Brasília testa modelo de compartilhamento de veículos elétricos -

Brasília testa modelo de compartilhamento de veículos elétricos

Programa ficará restrito a servidores públicos e substituirá em parte os veículos da frota oficial

Por Lucas Torres ([email protected])

Realidade nos países mais desenvolvidos, o conceito de ‘Cidades Inteligentes’ surgiu para servir como um norte para que os responsáveis pela promoção de políticas públicas possam tornar central em seus planejamentos questões estruturais voltadas à melhoria da qualidade de vida da população em áreas como planejamento urbano, coesão social, tecnologia, meio ambiente e mobilidade urbana, bem como preparar o município para a ascendente curva do crescimento populacional.

Embora incipiente no Brasil – país que ainda luta para enfrentar em definitivo questões primárias no âmbito da infraestrutura como saneamento básico, energia elétrica e asfaltamento de vias – o conceito começa a dar origem a experimentos inovadores em determinados locais.

Em Brasília (DF), o modelo de Cidades Inteligentes impulsionou um projeto piloto que liga duas das principais tendências do setor automotivo para os próximos anos: a eletrificação da frota e o compartilhamento de veículos. Fruto da parceria do Governo do Distrito Federal (GDF) com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), o projeto testará o compartilhamento de carros elétricos disponibilizando 17 veículos do modelo Twizzy, da montadora francesa Renault, para servidores públicos em substituição à frota convencional.

O modelo de utilização dos veículos seguirá a lógica do compartilhamento de patinetes e bicicletas estabelecido em grandes cidades como São Paulo (SP), no qual usuários – neste caso os servidores cadastrados – poderão ‘ativar’ o veículo utilizando seus crachás e estaciona-lo em qualquer lugar dentro de um mapa pré-estabelecido.

Essa dinâmica é possibilitada pelo software Mobi-e, desenvolvido pelo Parque Tecnológico Itaipu, que possibilita o rastreamento do automóvel, o monitoramento da velocidade, a carga da bateria, as rotas percorridas e até o volume de gás carbônico que deixou de ser emitido para a atmosfera.

De acordo com os gerentes do Laboratório Vivo de Cidades Inteligentes do PTI, Miguel Diógenes Matrakas e Pedro Sella, o sistema já foi testado e aprovado no ambiente controlado da Itaipu, no município de Foz do Iguaçu (RS), após serem realizadas mais de 9 mil viagens que contabilizaram, somadas, mais de 20 mil quilômetros rodados.

Segundo ambos, a implementação em Brasília será fundamental para validar a solução em ambiente aberto. “Com a validação da solução em Brasília, já teremos a confirmação de que a solução pode ser replicada em outros espaços, seja para uso restrito de colaboradores ou servidores de uma empresa ou entidade governamental, ou mesmo disponível para a população de uma grande cidade”, asseguram os gerentes.

Capital poderá ser referência em eletrificação da frota

A cúpula do PTI conta que o software Mobi-e foi desenvolvido no ‘Living Lab’ – cuja principal função é justamente servir como um ambiente de demonstração e avaliação de soluções tecnológicas para cidades inteligentes a fim de fornecer subsídios para administradores públicos na tomada de decisão quanto ao tipo de soluções que podem ser adotadas em suas cidades. “Um dos principais preceitos do ambiente do ‘Living Lab’ é que as diversas tecnologias implantadas sejam interoperáveis, ou seja, as soluções devem prover mecanismos para a integração com outras aplicações que possam, juntas, promover melhorias nas cidades. Atualmente ele tem tecnologias para mobilidade inteligente, iluminação pública inteligente, monitoramento de prédios e monitoramento por drones”, relatam Matrakas e Sella.

Principal investidora do projeto com um aporte de R$ 2,3 milhões, a ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial entende que Brasília é o berço ideal para a massificação do uso de carros elétricos por características como seu relevo predominantemente plano, que provoca uma redução no consumo de bateria, e a tensão padronizada de 220 volts, dispensando adaptações para a instalação dos 35 eletropostos.

Os eletropostos, aliás, ficarão como legado do projeto na direção de disseminar a infraestrutura e a cultura da eletromobilidade de maneira mais ampla na capital federal, tornando-a uma das cidades brasileiras com o maior número de locais de abastecimento para veículos elétricos do país.

Apesar das condições geográficas favoráveis e o importante empurrão em termos de infraestrutura com a instalação dos eletropostos – já que, segundo o PTI, o sistema de abastecimento é um dos principais gargalos da eletrificação da frota no país –, o projeto de compartilhamento não conta com previsão de ampliação para os demais cidadãos candangos.

Por motivo não divulgado, o governador Ibaneis Rocha descumpriu a promessa de que o projeto se expandiria para a população ainda em 2019 com a aquisição de mais 100 veículos elétricos por parte do GDF e o projeto não ultrapassará a alçada do serviço público.

A notícia frustra a população local que convive com o segundo pior tempo médio de espera por ônibus ou metrô do planeta – 28 minutos –, situação que escancara a necessidade de melhorias do município no que diz respeito à mobilidade urbana.

Apesar disso, o subsecretário de Desenvolvimento Científico, Márcio Galvão Fonseca, afirma que a oportunidade de testar um projeto de compartilhamento de veículos com emissão zero é uma das formas de iniciar uma nova era para Brasília, que une esforços na direção de se tornar uma ‘Cidade Inteligente’.

“Durante o uso dos veículos no projeto piloto será aferida ainda a economia resultante com a utilização dos carros elétricos (hoje, o GDF possui uma frota de 1.927 veículos próprios e 527 alugados que custam, por ano, R$ 16 milhões, entre gastos com combustível e manutenção)”, avalia Fonseca, destacando o caráter essencial de parcerias com a iniciativa privada no auxílio ao Estado em suas diversas áreas de administração.


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