Carros autônomos e elétricos devem intensificar cultura do compartilhamento e criar novos nichos de negócios -

Carros autônomos e elétricos devem intensificar cultura do compartilhamento e criar novos nichos de negócios

Fosse somente pela sua influência no comportamento e na cultura do consumidor, a tecnologia já seria um elemento chave nas mudanças que começam a ser experimentadas pelo setor automotivo como um todo. Mas sua influência está longe de parar por aí…

Cada vez mais próximo da realidade, o cenário no qual teremos veículos autônomos circulando diariamente nas cidades deverá impulsionar ainda mais o compartilhamento de veículos, sobretudo na modalidade ‘car2go’, em que o consumidor não terá de se dirigir a um determinado local para pegar o veículo e a partir de então começar a se locomover. Com o veículo autônomo car2go, o carro é que irá buscar o passageiro onde ele estiver, facilitando e encorajando o consumo do serviço.

Para Marcelo Cioffi, a introdução definitiva dos veículos autônomos causará uma verdadeira revolução no conceito de mobilidade, sobretudo nas grandes cidades. “Um dos impactos mais fortes será o fato de o cidadão começar a criar disposição para morar nos chamados subúrbios, ou bairros afastados, longe do trabalho. Isso porque o trânsito já não será mais tão caótico quanto o atual e porque ele poderá fazer algo produtivo durante o trajeto, já que não necessitará dirigir o veículo”, projetou, antes de completar: “Outra questão é a da inclusão e da acessibilidade. Pessoas com determinadas deficiências físicas, por exemplo, que hoje são impedidas de utilizar automóveis sem um motorista, terão independência e acesso a esse tipo de transporte”.

Outra tendência tecnológica – essa já realidade em alguns lugares do mundo e que deve chegar ao Brasil nos próximos anos – é a expansão da frota de carros elétricos. Sobre eles, o sócio da PWC destaca a diminuição drástica de peças e componentes em comparação aos veículos equipados com motores a combustão. Segundo Cioffi, enquanto carros a combustão possuem cerca de 5 mil peças, os elétricos se limitam a apenas 500.

Embora, a primeira vista, esse dado possa causar certa preocupação para o mercado de reposição automotiva, o executivo destaca que uma futura nova configuração com base nas atuais tendências do setor trará novas oportunidades também para o aftermarket. “A chegada dos carros elétricos abrirá uma série de oportunidades a partir de uma ampla cadeia que será criada desde o desenvolvimento de baterias, como suas trocas, logística reversa… É um novo business que deve desafiar, mas não desanimar os players do setor”, incentiva.

 

Quem será o dono do carro é ainda uma questão a ser respondida

 O compartilhamento de veículos deverá aumentar de forma drástica a utilização dos automóveis e, por conseguinte, acelerará a necessidade de manutenção e trocas de componentes. Tudo isso, claro, deve animar o mercado de reposição.

Mas outra questão, ainda sem resposta, tem potencial para transformar essa animação justificada em um cenário de dúvidas, sobretudo para o mercado independente. Afinal, se o carro não for individual, a quem ele pertencerá?

Na visão de Marcelo Cioffi, sócio da PWC, essa pergunta ainda é impossível de ser respondida e o cenário atual é de um ‘campo aberto de disputa’. Para o executivo, as montadoras têm se colocado como alternativa, mas sofrem a concorrência de empresas de aluguel de veículos e outros players emergentes, tais como startups previamente mencionadas como a Moobie, a Zazcar, a Urbano e a própria Uber.

Independente disso, parece claro que uma parcela importante dos carros pertencerá a empresas e não mais a pessoas físicas, individuais, de modo que suas manutenções e reparações tenderão a deixar de ser realizadas sob demanda individual na relação B2C (empresa para cliente) e passarão a ocorrer de uma forma mais profissional e em escala com base em uma relação B2B (empresa para empresa).

Tal transformação impactará diretamente o modelo de negócios dos varejos de autopeças, sobretudo os pequenos, que têm na relação fiel com reparadores e proprietários de veículos sua principal ferramenta de sobrevivência no mercado.

No modelo de compartilhamento da Porto Seguro, por exemplo, a relação com as oficinas e as lojas de peças é rompida visto que a empresa tem seus próprios Centros Automotivos e mantém relação direta com as montadoras dos veículos utilizados no programa ‘Carro Fácil’.

“A manutenção é feita nos Centros Automotivos Porto Seguro, nas mais de 300 unidades em que eles estão presentes em todo o Brasil. Para a realização dos serviços, o cliente não precisa ir até uma oficina credenciada, pois a companhia disponibiliza um profissional para levar o automóvel até o local”, conta o gerente do programa, Marcelo Rosal. “Sobre a reposição das peças dos veículos, a Porto Seguro Carro Fácil possui um relacionamento com as montadoras para a troca de itens do automóvel”, completa o executivo.

Nem todas as empresas que possivelmente entrarão no mercado de compartilhamento possuem a expertise e a estrutura da Porto Seguro, uma seguradora, no âmbito da manutenção de automóveis.

Outras empresas, sobretudo startups, tendem a recorrer a parcerias com contratos de fornecimento de peças e reparação de veículos junto às empresas estabelecidas do mercado independente. Para esses casos, o consultor da McKinsey & Company, Bernardo Ferreira, indica que será necessário oferecer preço e velocidade em uma operação ainda mais eficiente do que a exigida pelos clientes a que o mercado de reposição está acostumado. “Outra questão fundamental é a da gestão integrada de vendas, o que nada mais é do que realmente criar uma parceria de longo prazo em toda a sua cadeia de valor e, através de um sistema, ter um processo muito mais fácil de gestão de estoque, gestão de preço e políticas comerciais”, adiciona Ferreira.


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