Crédito privado começa a dar primeiros sinais de recuperação -

Crédito privado começa a dar primeiros sinais de recuperação

O ambiente mais positivo, somado às taxas das debêntures distorcidas, levou a um aumento das compras dos títulos no mercado, com alguma normalização dos spreads

FolhaPress

O mercado de crédito privado parece que finalmente começa a respirar aliviado. Após o estresse causado pelos episódios envolvendo Americanas e Light, que paralisou as emissões de títulos de dívida pelas empresas e aumentou a taxa média (spread) paga na negociação dos papéis para que os investidores aceitassem comprá-los, ao longo das últimas semanas já pôde ser observado algum arrefecimento.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) compilados pela gestora de recursos Sparta, cuja expertise é o mercado de crédito privado, o spread médio dos títulos de dívida em relação ao CDI negociados no mercado, que vinha em uma escalada praticamente ininterrupta de alta desde o início do ano, inverteu a tendência em meados de maio e passou a cair.

CEO da Sparta, Ulisses Nehmi afirma que não houve um evento pontual que mais tenha contribuído para o fechamento das taxas, mas sim um conjunto de fatores que melhoraram o ambiente de mercado.
O andamento das regras do novo arcabouço fiscal no Congresso, os dados acima do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) e a desaceleração da inflação, que reforça a perspectiva de queda da Selic no segundo semestre, são apontadas pelo gestor entre as razões que abriram caminho para que o mercado de crédito privado começasse a esboçar os primeiros sinais de recuperação.

“Vimos no meio de maio um ponto de virada” no crédito privado, afirma Nehmi.

O ambiente mais positivo, somado às taxas das debêntures distorcidas, levou a um aumento das compras dos títulos no mercado, com alguma normalização dos spreads, diz o CEO da Sparta, acrescentando que, seguindo essa mesma toada mais positiva, o fluxo de saída de recursos dos fundos do segmento diminuiu de maneira considerável durante as últimas semanas.

Após resgates líquidos mensais entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões entre fevereiro e abril, em maio, o volume de retiradas caiu para cerca de R$ 4 bilhões, de acordo com dados de mercado monitorados pela Sparta. “Os resgates estão em um ritmo que já não gera mais necessidade de venda forçada dos ativos”, diz Nehmi.

Com a melhora no sentimento dos agentes financeiros em relação às oportunidades no crédito privado, grandes empresas que tradicionalmente acessam o bolso dos investidores começam a voltar a estruturar operações de captação de recursos via emissão de títulos de dívida.

Segundo fontes, empresas de energia elétrica e concessionárias como Copel, Cemig, Ecorodovias e CCR estão com ofertas em andamento com potencial para movimentar volumes acima de R$ 1 bilhão cada.

Dados da Anbima mostram ainda que as ofertas de renda fixa movimentaram R$ 20,2 bilhões em maio, o que corresponde a um crescimento de 71% na comparação com abril. Cerca da metade do montante foi por meio de debêntures, que somaram R$ 9,8 bilhões em emissões no mês passado.

“Depois do aumento da volatilidade, começamos a ter uma calmaria e o mercado consegue separar o joio do trigo e percebe que nem tudo é problemático”, diz Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating.

Empresas sólidas financeiramente, com bom histórico de pagamento das obrigações, são as que já encontram demanda de investidores para voltar a realizar emissões, acrescenta Santacreu.

Gestor de crédito privado da AZ Quest, Laurence Mello afirma que, mesmo com a perspectiva de queda da Selic à frente, a expectativa do mercado é de que os juros permanecerão em níveis elevados -no boletim Focus do dia 2, a mediana das projeções dos economistas consultados pelo Banco Central (BC) aponta para uma taxa de 12,5% em dezembro, ante o atual patamar de 13,75% ao ano.

Por isso, mesmo com o início do ciclo de corte dos juros, títulos de dívida de empresas de boa qualidade que oferecem um spread em relação ao CDI ainda vão oferecer uma rentabilidade atrativa na casa dos dois dígitos ao longo dos próximos meses, diz Mello.

“O mercado de crédito privado está pouco a pouco voltando à normalidade”, afirma Bruno Mori, economista e sócio fundador da consultora de planejamento financeiro Sarfin.

Mori diz que, para o investidor pessoa física, a recomendação é que o investimento no nicho de mercado seja feito por meio dos fundos, com gestores que fazem a avaliação e as trocas nas carteiras conforme o risco e o retorno de cada empresa.

Mello, da AZ Quest, afirma também que, embora os spreads no crédito privado tenham experimentado algum arrefecimento, eles ainda seguem em patamares acima do observado no final do ano passado, quando estavam em torno de 1,5% acima do CDI, frente aos atuais 2%.

Há, portanto, espaço para que a recuperação nos preços dos títulos continue, se o cenário macroeconômico se mantiver em uma trajetória positiva, diz o gestor. “Já passamos pelo fundo do poço e estamos voltando a ver uma luz no fim do túnel.”


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