, as estimativas mensais já indicam novo crescimento do rendimento habitual médio real neste último trimestre do ano. Em outubro, o valor médio da renda foi de R$ 3.279,00, 1,8% maior do que o observado em julho”.

Maior poder de compra amparado por uma taxa de desemprego muito baixa: 6,4% no trimestre encerrado em setembro. Segundo o IBGE, é o menor índice de desocupação da série histórica da PNAD Contínua. São 7 milhões de desempregados no Brasil, o menor contingente desde janeiro de 2015. Naturalmente, o setor automotivo teria de surfar nessa onda positiva. Foi exatamente o que aconteceu. Do primeiro para o segundo semestre de 2024, a produção de veículos cresceu 26,2% e os emplacamentos 32%, de acordo com a Anfavea. E não foi só o mercado dos 0km que se deu bem. As vendas de usados caminham para novo recorde, segundo a Fenauto, O relatório de novembro, mostra que o acumulado deste ano já alcançou 14.303.158 de unidades, um crescimento de 9,5% sobre o mesmo período de 2023. Mais carros rodando, mais serviços para a reparação e vendas para o varejo de autopeças. O aftermarket automotivo também vai encerrar o ano feliz. As vendas líquidas das indústrias para a reposição cresceram 13,61% no acumulado de 2023 em comparação ao mesmo período do ano anterior, diz o Sindipeças. As oficinas estão cheias e o faturamento do varejo de autopeças e acessórios deve crescer 15% este ano, segundo projeção da FecomercioSP. Eis aí o lado ensolarado do Brasil. Será que o céu vai continuar limpo e radiante em 2025? Pois é, aí está o paradoxo brasileiro. Após um ano com tantos indicadores positivos, seria factível esperar por uma sequência de boas notícias. Infelizmente, ao que tudo indica, o quadro pode sofrer forte deterioração.

Um dos motivos – há outros – é que o governo de turno gasta muito, e gasta mal. A participação da dívida pública no PIB havia saltado para 74,42% ano passado. Segundo projeções do Tesouro Nacional, será de 77% em 2024, com trajetória de alta até 2027, quando chegará a 81,8%! O pacote de corte de gastos enviado ao governo pelo Congresso – e devidamente desidratado pelos nossos insaciáveis parlamentares – não convenceu ninguém e foi ingrediente importante para a crise de confiança que vem se instalando entre os investidores internacionais. No momento em que este texto era redigido, a cotação do dólar batia em extraordinários 6,30 reais. A verdade é que 2025 começa em clima de incertezas e preocupações. Gostaríamos muito de circular esta edição com a meiga figura do Papai Noel na capa. Mas o papel do jornalismo é defender os fatos. Contra estes, não há argumentos. Depois de um ano muito positivo, estejamos atentos e vigilantes. A favor do mercado, a sempre presente resiliência do aftermarket automotivo. De nossa parte, vamos seguir contando a verdade, faça sol ou tempestade


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