Compartilhamento de carros apresenta oportunidades e desafios para a reposição automotiva -

Compartilhamento de carros apresenta oportunidades e desafios para a reposição automotiva

Com base em estudo, sócio da PWC afirma que veículos que levavam 10 anos para atingir 100 mil quilômetros rodados levarão apenas dois quando compartilhados

 

Por Lucas Torres ([email protected])

Uma das temáticas abordadas pela maior feira anual de varejo do planeta, a NRF Retail’s Big Show 2019 – realizada em janeiro em Nova Iorque – foi a mudança do comportamento e da percepção do cliente quanto à finalidade do consumo.

Cidadãos de países como China e Estados Unidos, por exemplo, estão em fase de transição de um consumo que antes era voltado para o produto em si para adotar um consumo direcionado ao serviço. Ou seja, o foco deixa de ser na compra voltada para se ‘ter’ algo e passa a ser na compra voltada para se ‘usar’ algo, para se servir de algo.

E, nesse ambiente de profunda alteração do comportamento do consumidor, os grandes players da indústria automotiva mundial já começam a ver uma mudança em seus modelos de negócios como questão imperativa para que consigam se manter vivos no mercado.

Em um dos estudos mais completos a respeito do impacto que a profunda mudança comportamental do consumidor exercerá sobre o setor automotivo, a PWC – consultoria de negócios presente em mais de 158 países – apontou a cultura do compartilhamento de automóveis e a revolução tecnológica dos veículos como principais pilares de um novo mercado que deve ser planejado a partir de já pelo empresariado. Seguindo a macrotendência de consumo apresentada na NRF, cada vez mais o carro deixará de ser um produto para se tornar um serviço, cujo propósito final será a mobilidade.

De acordo com o estudo batizado de ‘Cinco Tendências Transformadoras da Indústria Automotiva’, os veículos compartilhados estão em um caminho de franca evolução e deverão, já em 2030, ocupar o espaço de 1 a cada 3 quilômetros de tráfego no mundo.

Tais compartilhamentos se darão pelas mais diversas modalidades que, divididas em duas grandes categorias, se separam nos modelos ‘Car2go’ e ‘Uber Model’.

O primeiro contempla os compartilhamentos em que o usuário pode dirigir um veículo que não é de sua propriedade por um tempo determinado.

No Brasil, atualmente, esse modelo é explorado de diferentes maneiras pelas seguintes empresas:

Moobie: funciona como uma grande plataforma de anúncios de locação. Proprietários de carros particulares anunciam suas disponibilidades de alugar o carro em determinados períodos por uma tarifa pré-determinada pela Moobie, e interessados podem aluga-lo por um dia inteiro ou algumas horas mediante pagamento da tarifa pré-estabelecida.

Urbano, VAMO e Target Share: tal como em aluguéis de bicicletas utilizadas na cidade de São Paulo, como as do ‘Itaú’, por exemplo, nos modelos da Urbano, da VAMO e da Target o usuário pode pegar um carro em uma estação fixa, utiliza-lo para se locomover, e estaciona-lo em qualquer outra estação indicada no aplicativo da empresa. O pagamento é feito via cartão de crédito e o preço é calculado de acordo com a distância percorrida.

Zazcar: semelhante ao modelo descrito acima, mas com uma diferenciação importante. Ao invés de poder deixar o carro em qualquer uma das estações de estacionamento indicadas no aplicativo, o usuário tem de deixar o veículo no mesmo ponto em que o retirou.

Carro Fácil Porto Seguro: o carro por assinatura. Nesse modelo o usuário aluga o veículo de sua escolha por um ano e paga uma mensalidade que inclui seguro com assistência 24 horas, IPVA, documentação, revisões periódicas programadas, carro reserva e serviço leva e traz em caso de manutenção.

Já a segunda grande categoria, denominada ‘Uber Model’ pelo estudo da PWC, abarca, além da própria Uber, empresas como Cabify e 99Táxi.

Apesar de suas diferenças, todos os modelos – exceto o da Porto Seguro, que ainda segue a lógica da individualidade – têm em comum características como a potencialidade de redução da frota circulante nas cidades e de aumento da utilização dos veículos existentes.

De acordo com o sócio da PWC, Marcelo Cioffi, enquanto carros individuais levam em média 10 anos para atingir 100 mil quilômetros rodados, carros compartilhados tendem a levar apenas 2 anos para chegar à mesma rodagem. “A utilização dos veículos cresce exponencialmente com o compartilhamento, já que eles passam a maior parte do tempo em circulação, enquanto os individuais ficam a maior parte do tempo estacionados, sem rodar”, analisa executivo.

Tal característica, obviamente, representa uma grande oportunidade para o mercado de reposição automotiva – o desgaste dos componentes dos automóveis compartilhados tende a ocorrer de maneira muito mais rápida, o que, em tese, compensa a tendência da diminuição da frota que ocorreria pela retirada do caráter individual do automóvel.

Sobre a diminuição da frota, aliás, um estudo encomendado pela Prefeitura de São Paulo em 2015, apontou que para cada carro compartilhado, outros 15 são retirados das ruas.


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