Como a baixa competitividade do Brasil impacta os seus negócios? -

Como a baixa competitividade do Brasil impacta os seus negócios?

Conversamos com o líder da tradicional pesquisa que posicionou o país na 62ª posição entre 67 nações do globo no quesito

Você sabia que o Brasil é um dos países menos competitivos do mundo? Isso é o que revelou o ranking de competitividade dos países formulado pelo International Institute for Management Develop ment (IMD) em parceria com a Fundação Dom Cabral. Ao avaliar 67 nações do planeta em aspectos econômicos, empresariais, políticos e educacionais, o levantamento classificou o Brasil na 62ª posição, à frente apenas dos vizinhos sul-americanos Venezuela (67º), Argentina (66º) e Peru (63º), e dos africanos Gana (65º) e Nigéria (64º). O retrato desenhado pelo ranking a partir de um mix de dados estatísticos e pesquisas com importantes lideranças públicas e empresariais do globo preocupa por diferentes razões.

A principal delas, talvez, seja o fato de que os quesitos nos quais os brasileiros tiveram pior desempenho estão diretamente conectados com eficiência gerencial das empresas e a qualidade da nossa formação técnico-educacional. Para se ter uma ideia, o Brasil foi o último colocado do ranking nos âmbitos da ‘educação em gestão’, das ‘habilidades linguísticas’ e ‘dívida corporativa’, e foi o penúltimo colocado nos quesitos ‘habilidades financeiras’ e ‘educação básica, secundária e universitária’.

Quando observado pela ótica de quem opta por ver o copo ‘meio cheio’, no entanto, o ranking dá indícios de que o Brasil ‘tem salvação’. Isso porque o país ficou no TOP 5 positivo em diversos rankings conjunturais, entre os quais se destacam o crescimento do ‘PIB real per capita’, o ‘crescimento de longo prazo dos empregos’, o ‘fluxo de investimento direto estrangeiro’ e os ‘subsídios governamentais’. A fim de entender um pouco mais sobre como a fotografia do todo apresentada pelo ranking impacta o dia a dia das empresas nacionais e as suas capacidades de performarem, convidamos o professor, diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC) e líder do Ranking de Competitividade no Brasil, Hugo Tadeu, para uma entrevista exclusiva. O especialista rechaçou a ideia de que a pouca competitividade advém majoritariamente das empresas e dos indivíduos, pontuando o alto custo de capital do Brasil e as dificuldades de acesso ao crédito, bem como a falta de qualidade das políticas públicas na esfera educacional como fatores centrais do mau posicionamento do país no ambiente competitivo global.

Novo Varejo – Como as condições pouco competitivas propiciadas pelo ambiente brasileiro influenciam a capacidade das empresas prosperarem em seus respectivos segmentos?

Hugo Tadeu – O ambiente competitivo é vital para o crescimento das empresas, considerando, por exemplo, temas vitais como marco regulatório, agilidade para fazer negócio e, fundamentalmente, o custo de capital. Atualmente, o custo de capital no Brasil é alto demais em relação aos padrões internacionais. Isto é, tanto para acessar crédito no sistema financeiro quanto para apresentar taxas de retorno de mercado, tem-se um desafio para o equilíbrio das contas empresariais. Se compararmos o Brasil com os demais países líderes do nosso ranking, temos um caminho a ser trilhado e os dados são evidentes sobre o que fazer.

Novo Varejo – O quesito ‘eficiência empresarial’ teve um dospiores desempenhos entre os analisados pelo levantamento. A que vocês atribuem essa condição? Está mais relacionada à preparação das próprias empresas e seus gestores ou, ainda aqui, há uma influência significativa do aspecto estrutural do país?

Hugo Tadeu – Este item é absolutamente relevante, pois usualmente o argumento da baixa competitividade sempre é direcionado para o governo. Tem-se aqui um aspecto vital, que é a qualidade da gestão das empresas, sendo um tema além dos desafios do ambiente brasileiro de negócios. Ou seja, é preciso pensar no quanto as empresas estão estruturando modelos estratégicos, execução e talentos para entregar seu crescimento. Neste caso, sair do ambiente “Faria Lima” e pensar em todo o país é relevante. Temos uma cadeia de pequenos e médios empresários demandando uma maior sofisticação de gestão e esta agenda poderia trazer um grande salto de qualidade para a nossa competitividade.

Novo Varejo – O que o ranking avalia no âmbito do subfator ‘educação em gestão’ no qual o Brasil ocupou a última posição no levantamento? Considerando o fato de o país ter sido muito mal avaliado também na ‘educação nacional’, vocês acreditam ser possível evoluir na primeira – micro – sem um plano para evoluir de maneira holística nesse quesito educacional? Hugo Tadeu – É preciso ter um plano educacional, sim, com visão de longo prazo e conectado com as necessidades para o nosso crescimento. Pensar na qualidade da educação é um tema além dos bancos escolares, mas com demandas sociais relevantes. Além do plano, a qualidade da implementação das políticas educacionais é chave, passando pelos diretores das escolas, sua visão da gestão escolar e professores bem preparados. Além disso, um olhar atento para os desafios da matemática, ciências, engenharia e tecnologia deveria ser observado com cuidado, pois estamos caminhando para uma sociedade de dados e IA.

Novo Varejo – O Brasil tem um histórico significativo de queixas quanto ao ambiente tributário, tanto em termos de complexidade quanto no quesito ‘carga’. É possível mensurar neste momento possíveis efeitos da reforma tributária neste cenário ou ainda é cedo para projetar?

 Hugo Tadeu – Sim. A carga tributária é um tema sensível e com enorme impacto nas empresas. Antes, porém, deveríamos pensar na qualidade do gasto público e sua arrecadação. Existe uma ineficiência da alocação de recursos públicos, com constantes apelos para ganhos de arrecadação e sufocando os negócios. O ambien – te tributário é resultado deste modelo, com consequências para a queda da produtividade geral. Países bem colocados no ranking andam avaliando a qualidade das suas políticas públicas e o impacto social, com importante revisão dos modelos de tributação.

Novo Varejo – Apesar da colocação ruim quando analisamos o aspecto geral do levantamento, o Brasil conseguiu uma posição razoável em um quesito importante, que é a performance econômica. A que você atribui a capacidade do país ‘performar’ nesse aspecto, a despeito dos inúmeros – e relevantes – pontos em que o país se coloca abaixo da média na comparação global?

Hugo Tadeu – Performamos bem no quesito econômico, devido ao nosso tamanho enquanto país e grande volume de recursos movi – mentados. Isto não é traduzido em eficiência. Se o olhar for para as políticas públicas, temos um dos maiores PIBs do mundo, mas uma renda per capita baixa. Temos setores importantes para todo o planeta, como agronegócio e mineração, mas com desafios evidentes de produtividade. O aspecto central é a qualidade do que estamos fazendo e os resultados gerados.

Novo Varejo – Fazendo um apanhado geral: quais são os fatores que mais diferenciam os países competitivos (topo do ranking) dos países pouco competitivos (final do ranking).

Hugo Tadeu – Osaspectos centrais são qualidade da gestão pública e privada, consideráveis investimentos em pesquisa e desevolvimento, ciências, tecnologia, inovação e formação de pessoas. Todos estes países estão estruturando as bases para um futuro que está presente, pautado por alta qualificação, dados, IA e transformações silenciosas em andamento

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