Cada vez mais brasileiros trocam o transporte público pelo individual -

Cada vez mais brasileiros trocam o transporte público pelo individual

Estudo do IPEA mostra que em todas as faixas de renda, há queda no consumo do transporte coletivo e um aumento do transporte individual.

Segundo o estudo ” Tendências e Desigualdades da Mobilidade Urbana no Brasil: o Uso do Transporte Coletivo e Individual ” do IPEA sobre a migração do transporte coletivo para o individual nas últimas décadas, em 2008 e em 2017, as famílias brasileiras comprometiam cerca de 14% da renda com gastos em transporte. Ou seja, o transporte urbano estava entre os principais componentes do gasto das famílias em seu consumo cotidiano, sendo superado mais recentemente apenas pelos gastos com habitação, em 2017-2018. “Essa é a média de todas as áreas urbanas do Brasil. Obviamente, isso vai variar muito entre classes sociais”, comenta o pesquisador Rafael Pereira.
Nos últimos anos, o que o estudo observou foi uma queda do consumo do transporte coletivo em todas as faixas de renda e um aumento do transporte individual para todas as faixas de renda. “Chama a atenção o fato de que, especialmente para a população mais pobre, há uma inflexão muito maior. A redução do consumo do transporte coletivo é mais expressiva entre a população de baixa renda e o aumento de transporte individual também é muito marcante entre esse mesmo grupo”, declarou.
Para Carolina Baima Cavalcanti, coordenadora-geral de Gestão de Empreendimentos do Ministério do Desenvolvimento Regional, o estudo trouxe a confirmação, em números, de um fenômeno que já vinha sendo percebido há tempo, seja por meio da observação da realidade, de outros estudos anteriormente elaborados, ou nas demandas recebidas diariamente pela Pasta. “A leitura da realidade em dados quantitativos não é pouca coisa, se considerarmos que o setor de mobilidade urbana é diferente das demais políticas setoriais urbanas nacionais, sobretudo aquelas tratadas no âmbito do MDR, como habitação e saneamento. A mobilidade urbana sofre de uma grande escassez de dados estruturados, periódicos, o que leva a um planejamento deficiente”, pondera.
Cavalcanti ressalta que o estudo também é muito importante para que se possa avaliar a atual política de mobilidade urbana. “O primeiro ponto a ser destacado é que os padrões de deslocamento mudaram nos últimos 20 anos, com a substituição do transporte coletivo pelo individual motorizado. Em segundo lugar, houve uma piora nas condições de mobilidade. E essa piora foi distribuída de forma desigual, de acordo com a renda, gênero e raça, com evidente prejuízo à população mais vulnerável. E, por último, que a Covid-19 evidenciou a fragilidade do transporte coletivo a oscilações de demanda”, conclui.


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