Em uma sociedade cujos indivíduos buscam cada vez mais se sentirem únicos – do modo de se vestir até a forma com que desejam ser atendidos por lojistas, os carros tunados possuem um ambiente para lá de fértil para se popularizarem ainda mais.
Afinal, mais do que um meio de se locomover por avenidas e rodovias, os automóveis já fazem parte da cultura nacional como uma espécie de ‘extensão’ da personalidade de seu proprietário e a customização à gosto do dono nunca fez tanto sentido.
Mas em que consiste essa coisa de ‘tuning’?
Por definição, carros tunados são aqueles veículos que têm seu visual ou sua composição mecânica original alterada – seja pela adição de acessórios, substituição de peças e/ou por uma mudança da coloração com a qual ele saiu de fábrica.
Carros tunados e a legislação brasileira
Na legislação brasileira de trânsito, no entanto, é preciso tomar cuidados especiais antes de fazer mudanças significativas na composição original do veículo.
Questões pequenas como aumento ou diminuição da potência do motor em até 10%, bem como pintura de 50% ou menos da área total do carro, são autorizadas sem necessidade de solicitação ou aviso prévio ao Detran.
Para outras alterações, porém, é fundamental que o proprietário peça autorização prévia a fim de que o Detran verifique – com base no Código Brasileiro de Trânsito (CTB) – se as alterações pretendidas se encaixam em normas pré-estabelecidas.
Outro órgão envolvido nos trâmites que precedem a concessão de documento de autorização para que se possa promover modificações no veículo é o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) – que observa itens de segurança como pneu, chave de roda, estepe e iluminação.
Em casos de alterações no motor do automóvel, o Inmetro analisa ainda seus possíveis efeitos ambientais a partir de testes de emissão de poluentes.
Somente em posse do Certificado de Segurança Veicular concedido após avaliação do Inmetro é que o proprietário do veículo poderá ter sua autorização de customização deferida pelo Detran.
A multa para carros tunados sem a autorização do Detran varia de acordo com a magnitude da alteração realizada – sendo modificações populares como a instalação de faróis xenon passíveis de multa de R$ 195,23 por infração grave – além de apreensão do veículo até sua regularização.
As customizações mais populares
Bom, até aqui você já sabe o que significa tunar ou customizar um veículo. Sabe também os cuidados legais a serem tomados para evitar que sua aventura de personalização termine com sérios prejuízos econômicos e legais.
Mas, afinal, quais são os itens mais comuns a serem alvos da criatividade dos proprietários dos carros tunado?
Seja para satisfazer sua curiosidade ou até te dar ideias de como deixar seu carro com a sua cara – separamos as customizações mais populares e seus custos aproximados.
1 – O envelopamento – Uma das customizações mais populares no Brasil, o envelopamento é uma forma mais simples e barata de se alterar a cor original do automóvel. O mais interessante dessa opção de tuning, porém, é o fato de que ela vai além da simples questão estética.
Consistindo na aplicação de uma película adesiva sobre a pintura original do automóvel, o envelopamento – quando feito por um verdadeiro profissional – preserva a lataria original intacta, o protegendo contra desgastes do tempo provenientes de seu contato com o meio externo tais pequenos riscos e descolorações.
Para que o envelopamento seja duradouro e não danifique a pintura original, porém, é necessário que se utilize um adesivo de boa qualidade – o que, somado à mão de obra, faz com que o custo dessa customização varie entre R$ 1.500 a R$ 3.500 em caso de envelopamento completo do veículo.
No Brasil, pesquisas apontam que 50% dos proprietários que optam por essa customização o fazem em toda a extensão do veículo utilizando as cores preto fosco ou branco fosco. Outros 40% optam pelo envelopamento exclusivo do teto e têm preferência pela cor preta. Apenas 10% decidem por envelopar apenas partes pequenas como o capô ou o retrovisor.
2 – Carro rebaixado – Uma das características mais comuns em carros tunados é o aumento da proximidade de sua lataria com o solo – efeito que nos remete às máquinas popularizadas pelos grandes rappers dos anos 90.
A maneira mais comum de produzir essa customização se dá a partir da alteração de componentes como molas e amortecedores da suspensão fixa – processo que tem de ser realizado com extremo cuidado quanto à qualidade e a adequação das peças àquele modelo específico de veículo.
Rebaixamentos mal realizados afetam diretamente a segurança do veículo – já que alteram na importantíssima estrutura da suspensão do automóvel, responsável por absorver os impactos e as irregularidades do solo, levando em consideração inúmeras características dos veículos para os quais foi desenvolvida.
Por questões de segurança, a legislação brasileira estabeleceu um limite mínimo de 10cm entre o chassi do veículo e o solo – determinando multa e apreensão do veículo rebaixado que não respeitar essa regra.
Justamente por essa sensibilidade no âmbito da segurança, o custo para se rebaixar o veículo – que se inicia entre R$ 800 e R$ 1.500 reais entre peças e mão-de-obra, é acrescido de R$ 450,00 a serem pagos para a solicitação de inspeção obrigatória do Inmetro.
3 – Iluminação – Febre entre os condutores na primeira metade do século XXI, a aplicação de faróis xênon em veículos comuns, isto é – sem a capacidade de regular seu funcionamento vinda de fábrica, foi proibida pela legislação brasileira por apresentar riscos à segurança do trânsito.
Diante desse impedimento, os customizadores voltaram suas atenções às lâmpadas LED – por conta de sua maior economia e durabilidade em relação às lâmpadas comuns.
Para fazer sua instalação, porém, é indispensável solicitar a aprovação do Detran – ao passo que este considera sua aplicação uma mudança ‘estrutural’ de relevância no veículo, dadas as implicações que uma má iluminação pode causar para a segurança no trânsito.
Os custos iniciais do farol de LED giram em torno de R$ 110,00 reais – valor acrescido também da taxa de solicitação de inspeção obrigatória do Inmetro.
4 – Motor – Para aqueles proprietários que priorizam o desempenho sobre a aparência do veículo, nenhuma alteração é mais relevante do que aquela feita no motor do carro.
Existem, para esses interessados, diversas formas e alternativas para se alterar a composição do motor de acordo com a preferência do condutor. Separamos aqui duas delas:
Reformulado: A mais tradicional dentre elas é o motor reformulado, feito com base no original – que é removido, desmontado, limpo, inspecionado – além de, quando preciso, reparado e testado, sempre de acordo com os procedimentos descritos em seu manual de fábrica.
No processo de reformulação do motor são realizadas as substituições de rolamentos, anéis de pistão, retentores e juntas novas de qualidade – sejam elas peças originais ou vindas do aftermarket.
Remanufaturado: Nesta modalidade de tuning os motores recebem uma completa mudança se comparado aos originais. O termo remanufatura se refere ao fato dessa ‘reconstrução do motor’ respeitar especificações limitadas conforme o modelo do veículo e não para descrever um motor que possui peças usadas.
Carros tunados e a ‘cultura pop’
Conhecidos há muito tempo dentro do nicho dos amantes mais aficionados do automobilismo, os carros tunados ganharam atenção especial do grande público por meio da chamada cultura ‘pop’.
No cinema, a franquia ‘Velozes e Furiosos’ – sucesso de bilheteria ao redor do mundo em todos os seus 14 filmes, tem nesses veículos customizados de visual atrativo e motores ‘envenenados’ o core de sua trama.
Em seu enredo, atores notórios como Vin Diesel disputam uma série de ‘rachas’ com modelos clássicos que ganharam ainda mais notoriedade e se fixaram na memória popular depois dos filmes.
Exemplos de carros que participaram da franquia: um Dodge Charger 1970 – modelo que representa os ‘Muscle Cars’ das décadas de 60/70; um moderno e chamativo Nissan Skyline; um Ford Gran Torino Sport que protagonizou um filme homônimo estrelado por Clint Eastwood em 2008; um Mazda RX-7; um sofisticado e turbinado Porsche Cayman S; e – como não poderia faltar – uma imponente Ferrari FXX.
Além das telonas, os carros tunados ganharam notoriedade e se fixaram no imaginário das novas gerações a partir dos jogos de videogame nos quais a arte de tunar o carro era até mais importante do que as próprias corridas de carro.
Dentre um grande escopo de jogos que exploraram essa veia ‘customizadora’ do mundo automobilístico – franquias como o ‘Need For Speed’ e o ‘Gran Turismo’ ganharam destaque especial.
Lançado no ano de 2003, no rastro do grande sucesso que foi o filme ‘Velozes e Furiosos’, a edição ‘Need For Speed Underground’ foi talvez o grande consolidador da cultura dos carros tunados nos consoles.
Com centenas de peças que alteravam as dinâmicas dos carros da potência do motor até a estabilidade de seu sistema de suspensão – além de diversas opções de pinturas e de acessórios estéticos, o jogo impulsionava os ‘gamers’ a passar horas nas etapas de customização antes de experimentarem seus carros nas pistas.
Os diferentes estilos e nomenclaturas de carro tuning
Carros tunados são carros tunados, certo? Não exatamente. Quer dizer, para o público leigo – que não está necessariamente conectado com aquilo que os apaixonados chamam de ‘cultura tuning’, a nomenclatura geral até faz sentido.
Para os amantes da arte de colocar sua própria identidade no veículo e fazer do automóvel uma extensão de sua personalidade, os carros tunados são divididos entre mais de uma dezena de subcategorias.
Ficou curioso? Separamos abaixo algumas das mais notórias classificações de tuning que circulam ao redor do mundo:
Rat Style: Um estilo bem popular que imita a aparência ‘inacabada’ (ou até surrada!) de automóveis nos anos de 40, 50 e 60. Essa subcategoria se relaciona ao carro barato que se mantém – valente – na estrada, independente do que aconteça ou do que as outras pessoas possam apontar! Este estilo rememora à época de ouro do tuning, que durou entre a Segunda Guerra Mundial e o início dos protocolos ambientais em favor do meio ambiente.
Estilo Euro: Essa subcategoria conta com uma pintura de cor escura, rodas pequenas e um corpo pequeno do carro. Quase como se fosse ‘minimalista’.
Lowrider: Tem configurações hidráulicas peculiares no motor, pintura chamativa e rodas chiques. Essa categoria conta com modelos que trazem tendências de restaurações retas ao corpo do automóvel. Ficou imortalizada no clipe ‘Still’ do produtor americano Dr. Dre e do rapper global e icône da cultura pop – Snoop Dogg.
JDM: Esse estilo é típico dos veículos japoneses. Conta com peças de reposição e detalhes que nos remetem às corridas.
DUB / DONK: Essa subcategoria abusa do uso de grandes rodas de grife, altos falantes setups e possuem uma altura particularmente elevada em comparação com os demais veículos que – como ele – possuem estilo de ‘carro de passeio’
SLAB: Viveu seu apogeu em meados dos anos de 1980. Ele tem rodas personalizadas de maneira similar às usadas pelo famoso Cadillac Eldorado 1984. Conta também com alto-falantes setups (iguais ao DUB / DONK), sinalização de néon e aço inox no painel, pintura chamativa (várias camadas de verniz), grade aftermarket (semelhante aos Rolls-Royce e Bentley) e tonalidade bege à parte interior!
Bōsōzoku / zokusha: Popular entre os amantes da cultura asiática, esses carros tunados possuem estilo japonês com fuselagem larga, enormes asas e escapamentos exagerados.
Sua pintura traz uma tendência praieira clássica (cores brilhantes) e de características sutis adicionadas que visam passar a ideia de um estilo despojado.
Militares: Esse carros, como diz o nome da subcategoria, são projetados para serviços de segurança pública (militar, marinha, polícia, etc.).
Race: Também como o nome não faz ‘mistério’, a subcategoria race representa carros modificados para disputar corridas, o que engloba desde os grandes automotivos da Fórmula 1 até a mais fraca modalidade NASCAR.
Hot rod: Esses veículos saudosistas reproduzem características de hastes arrastadas típicas das décadas de 1930 e 1940.
Ralis: Carros construídos para enfrentar tráfegos OFFROAD – ou seja, em terrenos ‘acidentados’ que exigem muito da capacidade de amortecimento de sua suspensão
Drag racing: Esses carros são projetados para a velocidade linear.
South London Look: São modelos britânicos da Ford fabricados entre os anos 50 e 70 do século XX. Entre suas características principais estão o fato de serem rebaixados, bem como possuírem pintura pastel e rodas clássicas.
Estilo alemão: Volkswagen Tipo 1 ou Tipo 3 reduzido, equipado em rodas de Porsche – marca cujo criador, Ferdinand Porsche possuía ligação próxima com a Volks.. Sua suspensão modificada tem ênfase à força na manipulação nas curvas.
Personalizados: Esses veículos construídos para showroom – ou seja, em salões e feiras de exposição. Na prática os termos “personalizado” e “customizado” representam quase um sinônimo de carros tuning.
