Desvalorização do real acelera alta nos preços e desafia importadores de autopeças -

Desvalorização do real acelera alta nos preços e desafia importadores de autopeças

Instabilidade política e crise energética encabeçam escalada nos preços.

Lucas Torres [email protected]

De acordo com o diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo de Castro Souza Jr., a desvalorização aguda do real foi o principal gatilho para o estrangulamento do poder de compra da população e, ainda com uma defasagem acima dos R$ 5 para o dólar, segue impactando neste ambiente.

“O real desvalorizado tem impacto direto nos preços dos produtos importados, nos preços dos produtos que a gente exporta, no aumento do custo de produção, no custo da matéria prima… Este é o primeiro ponto que gerou a alta inflacionária e a fez se espalhar por todos os setores”, analisou Souza Jr.

Recentemente entrevistado pela reportagem do Novo Varejo, Guido Luporini – diretor de uma das mais tradicionais importadoras de autopeças do país, a Luporini – lamentou a defasagem cambial e foi além. “Realmente a variação cambial é ponto impactante nos negócios. Mas não é só isso. Estão ocorrendo também aumentos nos preços dos produtos devido a reajustes de matérias primas”.

A capacidade pulverização dos aumentos pelos mais diversos setores, destacada pelo especialista do Ipea, também encontra confluência nos números divulgados pelo IBGE em seu último levantamento do IPCA.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados no estudo, oito apresentaram alta durante o mês de agosto – sendo o segmento de saúde e cuidados pessoais o único a marcar estabilidade, com uma levíssima queda de 0,04%.

Para o advogado e economista Alessandro Azzoni, o cenário impulsionado pela desvalorização cambial não pode ser explicado apenas pela crise da pandemia e poderia ter sido mitigado por uma melhor articulação entre os três poderes que compõem o Estado brasileiro. Segundo o especialista, indicadores como a taxa de câmbio e a bolsa de valores costumam ser os principais termômetros da efetividade das decisões políticas de um governo – de modo que o desequilíbrio desses índices, invariavelmente reflete o nível de segurança gerado pelo modelo de governo que gere o país no momento.

“Se o governo está dialogando com os poderes, possui uma boa interlocução e está conseguindo aprovar projetos e reformas importantes para o país, a taxa de câmbio vai refletir uma segurança. Como isso acontece? É simples: pelo fato de termos mais gente comprando nossa moeda e fazendo-a circular na economia, seja por meio da bolsa de valores ou de investimentos diretos dentro do país”, analisou Azzoni, complementando na sequência: “Quando essa segurança não é observada, o investidor fica receoso e retira ou diminui seus investimentos no Brasil e no real. É isso que estamos observando no momento”. Tamanha insegurança na política econômica e institucional por parte dos diferentes agentes do mercado pode fazer com que a esperada retomada em V, ancorada na demanda represada durante a pandemia, dê lugar a uma recuperação mais tímida e insuficiente para compensar o aumento da pressão inflacionária sobre as pessoas físicas ou jurídicas.

Esse crescimento mais tímido se reflete na previsão do mercado financeiro para o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021. Depois de uma alta projetada acima dos 7%, a estimativa para o crescimento do indicador sofreu quedas consecutivas e já é de 5,04% – índice que, no comparativo com a queda de 4,1% registrada em 2020, projeta uma retomada de menos de 1%, margem que pode diminuir ainda mais até o fechamento do balanço anual. Questionado sobre a possibilidade de termos perdido o ‘boom’ da retomada aguardado pelos brasileiros a partir da diminuição das restrições impostas pelo combate à pandemia da covid-19, o economista e sócio da BRA Investimentos, João Beck, foi peremptório. “Já perdemos. O boom não irá ocorrer. É esperado baixo crescimento neste e nos próximos anos. Além das altas taxas de juros, saímos da pandemia endividados, o que restringe investimentos no setor produtivo”, lamentou Beck.


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