Cinco passos de evolução para o setor automotivo -

Cinco passos de evolução para o setor automotivo

No Fórum IQA da Qualidade Automotiva 2023, sócio-líder da KPMG aborda tendências que transformarão os modelos de negócios no mundo da mobilidade

Ricardo Roa, sócio-líder do setor automotivo na KPMG no Brasil, foi um dos palestrantes do 9º Fórum IQA da Qualidade Automotiva e, em sua apresentação, buscou uma reflexão sobre a percepção dos brasileiros acerca da qualidade dos novos modelos de negócios do setor. E a conclusão foi que, com a implementação destas evoluções, a qualidade não apenas será cada vez mais necessária, mas também terá que expandir seu alcance com rapidez e constância. A apresentação de Roa teve como base o estudo global “The Future of Automotive”, realizado pela KPMG e que foi objeto de reportagem exclusiva publicada na edição 406 do NovoVarejo. No texto a seguir, traremos uma composição dos temas já detalhados pela reportagem, porém agora acrescidos dos comentários feitos pelo especialista no Fórum IQA. Nos últimos anos, as montadoras e todos no ecossistema automotivo – de fabricantes de componentes a engenheiros de projeto, executivos de marketing e finanças, investidores, revendedores e clientes – vêm sendo confrontados com grandes mudanças.

E delas surgem as cinco transformações impactantes analisadas pelo estudo realizado pela consultoria global: como os carros funcionam, como os carros são construídos, como os carros são usados, como os carros são vendidos e como o setor é regulamentado. “E a qualidade esá intrínseca em cada um desses cenários. É importante perceber que quando falamos de mudanças e novos negócios, há uma palavra essencial: necessidade. Tudo nesses novos modelos de negócios está sempre atrelado à necessidade”, analisou Roa. No estudo, a KPMG enumera oito imperativos estratégicos para as montadoras, resultantes das cinco transformações em curso: organizar-se para a transição rumo ao veículo elétrico; repensar a produção, as cadeias de fornecimento e os parceiros; monetizar a experiência do veículo conectado; criar modelos como serviço; criar uma experiência de vendas diretas perfeita; utilizar os dados para aumentar o valor gerado ao cliente; ter mobilidade financeira; e atrair talentos para o setor. Veja as cinco mudanças elencadas por Ricardo Roa e seus impactos nos novos modelos de negócios do setor automotivo.

1. COMO OS CARROS FUNCIONAM A mudança para os veículos elétricos está se acelerando. Estima-se que 50% dos automóveis vendidos nos EUA em 2030 poderão ser elétricos; autoridades chinesas dizem que 70% dos automóveis vendidos no país em 2030 serão elétricos. Globalmente, espera-se que as vendas unitárias de EVs cresçam 12,8% anualmente de 2022 a 2034. Ao sair do tradicional motor a combustão, as montadoras vêm perseguindo furiosamente e eletrificação – e enfrentando novos concorrentes. Os carros tornam-se cada vez mais conectados, com processadores que melhoram desempenho do veículo e fornecem um novo tipo de experiência, incluindo a condução autônoma. “Tudo o que vemos de tecnologia está sendo uma necessidade da população. O consumidor quer experiência. Começamos com os smartphones e hoje já estamos buscando os smartcars. Como percebemos de fato essa mudança sobre o funcionamento dos veículos? Transformando conectividade”, pontuou o executivo da KPMG Brasil.

 2. COMO OS CARROS SÃO FABRICADOS A mudança para veículos elétricos requer novas maneiras de fabricar carros – com componentes e tecnologias completamente diferentes. Plantas e processos devem ser otimizados. Novas e diferentes parcerias estão surgindo. A KPMG enumera cinco fatores críticos na transformação dos processo de fabricação dos veículos: a) modularização do chassi para reduzir custos, peso do veículo e acelerar a produção; b) novos entrantes agitando a concorrência; c) inclinação para a Ásia – montadoras asiáticas têm tecnologia e ambição para desafiar o domínio global das marcas tradicionais; d) desafios da cadeia de fornecimento – as cadeias sofreram com a escassez de componentes e matérias-primas em razão da Covid-19 e da guerra na Ucrânia; e) atração de talentos digitais – as montadoras buscam vencer a batalha da inovação, a tecnologia se torna onipresentes, e o resultado é uma disputa com outros setores por engenheiros de software e outros tecnólogos. “A modularização dos chassi está aumentando muito a eficiência, de fato haverá uma série de cadeias de fornecedores novos. Como esse ecossistema vai funcionar? A cadeia de suprimentos vai ser afetada e tem que correr para conseguir atender a qualidade e esse novo modelo de negócio. Globalmente há muita demanda, aqui tem menos e toda a cadeia de suprimentos terá que se adaptar a essa demanda”, disse Roa.

3. COMO OS CARROS SÃO USADOS “Sempre vimos o carro como uma frente de locomoção, só

que hoje há uma forte tendência de mobilidade como serviço. As empresas estão investindo muito no novo negócio oferecendo modelos alternativos para mudança do que é propriedade para contrato. Isso está muito forte lá fora e aqui está começando bem”, introduziu o palestrante. Modelos como carona, compartilhamento de veículos e assinaturas continuam a ganhar força. Segundo prevê o estudo da KPMG, é pouco provável que a posse de automóveis se torne algo do passado, mas os consumidores estão se tornando mais abertos em relação aos serviços de mobilidade. A pesquisa conclui que 63% das montadoras estão investindo ou planejam desenvolver modelos de propriedade alternativos, como compartilhamento de viagens e “micro-compartilhamento” dentro de dois anos. Serviços de assinatura são outra tendência crescente. Até porque, segundo expôs Ricardo Roa, está cada vez mais difícil comprar um carro novo no Brasil. “Entre R$ 70 mil e R$ 80 mil, nosso carro popular hoje é o seminovo. Essa também é uma vertente de novo modelo de negócio. Com um custo médio de R$ 130 mil, o pessoal não consegue comprar um carro novo com toda essa tecnologia”.

4. COMO OS CARROS SÃO VENDIDOS

Os consumidores têm comprado carros no ambiente online há anos. Segundo a pesquisa KPMG, agora eles querem completar todas as demais transações relacionadas ao veículo também online. “Os concessionários têm buscado trazer uma forma mais fácil de conseguir comercializar o veículo. Muitos reduziram os showrooms, deixando-os virtuais. A demanda está vindo cada vez mais forte para a necessidade dessa nova geração que quer ter um carro em casa, mas escolher pela internet”, apontou Roa. Assim, cresce a pressão sobre as montadoras por novos canais de venda que eliminam o modelo tradicional das concessionárias, protegido por leis estaduais nos Estados Unidos, por exemplo. (Nota da Redação: e no Brasil também, pela lei Ferrari, de 1979).

5. COMO O SETOR É REGULAMENTADO

A KPMG enumera três questões fundamentais: a) impulso à emissão zero – novas regulamentações forçam as montadoras a acelerar a produção de veículos elétricos. b) incentivos e financiamento governamental – o mercado de EVs se beneficiou enormemente dos incentivos, mas os programas estão em constante evolução; c) o caminho acidentado para a direção autônoma – de acordo com recente pesquisa global da KPMG com executivos do setor automotivo, 45% das montadoras estão investindo em veículos autônomos ou planejam fazê-lo nos próximos dois anos. “Hoje estamos ansiosos pelo Promovi – Programa de Mobilidade Verde e Inovação, que vai mudar uma série de aspectos das questões regulatórias pelo menos nos próximos cinco anos. Vamos precisar de veículos mais eficientes, mais tecnológicos, e isso exige investimento e gera demanda. Agora virá uma nova questão da descarbonização, reciclabilidade, trazida pelo aspecto regulatório. Então, esse novo modelo de negócio vai exigir muito no aspecto da qualidade”, previu Ricardo Roa, sócio-líder do setor automotivo da KPMG no Brasil.


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