É Sobre Gente: conheça melhor o ESG e saiba comoimplantar essa cultura no seu negócio -

É Sobre Gente: conheça melhor o ESG e saiba como
implantar essa cultura no seu negócio

Especialista reforça que investimentos na área são essenciais para a longevidade de uma empresa nos dias atuais

Na edição 2023 dos Maiores e Melhores em Distribuição de Autopeças descobrimos que, acima de qualquer definição, a sigla ESG é sobre gente. Para levá-la ao dia a dia de uma empresa, no entanto, é necessário compreender os diversos elementos que compõem este conceito que, cada vez mais, é chave na criação de uma conexão real junto a consumidores e parceiros. Sabendo disso, nossa reportagem convidou o diretor de Compliance & Sustentabilidade da Protiviti – empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG –, Jefferson Kiyoara, para uma imersão não apenas nos aspectos teóricos do tema, mas também a respeito de sua aplicabilidade prática e dos caminhos para fazê-lo. Ao longo da entrevista, o especialista afirmou que um dos passos mais importantes para que empresas virem de fato a chave rumo a uma postura ESG é o entendimento de que os investimentos em sustentabilidade não são sinônimos de penduricalhos que encarecem a operação do negócio, mas sim garantias de longevidade lucrativa. Leia o bate-papo exclusivo abaixo e fique mais perto de dar passos sustentáveis no ano que se aproxima!

Novo Varejo – No que consiste a sigla ESG e como ela se aplica no contexto prático das empresas?

Jefferson Kiyoara – A sigla ESG representa os pilares ambiental, social e governança (em inglês, environment, social and governance). Em maior ou menor grau, todas as empresas dependem de pessoas e de recursos naturais. O ESG traz uma visão de como perenizar os negócios de forma sustentável, com responsabilidade e boa governança, e relações duradouras com as pessoas e o meio ambiente. Muitas crises corporativas impactam negativamente os negócios e empresas colapsam por falhas nos aspectos ESG.

NV – Quando falamos de ESG, muitas pessoas ainda atrelam o conceito estritamente à questão ambiental. Isso acontece também nas empresas? Por que isso acontece?

JK – Cada vez menos as pessoas atrelam o ESG apenas à questão ambiental. Isso graças ao empenho de profissionais, empresas, mercado financeiro, reguladores e, sem sombra de dúvidas, a mídia, que tem buscado esclarecer e promover o tema. Nas empresas, é comum as pessoas confundirem ter iniciativas nos pilares ESG com ter um programa de sustentabilidade genuíno. A maioria das empresas tem iniciativas, mas poucas têm de fato o programa de sustentabilidade. Por isso, é fundamental entender que ações desconectadas do negócio e da estratégia, com pouca relevância, a falta de essência e propósito e a falta de métricas, entre outros, levam a esforços que serão infrutíferos e não permitirão obter os benefícios esperados. Um bom ponto de partida é ter o patrocínio da alta liderança e iniciar os trabalhos com um bom diagnóstico. Elaborar a matriz de materialidade é fundamental para construir um plano de ação robusto e efetivo.

NV – Recentemente, a FIESP divulgou um estudo que constatou o fato de os varejistas já estarem avaliando os compromissos dos fabricantes na hora de escolherem seus fornecedores. Você acredita que isso acontece pelo fato de os varejos estarem na ponta e, portanto, sentindo uma demanda direta do consumi – dor final por propósitos mais sustentáveis?

JK – O varejo tem um papel fundamental na economia e na vida das pessoas. Ele dita tendências e é influenciado pelos consumidores. Certamente há movimentos pensando em atender às necessidades alimentos. Ou de oferecer produtos que caibam no orçamento e permitam atender às necessidades de alimentação, higiene e limpeza de uma família, contribuindo para a dignidade e inclusão de pessoas. O varejo exerce importante papel para a segurança alimentar e para garantir a origem de proteínas animais, vegetais e frutos. Também é importante quando cuida de sua cadeia de fornecedores, garantindo que direitos humanos e trabalhistas sejam respeitados, que comunidades locais sejam inseridas economicamente por meio de uma renda mínima e justa e que o meio ambiente seja preservado, entre outros. E as ações podem se dar por propósito. A Dengo, que possui lojas de chocolate, mas também fabrica e faz a gestão da cadeia de fornecedores, é um bom exemplo prático. Pensando em impacto social, as ações da RaiaDrogasil do varejo farma com o Grupo MOL são exemplares. É possível dar lucro para os acionistas e retorno para a sociedade, como um hospital para o GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer, que foi construído com o dinheiro obtido com a venda de revistas e outros itens. Outro exemplo é a Bemol, rede varejista da região Norte, que, com sua logística, consegue atender diversas pessoas em regiões de difícil acesso do Brasil, além dos investimentos para dar acesso à internet e ao sistema financeiro.

NV – Voltando aos três pilares da sigla ESG, qual deles você acredita que está mais presente na operação prática das empresas brasileiras?

 JK – Na prática, os três pilares se fazem presentes nas empresas brasileiras. Mas falta ainda amplitude, profundidade, proporcionalidade, efetividade e conexão com o negócio e a estratégia.

NV – Para além da ‘aura sustentável’, que benefícios tangíveis o compromisso com a pauta ESG pode trazer para as empresas? Pergunto isso porque, muitas vezes, ainda existe a percepção de que investir em ESG significa encarecer a operação de um negócio.

JK – O ESG demanda investimentos, sim. Mas, o que deve ser avaliado é o retorno ou o impacto na inação. Pensando no pilar de governança, no varejo precisamos falar de prevenção de perdas, por exemplo. Prevenção de perdas envolve custos com pessoas, software e tecnologias de segurança, entre outros. Contudo, não ter a prevenção de perdas gera custos ainda maiores, o que muitas vezes inviabiliza financeiramente a operação de uma loja. A mesma lógica se aplica aos programas de compliance, que demandam investimentos. Mas a falta dele pode gerar custos ainda maiores, resultantes de fraudes e de multas e sanções oriundas de casos de assédio, racismo e discriminação. O ESG deve ser pensado como uma lente, que direciona o olhar do acionista/dono do varejo para como garantir que o negócio continue existindo, de forma lucrativa, no futuro. Muitos varejistas, por exemplo, descobriram nichos de atuação ao identificar públicos que não estavam sendo devidamente atendidos, prática que conversa com a visão de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão). Outros varejistas perceberam que podiam lucrar e atender um mercado com a revenda de produtos usados, como roupas, o que conversa com o conceito de economia circular. O principal benefício do ESG é dar diretrizes para a empresa se preparar para o futuro. E pode ser um aliado na inovação e na criação de novos mercados.

NV – Existe um gap entre as grandes corporações e as PMEs em relação aos compromissos com a pauta ESG? Qual o papel das esferas governamentais e das associações representativas diminuí-lo?

JK – O compromisso com a pauta ESG não tem relação com o tamanho da organização. Obviamente as grandes corporações possuem mais recursos. O próprio sistema B é um bom exemplo, tendo pequenas, médias e grandes empresas certificadas e reconhecidas por boas práticas que conversam com os pilares ESG. Inclusive muitas startups (PMEs) surgem para resolver problemas que as grandes não sabem como. A iniciativa Arena Amcham, por exemplo, ajuda a colocar os holofotes nestas startups. A atuação conjunta é fundamental para resolvermos os grandes problemas da humanidade, como a limitação de recursos naturais, a proteção da biodiversidade, dos mares e biomas, os extremos climáticos e o tratamento adequado de resíduos, entre outros. E, desta forma, as associações representativas têm um papel importante na conscientização e na mobilização de empresas e o governo de avançar nas leis, regulamentações, incentivos e penalidades para que a agenda ESG de fato progrida.

NV – Quais soluções a Protiviti disponibiliza para o mercado no âmbito do ESG? Quais têm sido as principais dificuldades para implementá-las na prática?

JK – A Protiviti e o Grupo ICTS, do qual ela faz parte, atua com consultoria, serviços, plataformas, treinamentos e revenda de software em GRC (Governança, Risco e Conformidade) e ESG, e apoio de um amplo ecossistema de parceiros. Temos a felicidade de atuar com empresas e líderes comprometidos com a pauta ESG. Olhando o mercado, as principais dificuldades para implantar a pauta ESG são insuficiência de recursos para as ações, baixa conscientização sobre o que de fato é o ESG, desconexão da estratégia e do negócio com a pauta ESG, não aplicação de metodologia, visão de curto prazo e realidade de ESG washing.


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