Correspondente: Aftermarket, indústria e varejo automotivo na Argentina -

Correspondente: Aftermarket, indústria e varejo automotivo na Argentina

Conheça o setor no país da América do Sul.
Por Bruno Núñez

Um dos vizinhos do Brasil, a Argentina é um dos principais protagonistas na América do Sul no setor do aftermarket automotivo. Buscamos saber mais sobre o varejo de autopeças e outros tipos de informações do mercado dessa nação através da Asociación de Fábricas Argentinas de Componentes (AFAC), que desde 1939 representa os fabricantes de peças do país.

Três representantes da AFAC nos ajudaram a entender mais como funciona a Argentina nesse segmento: Juan Cantarella (Gerente Geral da AFAC), Norberto Taranto (empresa Taranto) e Ariel Rosenthal (empresa L.V.Spada y Cía). Com o auxílio deles, você conhecerá mais sobre o setor no estrangeiro. É a primeira matéria da série Correspondente do Novo Varejo.

Cadeia da reposição

“Na Argentina, se denomina o dono do carro como usuário e o mecânico como cliente (que é quem define a marca que se compra). A cadeia, em linhas gerais e na sua maioria, se apresenta no esquema indústria, distribuidor, varejo e oficina, mas coexistem outros tipos de esquemas comerciais (com muito menos relevância) que estão se adaptando aos novos tempos, motivados pelo comércio eletrônico, grupos de compras e redes de oficinas. Alguns exemplos são: indústria, varejo e oficina; indústria, distribuidor e oficina; indústria e oficina; indústria e usuário. O porcentual da frota atendida na Argentina é dividida da seguinte maneira: as oficinas independentes têm 84% do mercado, enquanto os distribuidores oficial das marcas ocupam 16% do negócio.”

Grandes cadeias varejistas

“Não é comum a existência de grandes cadeias varejistas no país. Na área dos motores podem se reconhecer duas que atendem 7% desse mercado: Cooperativa de Rectificadores CRAC (5%) e Grupo Unipartes (2%). Além delas, no setor de oficinas e autopeças é possível ver um crescimento desse tipo de negócio, mas sua relevância ainda é pequena na Argentina em comparação à Europa ou Estados Unidos. Alguns exemplos que se instalaram foram Norauto, Eurotaller, Eurorepar e Bosch Car Service.”

Informação técnica

“A AFAC está trabalhando em conjunto com outras associações para facilitar o acesso à informação, não apenas para a rede de oficinas, mas também para o consumidor. Isso ainda não foi resolvido. Nossa referência de marco legal em matéria de competição no mercado de aftermarket é a União Europeia, com quem o Mercosur assinou recentemente um acordo de livre comércio. Fazem mais de duas décadas que esses países europeus são obrigados a dar acesso igualitário de informação técnica a todos os players do mercado de reposição. Tanto que em 2018, a Renault foi denunciada naquele continente diante do organismo de Defesa de Competição por dar um tratamento diferenciado às oficinas oficiais em relação às indepententes, pela qual teve que assumir compromissos e corrigir seu comportamento.”

Comercialização de peças recicladas e remanufaturadas

“De acordo com a Lei Nacional de Trânsito da Argentina, está proibida a comercialização de autopeças de segurança, ao menos que seja possível vender o produto com o processo garantido de recondicionamento, o qual na atual situação não acontece. O resto das autopeças usadas ou recuperadas de veículos destruídos podem ser comercializadas se cumprirem uma série de regulações. No geral, existe pouco volume desse tipo de componente, apesar que em alguns casos, e ocasionalmente, eles geram alguma distorsão no mercado.”

E-commerce

“O e-commerce está em desenvolvimento e representa um 4% da venda total de autopeças, de acordo com o Mercado Livre da Argentina. As perspectivas são de alto crescimento, e em quanto a sua evolução, hoje são poucas as empresas que não participam ou que não estejam avaliando estratégias firmes para ganhar mercado através desse meio. Cabe destacar que existem diferentes alternativas de canais próprios ou empresas dedicadas ao comércio pela internet. Em sua maioria estão capitalizadas por essa segunda opção.”

Indústria do aftermarket

“A indústria do aftermarket na Argentina está conformada por fábricas nacionais e multinacionais que abastecem a nível local, exportam e alguns também importam certos produtos para complementar a oferta aos seus clientes. Também existem importadores em diversas modalidades.”

“Existe uma composição heterogênea produtiva e comercial. Os componentes fabricados vão desde acessórios, diversas partes do motor, chassis, carroceria, vidros, baterias, suspensão, pneus, peças elétricas, rodas, filtros, etc. As marcas mais importantes a nível internacional estão presentes no mercado, como também marcas de empresas locais que também tem importante presença no mercado de exportação.”

No Brasil, existem algumas marcas de origem argentina estabelecidas, como a Taranto, especializada em parafusos, juntas, retentores e outros componenetes, Wega Motors, focada em filtros e velas de ignição, e YPF, da área dos lubrificantes.

Principais problemas da indústria do aftermarket local

“Atualmente a Argentina sofre uma perda de poder aquisitivo muito forte, afetando diretamente a atividade do nosso segmento. A economia em seu macro não tem dado sinais de regularidade, sendo quase impossível estabelecer um horizonte de projeções de crescimento a curto ou médio prazo.”

“Podemos numerar alguns fatores de impacto direto na indústria argentina: falta de financiamento, altas taxas de juros, excessiva carga tributária, altas cargas laborais não salariais e a entrada de autopeças de países asiáticos em condições irregulares.”

Inspeção veicular

“Existem dois tipos de inspeções técnicas: a revisão técnica obrigatória (RTO) e a verificação técnica veicular (VTV). A diferença é que a primeira é voltada a todos os veículos de transporte de carga e passageiros que façam transporte interjurisdicional. Por outro lado, a VTV não habilita a transportar carga, é para uso particular e precisa da adesão de cada uma das jurisdições. Existem oficinas privadas para o controle RTO e plantas habilitadas para a VTV, nas quais são realizadas os controles. É obrigatório, por exemplo, para os veículos particulares radicados na Cidade Autonôma de Buenos Aires com mais de 3 anos ou mais de 60 mil km, até 3.500 kg e motos particulares com 1 ano de uso.”

Carros elétricos

O Volt e1, primeiro carro 100% elétrico argentino

“No ano passado as vendas mundiais de carros elétricos aumentaram 63%, isso representa um pouco mais do 2% total. Na Argentina ele ainda não está desenvolvido. Vemos como um futuro imediato o desenvolvimento do veículo híbrido, mas que ainda não resulta na tendência do 100% elétrico, principalmente pela infraestrutura que é necessária e o alto risco ecológico da disposição final de baterias.”

“Na Argentina já são comercializados modelos híbridos, além disso foi apresentado o primeiro carro 100% elétrico do país, apesar do processo de substituição se encontrar em estado embrionário. O país espera um crescimento sustentado, mas muito gradual, que levaria a vender 50 mil veículos em 2025 e 300 mil para 2030, até alcançar um 10% da frota ativa.”

O primeiro carro 100% elétrico argentino é o e1 fabricado pela Volt Motors. Projetado e desenvolvido na Argentina, o modelo é montado na cidade de Córdoba. O city car tem 2,80 m de comprimento, 1,70 m de largura e 1,50 m de altura, pesando 550 kg. A autonomia do pequeno veículo é de 150 km com velocidade máxima de 110 km/h. O automóvel é comercializado desde abril de 2019.

Frota

“O 87,7% da frota total está representada por sete marcas: Volkswagen, Renault (essas duas dominam, a primeira com 16,1%, enquanto a segunda tem 15,8% do mercado), Ford, Fiat, Chevrolet, Peugeot e Toyota.”

Futuro da indústria automotiva

A Argentina é uma das maiores indústrias da América Latina, só atrás do Brasil e do México. Diversas montadoras estão instaladas no país: FCA, Ford, Volkswagen, PSA, Toyota, GM, Renault, entre outras.

“De acordo com a informação da Asociación de Fabricantes de Automotores (ADEFA), é esperado para este ano uma produção de veículos 30% inferior a de 2018. O fator determinante da continuidade do ciclo ressessivo foi a debilidade do mercado interno, pela acumulação de unidade na rede de concessionárias, e a retração que mantiveram as exportações no período interanual. Cabe destacar que nosso principal destino de exportações é o Brasil que também sofreu uma retração na atividade, afetando nossas exportações. Entendemos que as decisões sobre inversões estarão à espera da definição do governo que assuma no mês de dezembro e suas políticas setoriais a implementar.”

Recentemente, o país escolheu seu novo governante. No dia 27 de outubro, Alberto Fernández foi eleito o novo Presidente da Argentina, após derrotar Mauricio Macri, que tentava a reeleição.

Relação com o Brasil

“A importância do Brasil é alta. Ele é o nosso principal parceiro comercial. Muitas marcas estão presentes no mercado argentino.”

Confira a galeria de Buenos Aires, a capital da Argentina:

Confira o vídeo da matéria:


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