A corrida global pela descarbonização tem promovido transformações impactantes – em maior ou menor grau – em praticamente todos os países deste nosso a cada dia mais sofrido e reativo planeta. Nas últimas semanas, tivemos a oportunidade de participar de dois eventos de conteúdo do setor automotivo brasileiro. Em ambos, destacaram-se as oportunidades que o processo em curso por emissões limpas proporcionará ao país nos próximos anos. Em diversas oportunidades abordamos nas páginas do Jornal Novo Varejo Automotivo a opção nacional pela propulsão híbrida apoiada no etanol.
A oferta de veículos híbridos vem crescendo: a Stellantis acaba de apresentar dois modelos Fiat com a nova tecnologia, de olho na descarbonização. Muitos outros virão. Conforme disse o presidente do Sindipeças, Claudio Sahad, em suas apresentações no Fórum IQA da Qualidade e no Seminário da Reposição Automotiva, o Brasil deve ser o país com a maior diversidade de matrizes energéticas veiculares. Inclusive o hidrogênio obtido a partir do etanol. Se tivéssemos um histórico de gestões públicas descentes e tradição em competência e lisura política, seríamos a maior nação do mundo. A pluralidade energética agora começa a fazer eco na Europa. Na editoria ‘Internacional’ desta edição duas notas chamarão a atenção dos leitores mais atentos. A Rede por uma Mobilidade Sustentável emitiu nota criticando a falta de abertura tecnológica nas regulamentações visando à descarbonização que, da forma como estão, limitam severamente a opção por novas soluções capazes de alcançar as metas de redução de CO2.
O resumo desta ópera é a proibição, a partir de 2035, da produção de novos veículos equipados com motores a combustão. A Rede cobra uma abordagem legislativa aberta à adoção de combustíveis sustentáveis e renováveis.
Ainda sobre a corrida pela descarbonização, outra informação disponível no Novo Varejo Automotivo 447 é depoimento de Benjamin Krieger, Secretário Geral da CLEPA. Ao comentar a redução de empregos na indústria automotiva da União Europeia, o executivo pede uma recalibração regulatória. Em suas palavras, “abraçar a abertura tecnológica nos padrões de CO2”. Ou seja, flexibilizar a proposta radical de banir os motores a combustão. No último dia 30 de outubro, a União Europeia impôs novas alíquotas para a importação de carros elétricos da China – que variam conforme a marca e a contribuição ou não que cada uma deu no inquérito que durante um ano apurou a presença destes fabricantes no bloco.
O fato é que o entusiasmo inicial com o carro elétrico parece estar gradativamente dando lugar a uma realidade menos eufórica e mais dura. Acelerar a transição numa velocidade quase impossível de ser acompanhada pelos fabricantes tradicionais abre espaço para a invasão cheia de apetite de marcas chinesas vorazes que estão inseridas em uma política expansionista que vem devorando o mundo pelas beiradas. Está mais do que na hora de, conforme pedem as entidades europeias, colocar a bola no chão e rever o arcabouço de leis que vai determinar os rumos da descarbonização nas próximas décadas.