Crise do transporte marítimo internacional impacta o mercado brasileiro de autopeças -

Crise do transporte marítimo internacional impacta o mercado brasileiro de autopeças

Jornalismo do Novo Varejo conversou com o diretor de uma das mais tradicionais importadoras de autopeças do país, Guido Luporini, da Luporini. Na entrevista, abordoamos não apenas as dificuldades enfrentadas pela empresa durante este momento de crise mundial, mas também como a Luporini tem se articulado junto a clientes e fornecedores.

Lucas Torres [email protected]

Entre os signatários do documento enviado pela CNI ao poder público, o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) teve motivos de sobra para integrar a lista. Afinal, o setor de autopeças brasileiro tem sido – já há muito tempo – um entre aqueles em que as importações representam parcela significativa.

Números do último relatório da Balança Comercial de Autopeças divulgado pelo Sindipeças mostram, por exemplo, que o setor importou US$ 9,7 bilhões até julho deste ano. O montante acumulado pelas exportações, por sua vez, ficou na marca dos US$ 3,7 bilhões. A equação revela um déficit de US$ 5,9 bilhões na balança comercial de autopeças do país em 2021. Tal configuração mostra a importância das empresas responsáveis pelos trâmites de importação de peças automotivas atuantes por aqui.

Assim, a maneira com que elas estão se relacionando com uma crise de tamanha magnitude do transporte marítimo internacional deve ser motivo de atenção dos mais diferentes elos da cadeia de fornecimento tanto para o aftermarket quanto para as linhas de montagem de veículos.

Para trazer os efeitos práticos da conjuntura que vivemos no transporte marítimo, nossa reportagem conversou com o diretor de uma das mais tradicionais importadoras de autopeças do país, Guido Luporini, da Luporini. Na entrevista, abordoamos não apenas as dificuldades enfrentadas pela empresa durante este momento de crise mundial, mas também como a Luporini tem se articulado junto a clientes e fornecedores. Novo Varejo – O aumento no preço do frete de importação por via marítima tem afetado os custos dos produtos importados pela Luporini?

Guido Luporini – Sim. Houve um brutal aumento nos preços dos fretes desde o início da pandemia. Aumentos acima de 70%.

NV – De que maneira esta situação está impactando a relação com seus parceiros e clientes no Brasil?

GL – Dentro do possível estamos absorvendo parte destes custos, evitando repassar reajuste de preços aos clientes. Até o momento repassamos um pequeno percentual nos preços de venda.

NV – Nas últimas semanas, o setor produtivo tem se queixado da falta de contêineres e/ou navios para realizar o transporte dos produtos importados. No que diz respeito ao mercado de autopeças, isso vem  ocorrendo?

GL – Esta é a situação de momento. Alguns embarques atrasam por falta de equipamentos de transporte. Outros atrasam devido a restrições sanitárias nos portos, acarretando fechamento de posições de embarque. Nossos agentes estão trabalhando fortemente para encontrar soluções para que não haja prejuízo no atendimento aos clientes. Por enquanto estamos conseguindo, dentro do possível, soluções adequadas a cada momento.

NV – Além das dificuldades relacionadas ao transporte marítimo, o segmento também está sofrendo com a escassez de produtos?

GL – Certamente o prazo de atendimento das encomendas junto aos fornecedores está maior. Temos uma base de abastecimento consolidada e estamos negociando atendimento prioritário, evitando faltar produtos. Mas, em certos momentos, ocorrem algumas faltas pontuais, mas que não têm impactado muito nos negócios.

NV – Qual foi o tamanho das dificuldades geradas pelo enfraquecimento do real ao longo da pandemia?

GL – Realmente a variação cambial é ponto impactante nos negócios. Mas não é só isso. Estão ocorrendo também aumentos nos preços dos produtos devido a reajustes de matérias primas. Mas, a Luporini atua com importação há bastante tempo e sempre utiliza mecanismos financeiros para mitigar estas dificuldades. De qualquer forma, o câmbio é ponto importante a ser acompanhado sempre.

NV – A situação tende a se normalizar ainda em 2021 ou a expectativa é que algumas dificuldades trazidas pela pandemia perdurem por mais tempo?

GL – As dificuldades trazidas pela pandemia no mercado de reposição automotiva estão sob controle e praticamente superadas. Porém, quando falamos sobre economia, principalmente neste momento em que a situação política do país está um tanto conturbada, fica difícil fazer alguma previsão assertiva sobre o futuro. Temos que ir acompanhando e nos adaptando à medida que os ventos mudam.


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