Cientes dessa necessidade, empresas têm recorrido ao recrutamento às cegas para retirar o preconceito dos critérios de seleção
Por Lucas Torres ([email protected])
De 2010 para cá, a palavra ‘propósito’ ocupa espaço de protagonismo nos eventos sobre varejo ao redor do mundo – sendo destacada como principal fator diferencial para a fidelização de clientes por sua capacidade de criar um laço de ligação profundo destes com a empresa a partir da coesão de pensamentos, atitudes e ‘posicionamento perante ao mundo’.
Diante dessa necessidade de satisfazer as demandas do cliente para além da relação simplesmente mercadológica, grandes empresas varejistas têm se esforçado para criar ‘gatilhos de empatia’. Nesse cenário, a adoção de uma política genuína de diversidade tem ganhado cada vez mais espaço.
Em palestra ministrada no SAS Forum Brazil 2019, evento realizado na cidade de São Paulo no último mês de junho, Luiza Helena Trajano – cabeça do Magazine Luiza – destacou o esforço de sua empresa para incentivar o aumento da diversidade em seu quadro de funcionários.
Sétima colocada no ranking da revista Fast Company sobre as empresas mais inovadoras da América Latina, o ‘Magalu’ mantém desde 2013 o Programa de Inclusão Social, no qual incentiva a contratação e a integração de funcionários com necessidades especiais, homossexuais – entre outros grupos em situação de vulnerabilidade social.
“Eu represento o Magazine Luiza em premiações faz muito tempo e, no final da primeira década dos anos 2000, tudo o que se falava era rendimento/lucro. ‘Minha empresa faturou isso, tem tanto de market share’, e eu sempre achei aquilo muito superficial”, introduziu Luiza, antes de complementar: “De uns três anos para cá o tom mudou. Todas as empresas premiadas falam de propósito, de gente, de diversidade. E isso não se modificou porque as mesmas pessoas premiadas decidiram falar de outra coisa. Isso se modificou porque empresa que quer ter sucesso hoje tem que ter isso como prioridade”, finalizou.
A empresária afirma que a nova geração de consumidores ‘simplesmente não vai comprar’ de quem não tem propósito/diversidade – e que empresas que não tiverem mulheres em seus quadros em um país em que 53% da população é mulher e/ou não tiverem negros em um país em que 51% da população é negra estarão jogando contra elas mesmas.
‘Recrutamento às cegas’ retira o preconceito dos critérios de seleção
Por mais que nos esforcemos constantemente para nos tornarmos pessoas melhores, despidas de prejulgamentos para com o próximo, carregamos inevitavelmente construções sociais que, de forma inconsciente, nos fazem incorrer em atitudes preconceituosas.
Em um processo seletivo de uma equipe de trabalho, esse expediente pode ser extremamente problemático, levando-nos a priorizar essas ‘construções arcaicas’ no lugar de fazermos avaliações fundamentais sobre a competência técnica do candidato e a conexão entre seu perfil profissional com a cultura da empresa.
Para evitar que esses preconceitos influenciem negativamente na formação da equipe de trabalho, empresas têm recorrido a um modelo inovador de seleção no ‘recrutamento às cegas’.
Utilizando softwares que escondem a face e modificam a voz do candidato, recrutadores avaliam de uma maneira mais isenta as aptidões técnicas do profissional em questão e, mais do que isso, avaliam seu comportamento e seus valores profissionais com uma menor interferência dos elementos inconscientes que tendem a misturar moralismos com valores.
De acordo com a Bettha, empresa de Recursos Humanos especializada em conectar empresas, vagas e candidatos com perfis congruentes, esse procedimento não apenas traz mais produtividade para a empresa por meio de uma equipe mais competente, como também invariavelmente aumenta a diversidade do quadro de funcionários e atrai talentosos profissionais ‘millennials’ para os quais a recompensa financeira perdeu espaço para ‘a conexão de valores empresa-funcionário’ na hora de escolher o emprego.
Uma das Fintechs (bancos digitais) mais bem-sucedidas de todo o mundo, a Nubank já utiliza o recrutamento às cegas em diversos de seus processos seletivos e, como resultado, além de um crescimento exponencial em termos de competência, conta com um quadro de colaboradores repleto de diversidade.
De acordo com sua líder de recrutamento, Silvia Kihara, a empresa conta atualmente com colaboradores de mais de 25 nacionalidades, sendo 40% mulheres e 30% membros da comunidade LGBTQ+.