Brasil pode liderar descarbonização com veículos híbridos e etanol -

Brasil pode liderar descarbonização com veículos híbridos e etanol

Nova política do setor automotivo brasileiro estimula pesquisa e desenvolvimento, além de incentivar veículos menos poluentes

A opção do setor automotivo brasileiro pelos carros híbridos trará novas oportunidades ao país em um cenário global que, nos países mais ricos, priorizará os veículos 100% elétricos. Tal perspectiva foi debatida no recente evento online ‘Conexão Sindipeças’, uma iniciativa do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores.

É praticamente consenso entre os formadores de opinião do setor que a experiência do Brasil no uso do etanol como combustível – que vem desde a criação do ProÁlcool, em 1975 – proporciona ao país uma enorme vantagem competitiva não apenas no quesito descarbonização, mas também na perspectiva de assumir a liderança global no desenvolvimento de veículos híbridos a etanol, com grandes oportunidades no mercado externo. Sem abrir mão, é claro, dos híbridos a gasolina – afinal, o país também é referência internacional na motorização flex.

“Essa é uma discussão muito interessante em que o Brasil desponta como região de matriz predominantemente de baixo carbono, oferecendo situações do ponto de vista da descarbonização que são muito competitivas no mercado mundial”, disse no evento do Sindipeças João Irineu Medeiros, Vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis. O executivo contou que a empresa em que atua desenvolve um programa para descarbonização com dois marcos importantes. O primeiro é um inventário global de carbono desenvolvido em 2021, sob o conceito ‘do berço ao túmulo’. A partir deste levanta – mento, a montadora estabeleceu como meta a redução 50% nas emissões de CO2 até 2030, atingindo 100% em 2038, embora, neste momento, ainda não exista tecnologia disponível, vai sobrar resíduo que será mitigado de outras formas – obviamente as metas levam em consideração a cadeia completa, da mineração até o descarte do veículo, passando por todas as etapas importantes de fabricação de matérias-primas e componentes, além da logística para trazer os produtos para a fábrica.

Este é o pilar do ‘berço ao túmulo’. E o desafio é grande, visto que um carro do segmento médio tem aproximadamente 4 mil componentes e a maioria deles vem de fora, da cadeia de fornecimento – que, por sua vez, é dividida em ‘tiers’, o que só faz crescer a complexidade logística. A fabricação desses 4 mil componentes representa, segundo João Irineu, 11% das emissões totais do ciclo de vida do veículo, enquanto o uso do carro a gasolina responde por 85%. No caso do carro elétrico, 70% das emissões estão concentradas na fabricação dos materiais do veículo, sendo que o maior vilão aí é a bateria, com todos os seus minerais: lítio, cobalto, níquel, manganês, cobre e alumínio.

A mineração e o processamento dessa matéria-prima representam o maior responsável pelas emissões de CO2 de um veículo 100% elétrico. Feitas as contas, a Stellantis estabeleceu uma previsão do mix de eletrificação para os próximos anos. “A Europa caminha, com todas as dificuldades, para 100% entre 2030 e 2038; nos Esta dos Unidos, cerca de 50%; e, no Brasil, aproximadamente 20%”, expôs João Irineu. Hoje, são lançadas 50 gigatoneladas de CO2 por ano na atmosfera, volume que tende a aumentar com o crescimento global, podendo até triplicar em 2100. “As ações são necessárias agora para que gente realmente consiga manter a temperatura entre 1,5°C e 2°C acima do período pré-industrial na superfície da Terra, coisa que apenas os compromissos do COPE não conseguirão. Se não fizermos nada, a temperatura deve subir de 1,5°C para aproximadamente 5°C, segundo os cientistas – teremos a região próxima à linha do Equador com uma temperatura superior a 44°C em todos os dias do ano. Inabitável”, decretou João Irineu.

Etanol x Elétrico: jogo empatado

A produção de energia elétrica gera emissões de CO2, embora seja um ciclo de baixo carbono. A reciclagem das baterias ao final da vida útil do veículo também – e maior do que o carro a combustão. Isso precisa ser levado em conta quando se compara o carro 100% elétrico com a solução híbrida a etanol que deve guiar a descarbonização no Brasil. “O desafio da descarbonização não está só na tecnologia utilizada e na fonte energética para movimentar o carro. Também está na cadeia – produção, manutenção, logística e descarte do veículo. E o descarte é uma área que nós precisamos desenvolver bastante aqui na região. Reciclagem de ma – téria-prima, reutilização de componentes ainda funcionais, remanufatura de componentes, motores e transmissão, e recuperação energética do que não pode ser reutiliza – do. Isso é muito importante para evitar que a gente tenha que minerar de novo e fazer a matéria-prima passar por todo o seu processo de fabricação. Em média são emiti – das 2,5 toneladas de CO2 para fabricar uma tonelada de aço”, comparou João Irineu Medeiros, Vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis.

Considerando todos os elementos desse complexo ecos – sistema, o resultado é praticamente um empate no total de emissões de CO2 entre o elétrico e o híbrido a etanol, considerando o ciclo de vida dos veículos.

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