Como reagem os importadores de autopeças? -

Como reagem os importadores de autopeças?

Em razão da impossibilidade de absorver o aumento dos custos em razão de já trabalharem com uma margem de lucro apertada, as importadoras de autopeças avaliam que o repasse dos reajustas ao varejo são inevitáveis.

A fim de captar a percepção desses importadores diante do atual contexto cambial, bem como descrever suas estratégias e expectativas para os próximos meses, o Novo Varejo ouviu três das mais influentes empresas do segmento no país: IRB, Motors Imports e Isapa.

Novo Varejo – Desde março o dólar tem tido grande valorização sobre o real. Qual o impacto no seu negócio?

Luis Venceslau, diretor geral da IRB – A valorização do dólar sobre o real e a desvalorização do dólar frente à moeda chinesa refletem um cenário desfavorável para quem trabalha com importação. Os custos aumentam consideravelmente, a matéria prima é um exemplo. O frete, também, sofreu grande alteração, chegando a dobrar o valor.

Direção da Motors Imports – O dólar impacta até mesmo a cotação de outras moedas e não somente o real, o movimento de alta é geral e estão todas acompanhando um mesmo ritmo, isso devido à boa política econômica dos Estados Unidos. O que acontece com o real é que, além do mercado internacional, sofremos com o momento de instabilidade econômica e política no país. O impacto no cenário econômico brasileiro deve ser principalmente por meio de pressão inflacionária para o mercado de autopeças, assim como o comércio em um todo.

Roland Setton, diretor da Isapa – A Isapa já está no mercado há bastante tempo e não fazemos importações baseadas somente em oportunidades, estamos mantendo nosso ritmo de compras. É claro que os produtos estão chegando com preços maiores. Acreditamos que todos os importadores “eventuais” e também os de “oportunidades” deverão reduzir significativamente suas compras.

 

Novo Varejo – É possível evitar o repasse dos aumentos aos varejistas?

Luis Venceslau – É sempre muito ruim reajustar preços, mas diante do cenário que mencionamos anteriormente o reajuste se torna inevitável. Mas acreditamos em uma mudança e na melhora da economia de nosso país.

Direção da Motors Imports – Diferentemente de alguns setores industriais que têm caminhos alternativos para reduzir custos e a possibilidade de trabalhar com mark-ups mais altos, os importadores de autopeças já trabalham com uma margem de lucro espremida em razão da concorrência e do próprio mercado, o que torna quase inevitável uma inflação dos preços de autopeças importadas para o varejo.

Roland Setton – Quando ocorrem movimentos cambiais dessa magnitude, parte do aumento é repassada ao varejista e outra parte os importadores absorvem e, consequentemente, reduzem suas margens. Portanto, o varejista certamente será impactado.

Novo Varejo – Alguns analistas econômicos apontam para a possibilidade do dólar chegar aos R$ 5. Como o mercado de autopeças responderia a isso?

Luis Venceslau – Não acreditamos nessa possibilidade, somos otimistas em relação ao nosso setor e ao futuro do país, isso não passa de especulação. E confiamos que muitos colegas do setor também se sentem otimistas como nós.

Direção da Motors Imports – Automaticamente o mercado irá inflacionar, assim como vem acontecendo nos últimos 12 meses, quando a taxa cambial do dólar cresceu em torno de 25% e importadores e fabricantes repassaram aumentos em suas linhas. O dólar a R$ 5 não afetaria apenas o mercado de autopeças, o poder de compra em geral cairia visto que praticamente tudo ao nosso redor está atrelado direta ou indiretamente ao dólar.

Roland Setton – A verdade é que ninguém sabe qual será a taxa cambial no futuro. Depende de muitas variáveis econômicas e políticas. Nós não estamos apostando em um cenário deste tipo, porém caso venha a acontecer, faremos os ajustes necessários e nos adaptaremos. Não seria a primeira nem a última vez em que este tipo de movimentação cambial aconteceria. Nos últimos 20 anos já ultrapassamos várias crises como esta.

 

Novo Varejo – É possível planejar mesmo diante de um cenário de tanta incerteza em relação à economia nacional?

Luis Venceslau – É impossível qualquer tipo de planejamento hoje em dia. A incerteza em relação à economia é um fator desfavorável para o planejamento das empresas em geral, não somente do setor de autopeças. Devemos trabalhar mais, ouvir menos comentários pessimistas e acreditar que vivemos em um país promissor.

Direção da Motors Imports – O cenário político vem causando turbulência no mercado com a proximidade das eleições. Os analistas especulam o tempo todo novos cenários, porém, a instabilidade do mercado torna difíceis as análises e especulações para um médio prazo; a precaução com o mercado é mantida todo momento, no entanto estão sendo preservados os investimentos em todos os nossos setores no aguardo de um mercado mais estável nos meses após as eleições.

Roland Setton – Para este final de ano, estamos trabalhando com o cenário praticamente estável em relação ao atual momento econômico e político. É claro que o cenário é de incertezas, mas temos que nos planejar baseados em premissas. Caso mudem as premissas substancialmente, mudaremos nosso planejamento.


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