Crises econômicas cíclicas -

Crises econômicas cíclicas

Esta reflexão tem o objetivo de levantar alguns dados históricos sobre as mais importantes datas das nossas crises econômicas – e sinteticamente as suas causas.

Esta reflexão tem o objetivo de levantar alguns dados históricos sobre as mais importantes datas das nossas crises econômicas – e sinteticamente as suas causas.

Comecemos pela primeira e maior crise do capitalismo ocidental marcada até os nossos dias, a depressão americana de 1929 e 1930, que pegou em cheio o maior produto de exportação brasileiro à época, o café.

Sete anos depois de muito trabalho e recuperação econômica, 1937, surge uma nova crise desde uma recaída da recessão americana. A segunda grande guerra passou entre seus desafios nos anos seguintes, e uma expansão econômica mundial começava a ser experimentada, até que em 1954 o Brasil sofreria um grande revés com a trágica a morte do seu presidente, Getúlio Vargas.

Logo vieram mais anos de muito trabalho, e a alegria e a prosperidade estavam de volta com a impressionante gestão do presidente Juscelino Kubistchek, que em cinco anos conseguiu dar ao país 50% de crescimento.

A política mais uma vez, no entanto, seguraria aquela fortuna econômica, até que os militares tomaram o poder em 1964. A gestão austera que imprimiram conduziu o país aos anos do milagre econômico ao final daquela década.

Enquanto isso, os Estados Unidos quebravam o maior dos paradigmas monetários com o fim do padrão-ouro para a sua moeda, e dois anos depois surgiria uma nova crise para segurar o crescimento do país, dessa vez pelas súbitas multiplicações dos preços do petróleo em 1973.

Todos os anos que restavam daquela década de 1970 foram novamente de muito trabalho para recuperar as perdas econômicas ciclicamente consumadas. Então, mais sete anos e enfrentamos uma nova crise. De 1980 a 1982, dessa vez pela enorme crise da dívida externa brasileira. O PIB era foi afundado, a recessão tomou os postos de trabalho e o brasileiro de novo tinha que labutar para gerar as riquezas que reclamava a pobreza crescente do país.

Dessa vez seriam oito anos de trabalho, e estava imposto ao Brasil os danos terríveis que traziam a hiperinflação, em meio a atos desastrados de um presidente eleito pelo povo, Fernando Collor de Mello, o PIB em 1990 desabou em 4,3%.

Novos trabalhos, mais sete anos e a nova crise internacional vinha então da Ásia. 1997 e os tigres inauguravam as instabilidades globais, contagiando, sobretudo, as economias mais frágeis, como a do Brasil.

O Fundo Monetário Internacional ampliava seu protagonismo como agente credor global e os países pobres eram os que mais se rendiam aos seus mandamentos e arbitragens. O Brasil se submetia novamente a anos de retração e ao retrabalho para gerar sustento que fosse suficiente para as dívidas, os juros, os compromissos sociais, as obrigações tributárias crescentes.

A globalização era autenticada nas crises econômicas dos primeiros anos do novo milênio, a quebra das empresas ponto.com, a queda das torres gêmeas, a crise argentina, e o Brasil era facilmente contaminado, atingido pela sequência de acidentes econômicos desde um mundo unificado, interdependente, mas absolutamente elitista e exclusivista.

A força inata de uma terra e de um povo seguia conformando toda uma nação ao periódico trabalho de reconstrução das riquezas nacionais. Até que sete anos depois do país experimentar a sua recuperação, em 2009, aparecem os créditos podres da economia americana, que faz desabar os mercados sob a estranha justificativa de um relaxamento na visão de riscos dos financiamentos concedidos pelos seus bancos, terminando por formar muito mais do que a marolinha prevista pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O sistemático período de anos que separavam as crises estava de volta. Em 2015, éramos confrontados com um ajuste fiscal que demandaria recessão em níveis alarmantes, desemprego em alta, renda em queda, inflação novamente de dois dígitos, desvalorização cambial agressiva. O Brasil colecionaria pela primeira vez trimestres consecutivos de profundas quedas no PIB, de 2015 à metade de 2017.

Contrariando a lógica involuntária dos ciclos, somente três anos depois o mundo conhece então a sua pior crise global, uma pandemia econômica jamais vista desde os principais mercados internacionais, simultaneamente reféns do medo e da desesperança, um desastre que não permite ensaios seguros sobre quando atingiremos o último metro do abismo social e econômico.

No entanto, seguindo o único exercício tangível, concreto verdadeiramente, para jogar luz em nossas previsões, que é esse olhar histórico comparativo, vemos a enorme capacidade de adaptação da nossa economia, das nossas empresas, das nossas pessoas, dedicadas em sua missão de perseverar em superar adversidades, sustentada no exemplo das gerações que nos antecederam, entregando o legado da persistência aos que vão nos seguir, ensinando sobre uma palavra que traremos da física para ajudar a expressar todas essas obras, resiliência.

Pensando bem, é essa resiliência que está invocada para os nossos dias. E mais do que essa, uma consciência renovada pelo estudo e pela experiência, pela reflexão e pelas evidências, que estão postas na nossa história econômica e social para nos instigar a pensar, a pensar bem.

Ouça os podcasts Pensando Bem nas plataformas digitais da Novo Meio.


Notícias Relacionadas