Crédito restrito e incertezas travam mercado de novos; seminovos seguem em alta, aponta ANEF -

Crédito restrito e incertezas travam mercado de novos; seminovos seguem em alta, aponta ANEF

Presidente da associação que representa as financeiras de montadoras prevê desempenho moderado em 2025 e alerta para impacto do IOF e da política monetária
Crédito: Shutterstock

O setor automotivo brasileiro encerrou o primeiro semestre de 2025 sob um cenário desafiador, marcado por incertezas no mercado interno, turbulências internacionais e dificuldades para a retomada do crédito. A avaliação é de Enilson Sales, presidente da ANEF (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras), que projeta um desempenho moderado para o restante do ano, com maior resiliência no mercado de seminovos e usados, enquanto as vendas de veículos novos seguem pressionadas por obstáculos econômicos e fiscais.

Segundo o executivo, a combinação entre a restrição na concessão de crédito, a desaceleração nas compras feitas por empresas e a volatilidade tributária — especialmente em relação ao IOF — prejudica a previsibilidade e a confiança do setor. “O vai e vem nas discussões sobre o imposto tem preocupado o setor automotivo. A instabilidade fiscal gerada por incertezas em torno do IOF afasta o mercado e dificulta o planejamento”, afirma Sales, apontando a possível judicialização do tema como um fator adicional de insegurança para consumidores e empresas.

A recuperação, segundo ele, dependerá principalmente da oferta de crédito e do grau de confiança do consumidor. “Há espaço para crescimento entre os clientes pessoa física, desde que haja melhora nas condições financeiras. Já no mercado corporativo, a cautela continua sendo a regra”, avalia.

Outro ponto decisivo será a condução da política monetária. A expectativa da ANEF é de que os próximos movimentos da taxa Selic, definidos pelo Banco Central, reflitam as pressões domésticas e internacionais, com impacto direto sobre o apetite por financiamento.

No plano externo, conflitos armados e oscilações no preço do petróleo continuam afetando os custos logísticos e produtivos da indústria automotiva, o que, segundo Sales, acaba sendo repassado ao consumidor.

No campo político, o presidente da ANEF vê com ceticismo a adoção de incentivos ao setor. “Com o governo focado em ampliar a arrecadação, não se vislumbra espaço para novas políticas de estímulo. O setor deve seguir contando com sua própria capacidade de adaptação e eficiência”, resume.

Para 2025, a ANEF projeta uma retração no volume total de financiamentos em relação a 2024, com maior impacto sobre os veículos novos. Apesar disso, Sales destaca que o setor mantém atenção a oportunidades de crescimento e aposta na digitalização, eficiência operacional e fortalecimento da relação com o consumidor, principalmente por meio do mercado de seminovos, que tem se mostrado mais resiliente diante da instabilidade econômica.


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