Da Alemanha para o Brasil, conheça as principais tendências da EuroShop 2023 -

Da Alemanha para o Brasil, conheça as principais tendências da EuroShop 2023

Para a executiva Melissa França, a feira destinada ao varejo trouxe uma abordagem diferente da NRF ao enfatizar a importância das novas tecnologias para a retomada da estabilidade do varejo

Lucas Torres [email protected]

Mais de 81 mil visitantes foram à cidade alemã de Düsseldorf para acompanhar a EuroShop 2023, uma das maiores feiras de varejo no mundo. O evento, que ocorreu dois meses depois da NRF de Nova York, trouxe uma visão alternativa àquela apresentada na feira dos Estados Unidos. Afinal, enquanto os norte-americanos tiveram como pauta principal a necessidade de retomar um olhar mais atento às bases do setor varejista, a EuroShop lançou a maior parte de seus olhares para o futuro.

Para oferecer aos varejistas de autopeças brasileiros uma visão imersiva do que foi visto na Alemanha, convidamos para uma entrevista a Diretora Comercial da IZIO Loyalt IZIO&Co, Melissa França – a executiva esteve presente na feira e, em conversa com a nossa reportagem, comenta as principais tendências abordadas, bem como os impactos do momento de instabilidade econômica mundial no ‘modo de pensar’ dos mais de 1.800 expositores presentes.

Novo Varejo – Quais foram as principais tendências observadas na EuroShop?

Melissa França – Na parte de retail technology, a importância dos dados continua uma grande tendência. Havia várias empresas de software e hardware focadas em entender a jornada de compra e o comportamento do consumidor. Essas empresas oferecem diversos modelos de câmeras e sensores, buscando entender o consumidor com profundidade. Elas também oferecem pacotes completos de dashboards monitorando e projetando análises online, gôndolas interativas, links com comunicação chamativa modulares e sistema de controle de estoque (gôndola infinita) e análise dos giros dos produtos, além das etiquetas eletrônicas (tema não tão novo), mas que continua como tendência do varejo. Essas etiquetas são totalmente linkadas com sistemas da empresa, podendo mudar os preços a qualquer momento. Inclusive, em uma das visitas à loja Ekeda – rede de varejo alimentício alemã – os preços sobem automaticamente, sabendo que as compras após uma certa hora, são por impulso, ou seja, o consumidor não está tão preocupado com o preço. E, consequentemente, é uma alternativa para aumentar a margem dos varejistas. Em retail marketing, nos PDVs as comunicações são bem atrativas e interativas, utilizando telas de acrílico chamativas e modulares e também telas de LED para aumentar a conversão no PDV. Também vimos displays personalizados e modelares, hologramas, uso de QR code nos materiais para rastrear a origem. Tudo muito conectado com inteligência artificial. No campo da sustentabilidade – conceito que eu considero ainda muito embrionário no Brasil – os displays, gôndolas, materiais para mobiliários, iluminação, investimentos em materiais recicláveis, assim como a aplicação de scrap, foram utilizados de forma menos degradante ao meio ambiente. Máquinas para reciclar os produtos e ganhar moeda digital (voucher) para utilizar em outras compras também estavam bem representadas na feira, assim como etiquetas digitais, lâmpadas e transmissão de dados por laser, conectando ações no ponto de venda. A tendência do Grab and Go, embora já bem divulgada pelo lançamento da loja da Amazon Go, me parece que realmente veio para ficar com algumas exposições. Já o Click and Connect ainda precisa se “fixar” melhor no Brasil, considerando que essa prática estava não somente na feira, como também em lojas de Düsseldorf e Paris.

O Customer Centricity foi outro tema bastante explorado na feira, para entender o comportamento de compra dentro da loja, por meio do uso de sensores, câmeras ou IA. Ao analisar o cliente e a sua jornada na loja – como o gênero, o que compra e quanto tempo na gôndola – fica mais fácil utilizar esses dados para ações personalizadas. Essas soluções podem ser captadas via celular, device, câmera e geolocalização.

O Omnichannel mostrou que o espaço físico ainda está super vivo. A preocupação é conectar todas as pontas para facilitar o shopper: fidelidade, marketplaces, data driven, e-commerce, customer experience. Tudo isso integrado em APIs, resultado de dashboards online para ações imediatas.

O design de lojas ainda é muito importante, sendo necessário pensar a construção da loja de maneira que ela se assemelhe a um ponto turístico, contendo estímulos sensoriais e visuais. Essa preocupação com a operação de loja evidenciou que o estabelecimento precisa estar equipado com um sistema de controle de estoque e reposição imediata, além de fácil localização dos produtos na gôndola para reduzir o tempo de procura do cliente

NV – A feira mostrou alinhamento com a NRF, tanto nos assuntos de destaque quanto na visão de futuro para o varejo, ou apresentou diferenças, devido às particularidades do mercado europeu?

MF – Entendo que a NRF tem a mesma visão de futuro da EuroShop, a diferença é onde aplicar. Enquanto a NRF liga os pontos do varejo físico e digital modelados pelas mudanças de comportamento e aos novos entrantes (Z e Alfa) a EuroShop fixa os olhares futuros para dentro do cerne do varejista físico modelando alternativas de melhores receitas em curto e médio prazo.

NV – Em geral, a feira recebeu um público majoritariamente europeu ou também despertou interesse de players de centros como os EUA e a China?

MF – É importante falar que a Euro Global Shop é uma feira gigante, contendo 16 pavilhões, 1.800 expositores de 55 nações. Na minha opinião, ela não só despertou interesse majoritariamente europeu, mas também de grandes players dos EUA e China. O que me chamou muito a atenção é que, especialmente dentro do pavilhão de retail technology, se viam muitos expositores chineses, até por uma questão de custo, de loja, de shopper, de conhecimento de câmera, mas tinha público de todos os cantos do mundo, até por ser uma feira internacional que acontece a cada três anos.

NV – Como a EuroShop abordou uma suposta crise que cerca o varejo mundial e pode resultar na necessidade de corte de custos, inclusive com demissões?

MF- Eu considero que esse debate não foi muito aberto, pelo menos no que tange a esses aspectos de cortes e demissões. Isso não foi abordado diretamente, nem no evento e nem na reunião geral mundial do POPAI – da qual eu participei. O que eu notei é que essa discussão foi levada para o aspecto de como controlar os custos e melhorar a margem através do uso da tecnologia. Um ponto que ficou muito claro para mim foi a questão do controle. Controle através de IA, controle através de dashboards, controle se os funcionários estão desempenhando bem as funções. Controle de automatização de vários processos que poderiam ser feitos por pessoas, gerando corte de custos. Esse ponto do controle também apareceu no sentido de conhecer a fundo o shopper e a partir disso direcionar as promoções, fazer promoções específicas, te permitindo melhorar a tua margem.

NV – Como o varejo brasileiro está situado frente aos ‘benchmarks’ apontados na feira? Estamos em um momento semelhante no que diz respeito a condições tecnológicas e eficiência operacional ou ainda temos um caminho a percorrer até alcançar o estágio dos players europeus?

MF – O primeiro ponto é que o varejo brasileiro ainda tem muito o que avançar na questão do conhecimento profundo do shopper, através da jornada dele dentro da loja. Acho que isso ainda não é muito feito no Brasil por ser um processo associado a custo e não como investimento. Custo, porque o varejista acha que ele só tem que desembolsar e quando ele olha o resultado financeiro disso – deixando o residual muito mais alto antes de aplicar a tecnologia – não é visto como um resultado positivo. O segundo ponto são os dashboards online. Considero também que o varejo nacional precisa se preparar mais para ter muitos dashs – às vezes, o varejista tem muitas informações dentro do seu negócio, mas ainda não sabe o que fazer com essa informação, como utilizá-la. E como terceiro e último ponto, acho que ainda tem muito para avançar quando o assunto é ESG, sustentabilidade, tanto com materiais quanto com a disponibilidade de máquinas de reciclagem dentro das lojas com vouchers de utilização dentro do estabelecimento. Acho que, embora tenhamos lojas muito bonitas, temos muito o que avançar nestes pontos de retail marketing, conhecimento de shopper e CRM. Claro que a pandemia os investimentos pararam, mas acredito que esses sejam caminhos que possam ser avançados daqui em diante.


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