Demanda interna menor justifica queda nas importações -

Demanda interna menor justifica queda nas importações

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Na contramão do senso comum, economista afirma que não há retenção artificial de produtos nos portos

Lucas Torres

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Na edição de agosto, o Novo Varejo Importados repercutiu a declaração da Organização Mundial do Comércio (OMC) que atribuiu ao Brasil a primeira colocação no ranking do protecionismo mundial, apontando-o como o país que cria mais bloqueios a produtos estrangeiros em todo o planeta.

Tal perspectiva é costumeiramente corroborada pela análise de diversos economistas e traders brasileiros que – ao analisarem o forte processo de recuperação da balança comercial brasileira iniciado em 2015 – apontam para o fato de que o montante total do saldo não retrata de maneira fiel as trocas comerciais do país, ao passo que a leve queda nas exportações é mascarada por uma queda artificial das importações.

Resumindo, na opinião da maior parte dos analistas brasileiros, o saldo positivo da balança comercial só se dá por meio de um incentivo governamental para que as importações sejam reduzidas de forma drástica.

Essa versão, no entanto, não é compartilhada pelo economista Thiago Biscuola, analista sênior da RC Consultores.

Biscuola afirma que não há no país a tão falada priorização às exportações e a redução forçada das importações com o objetivo de equilibrar artificialmente a balança comercial. Para ele, o cenário tem se colocado de maneira orgânica e é fruto da atual conjuntura nacional.

“Não enxergo que haja uma política de priorização das exportações, mas sim uma conjuntura econômica favorável à queda das importações tanto via câmbio menos apreciado, quanto queda da atividade interna”, opina.

Para o economista, a queda de 24% no montante das importações brasileiras até a segunda semana de setembro de 2016 – em comparação ao do mesmo período de 2015 – são naturais em face da repressão da demanda interna e que destinar a produção doméstica ao mercado exterior pode ser, inclusive, uma maneira lógica de se acelerar a saída da crise. “Obviamente que, para isso, é necessária uma política comercial externa ativa que reabra janelas no exterior”, pondera o especialista.

Swap cambial e o controle da valorização da moeda

Outro ponto de divergência de Biscuola com analistas que povoam o noticiário de economia diariamente é o swap cambial e sua influência na valorização ou desvalorização da moeda nacional.

Desde a recuperação do Real em meados de abril, muito se comenta sobre um esforço do Banco Central (BC) brasileiro na contenção de uma valorização excessiva – que diminuísse a competitividade dos produtos brasileiros no mercado externo.

Para isso, o BC estaria promovendo uma espécie de ‘compra de dólares’ por meio dos chamados leilões de swaps cambiais, isso porque a variação de câmbio brasileira é baseada no chamado ‘sistema flutuante’, no qual a taxa de câmbio varia em função da oferta e procura de moeda estrangeira no mercado.

Biscuola, entretanto, diz que esse expediente adotado pelo Banco Central exerce pouca influência sobre a cotação do real e que são fatores ‘não-controláveis’ os responsáveis pela valorização ou não da moeda brasileira.

“A cotação do Real tem oscilado devido, sobretudo, a confiança ainda depositada no ‘Novo Governo’ e com as mudanças nas expectativas quanto a subida ou não dos juros nos EUA”, pontua – antes de complementar: “Enquanto isso o Real segue valorizado, fazendo com que o Banco Central aproveite a oportunidade para dar sequência ao desmonte de operações de swap cambial – algo que exerce pouco efeito prático em relação à nossa moeda”, afirma.

Biscuola prevê ainda que a desvalorização do real deve ocorrer até o fim de 2016, caso se confirme a expectativa de pelo menos uma alta dos juros americanos.

Balança comercial não responde imediatamente às alterações de câmbio

Ainda desmistificando as simplificações trazidas diariamente no noticiário econômico, Thiago Biscuola acentua que a simples variação cambial, seja ela depreciativa (desvalorizada), ou apreciativa (valorizada), não influencia de modo imediato os resultados da balança comercial. De modo que uma priorização às exportações liderada pelas operações de swap cambial do Banco Central a fim de controlar a valorização do Real permaneceria ineficiente num curto prazo.

“O impacto do câmbio neste ano sobre a balança comercial será modesto. A literatura econômica mostra que os ajustes na taxa de câmbio tardam certo período para impactar as trocas comerciais”, salienta.

No entanto, Biscuola afirma que uma valorização aguda da moeda brasileira pode contradizer projeções para lá de positivas em relação ao ano de 2017.

Uma delas é a trazida pelo último boletim Focus, que firmou a expectativa de que a balança comercial brasileira atinja o montante de US$ 47,6 bi ao final do próximo ano.

“A apreciação do Real observada nos últimos meses, chegando a ser cotado próximo à faixa de R$ 3,10/US$, começa a por em cheque a sustentabilidade de um saldo comercial desta magnitude”, conclui o economista.


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