Brasileiro está disposto a gastar 30% da renda para manter carro próprio -

Brasileiro está disposto a gastar 30% da renda para manter carro próprio

COO do Opinion Box analisa insights de pesquisa inédita realizada em parceria com o Serasa e seus impactos para o aftermarket automotivo

Lucas Torres [email protected]

O sonho de ter um carro para chamar de seu ainda supera preocupações com os gastos representados por este item no orçamento doméstico. Este foi o cenário revelado por uma pesquisa inédita conduzida pelo Serasa, em parceria com o Opinion Box. Ao investigar a representatividade dos automóveis no orçamento das famílias brasileiras, a pesquisa concluiu que eles ocupam uma média de 30% do total – percentual que os colocam na 2ª colocação dos principais gastos da população, atrás apenas da alimentação. Ainda assim, 58% dos 2.067 entrevistados concluíram que ‘vale a pena ter um carro’. Uma das razões para esta ‘satisfação a despeito dos números’ está no fato de que o carro é visto pela maior parte dos brasileiros como um item de lazer. Ou seja, transcende a lógica da produtividade e utilitarismo.

A pesquisa ilustrou esta característica ao indicar que ‘Os passeios em fins de semana’ são a principal função do carro no país, segundo 78% das famílias locais. Para repercutir outros dados e medir seus impactos no mercado de reposição automotiva, conversamos com o head da pesquisa, o COO da Opinion Box, Felipe Schepers.

Na entrevista, o executivo deu insights importantes sobre a forma como o brasileiro vê os gastos com a reparação – quase sempre como imprevistos – e indicou a facilidade nas condições de pagamento como fator diferencial para as empresas que irão socorrer o consumidor nestes períodos considerados por eles como ‘negativos’.

Novo Varejo Automotivo – O fato de o carro ter ficado em 2º lugar no ranking das categorias que mais pesam no orçamento familiar surpreendeu vocês de alguma forma? Esta questão já havia sido investigada em alguma pesquisa que possa servir de base comparativa?

Felipe Schepers – Essa é a primeira edição da pesquisa. O Serasa encomenda vários estudos conosco ao longo do ano e esta foi a primeira edição sobre este tema especificamente. Muita gente, aliás, já está nos perguntando se a ideia vai ser repetida para que se possa traçar um panorama de comparação. Ainda assim, mesmo não tendo base comparativa, o fato de o carro estar em segundo lugar na lista dos principais custos das famílias nos surpreendeu. A gente achava que ele teria destaque, mas esta segunda posição – apenas atrás dos alimentos – foi uma surpresa.

NVA – Quando falamos de gastos com automóveis, há várias vertentes a serem consideradas, da manutenção aos custos de financiamento. A pesquisa conseguiu identificar quais foram os gastos mais sentidos pelo consumidor brasileiro?

FS – A gente acredita, olhando com base nas respostas, que o preço do combustível tem um impacto direto nessa balança, assim como as taxas de impostos. O ecossistema econômico, em resumo, contribuiu para que os automóveis representassem uma parcela maior no orçamento das famílias. Porque, se você aumenta combustível, automaticamente impacta nesta questão. Ele é o gasto sentido pelo consumidor na hora. Afinal, o financiamento uma hora acaba, mas o combustível é algo constante e possui um impacto muito relevante.

NVA – As pessoas entrevistadas por vocês sabem, de fato, o quanto gastam em média com seus carros?

 FS – A gente viu que para 45% dos brasileiros o carro consome cerca de 30% de sua renda familiar anual, é um valor alto. Há um conjunto de brasileiros, porém, para os quais o veículo tem representatividade ainda maior. Uma questão que nos chamou atenção é que 2 a cada 10 brasileiros nem sabem quanto o carro pesa no orçamento familiar – o que é um ponto crítico. Afinal, você tem um automóvel e não sabe nem dimensionar qual é seu custo no dia a dia. Buscamos entender também o peso dos imprevistos nesta balança e identificamos que 9 a cada 10 brasileiros tiveram gasto com estas ‘surpresas’ no último ano.

NVA – O que vocês consideraram como ‘imprevisto’?

FS – Atividades como troca de pneus, reparos mecânicos e, claro, as multas. Estes são os fatores que consideramos como ‘despesas emergenciais’ que compõem o orçamento do carro ao lado de combustível, financiamento e tributos.

NVA – Alguma classe social compromete mais seus orçamentos com o uso e a manutenção do carro do que outra?

FS – Não existe tanta diferença de classe social porque o custo do carro acaba variando de acordo com o poder aquisitivo. Famílias de classe mais baixa vão ter carros mais ‘populares/econômicos’, enquanto famílias com maior poder aquisitivo terão carros mais caros – então a equação acaba ficando balanceada neste aspecto. No entanto, quando a gente pensa no Brasil como um todo e na renda média da população, percebe que um gasto de 30% da renda familiar com um carro acaba sendo muito alto. Isso impacta bastante o orçamento. E, além disso, a gente também observou que neste grupo, composto pelas classes C, D e E, há muita gente que utiliza o carro para gerar renda, seja trabalhando como motorista ou com entrega.

NVA – E quando adotamos um enquadramento regional, é possível observar diferenças no comportamento dos consumidores de diferentes localidades do país?

FS – A gente percebe que o pessoal da região Sul se prepara um pouco melhor para custos como o IPVA quando comparado às pessoas do Nordeste. Mas, em suma, o que acreditamos é que estas diferenciações estão muito mais relacionadas à própria renda do que necessariamente a um hábito diferente com o carro. Vale dizer também que a comunicação em determinados lugares também pesa nessa questão do IPVA e outros tributos. Existem lugares que comunicam mais fortemente e de maneira mais antecipada a necessidade de pagamento destes tributos, enquanto outros fazem isso tardiamente e em menor volume.

NVA – Pensando nas pessoas que têm consciência do montante que gastam com o automóvel, como elas avaliam a relação entre custo e benefício de seguir com o carro próprio?

FS – As pessoas, sim, percebem que o carro representa um custo alto para o orçamento. Que representa, inclusive, uma despesa que elas não conseguem controlar devido aos imprevistos – cenário que fica muito evidente quando chegamos a dados que mostram que 2 em cada 10 se surpreenderam com os custos reais de se ter um carro. Apesar disso, nós vemos que ainda há uma perspectiva muito positiva de que vale a pena ter um carro. Seja pela comodidade, pelo conforto, pela eficiência ou até mesmo pela segurança. Na cabeça do consumidor, resumindo, a conta fecha em favor do carro.

 NVA – Qual é a visão majoritária dos brasileiros em relação a outras alternativas como, por exemplo, aderir à cultura do compartilhamento de automóveis?

FS – Esta é uma questão para acompanharmos ano a ano. Assim será possível observar se outras formas de locomoção como carro alugado ou por assinatura – ou até mesmo optar pela moto – ganham espaço ou não dentro do público que possui carro.

NVA – Existe alguma questão que pesa contra o uso do carro em determinados períodos ou a percepção de custo-benefício é inabalavelmente positiva? FS – O combustível pesa bastante, sem dúvida. Na pesquisa, este impacto ficou nítido. Investigamos o quanto as pessoas diminuíram o consumo do carro por alguma questão específica e, entre aquelas que reduziram a frequência do uso, a principal motivação foi o aumento do preço dos combustíveis.

 NVA – Existe algum insight da pesquisa que possa, na sua visão, auxiliar o empresariado do aftermarket a aprimorar a estratégia de negócios?

FS – Uma questão interessante que observamos é que a maior parte das pessoas passou por imprevistos. Neste grupo, uma parcela alta disse que tinha reserva financeira para lidar com estas situações. Em contrapartida outra parcela, igualmente alta, afirma que recorreu a produtos financeiros para arcar com custos. Então, apesar das pessoas terem uma reserva, o custo necessário para resolver aquela emergência acaba sendo maior do que a reserva, de modo que elas acabam usando crédito, sobretudo o cartão parcelado. Então, pensando neste cenário, é importante que a reposição analise esta situação. Que tipo de parcelamento eu estou oferecendo para o meu consumidor diante de um imprevisto para o qual ele não necessariamente terá dinheiro em mãos para gastar? As formas de pagamento, cartão de crédito e PIX parcelado podem ajudar o setor de reposição a oferecer uma experiência melhor para o seu consumidor dentro de uma situação que é negativa, por se tratar de um gasto não previsto.


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