Economia brasileira patina, mas aftermarket tem razões para otimismo no segundo semestre -

Economia brasileira patina, mas aftermarket tem razões para otimismo no segundo semestre

Líderes de diferentes segmentos do mercado fazem um balanço dos primeiros seis meses do ano e projetam a segunda metade de 2024

A primeira metade de 2024 já se foi. Embora constate um fato, é difícil olhar para essa afirmação sem surpresa, ignorando que parece que foi ainda ontem quando soltávamos fogos e fazíamos planos para a chegada de um novo ano.

Para o empresariado nacional, porém, a preocupação com o atual estágio do ambiente de negócios supera qualquer choque com a velocidade da passagem do tempo. Afinal, depois de um primeiro trimestre animador, com crescimento de 1,08% do PIB em relação aos três meses anteriores e o início de um movimento de queda da taxa básica de juros, a economia brasileira estagnou.

Depois de uma espécie de lua de mel vivida entre Governo Federal e mercado com a aprovação do arcabouço fiscal do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os empresários passaram a manifestar na prática e no discurso suas preocupações com a incapacidade de o país controlar as contas públicas, incapacidade esta exposta na projeção de que o Brasil terminará 2024 com um déficit na casa dos R$ 14 bilhões. Para piorar o contexto de instabilidade, o cenário internacional tem dado à bolsa brasileira o desafio de se manter atrativa num ambiente em que as altas taxas de juros dos Estados Unidos convidam para investimentos rentáveis e seguros na ‘economia mais estável do mundo’.

Mas quais os resultados práticos disso tudo no dia a dia da maior parte do país, alheia aos movimentos da bolsa de valo – res? Bom, são muitos – com destaque para o encarecimento do custo de capital causado pela manutenção da taxa de juros na casa dos dois dígitos e a desvalorização de 12% do real frente ao dólar, peça-chave no aumento de 0,5% da projeção de inflação em relação ao inicialmente previsto para 2024.

Para não dizer que não falamos das flores, os justificáveis temores de médio e longo prazo quanto ao ambiente de negócios nacional não têm sido suficientes para tirar o bom humor de setores como os de varejo e serviços. Impulsionados pela menor taxa de desocupação da população (7,1%) em uma década e o aumento de 4% na renda média do brasileiro até aqui em 2024, estes setores têm surpreendido os analistas e alcançado ótimos números.

O varejo, por exemplo, teve uma alta nominal em suas receitas de 14,1% no período de 12 meses e uma alta nas vendas de 9,1% durante o primeiro trimestre do ano. Para além da análise geral, vale pontuar que este bom desempenho também reverberou no varejo de autopeças. Segundo o líder da principal entidade de representação do varejo de reposição, Ranieri Leitão, do Sincopeças Brasil, o primeiro trimestre foi muito bom e seguido por um mês de abril regular.

 “Em maio tivemos uma pequena retração, mas, apesar disso, geralmente no segundo semestre as projeções tendem a boas e concretas”, complementou. Leitão, no entanto, não foi o único dirigente do aftermarket automotivo a oferecer seu ponto de vista sobre as perspectivas de seu segmento em relação aos diferentes aspectos da economia brasileira. A fim de entender um pouco mais sobre a interpretação das lideranças do aftermarket automotivo em relação ao posicionamento de elos como distribuição, varejo e reparação no que se refere ao ambiente econômico brasileiro, convidamos também os presidentes da Andap e do Sindirepa Brasil, Rodrigo Carneiro e Antonio Fiola, para uma roda de conversas. Confira a seguir o que três das principais vozes do mercado tem a dizer, compare como está o seu negócio em relação à média do mercado e saiba o que esperar para o segundo semestre de 2024.

Como você avalia o desempenho do seu segmento de mercado no primeiro semestre?

Rodrigo Carneiro – A distribuição vem acompanhando o desenvolvimento macro econômico brasileiro sem grandes diferenças. Aspectos e características regionais como safra/ entressafra, condições climáticas e outras sazonalidades alteram os números em diferentes momentos, mas a média continua positiva. Claro, a triste e indescritível catástrofe no RS afetou e continuará afetando os números, mas neste caso o mais importante é o capital humano e a reconstrução do nosso RS; estamos empenhados nisto.

Ranieri Leitão – Eu diria a você que foi satisfatório. Isso porque nós tivemos um janeiro, fevereiro e março muito bom e um abril regular. Vale pontuar, porém, que da primeira metade de maio para cá, nós tivemos uma pequena retração. Para o meu conhecimento, esse foi um comportamento geral do nosso varejo de autopeças ao longo do primeiro semestre.

Antonio Fiola – Olha, tivemos um crescimento bom no número de passagens pelas oficinas. Mas já percebemos um consumidor inseguro

Como a eventual instabilidade institucional/econômica resultante, por exemplo, da trajetória da taxa de juros ou dos desafios da política fiscal do país pode ter impactado os resultados do seu segmento?

Rodrigo Carneiro – Qualquer instabilidade institucional e/ou política gera insegurança jurídica que, por sua vez, afugenta investimentos e alavanca desinteresse/desinvestimento… pé no freio na melhor das hipóteses. Não estou afirmando que este fenômeno está ocorrendo, senão concordar com a tese. Aqueles que conduzem as políticas econômicas, o nosso BC e nossos grandes teóricos de economia oferecem ampla e versátil variedade de raciocínios e explicações sobre o comportamento da taxa de juros; não tenho competência para agregar conhecimento ao que já foi demonstrado. Mas com uma experiência de 50 anos como executivo de dois importantíssimos mercados, como empresário e, principalmente, como cidadão brasileiro posso afir – mar sem qualquer receio que nosso país, quarto maior mercado de reposição de autopeças, poderia e deveria estar mais próximo desta posição do ponto de vista macro econômico.

Ranieri Leitão – Como eu falei com você, não vejo ainda um impacto negativo. O varejo de autopeças andou a passos largos no primeiro trimestre. O que está pesando mais nesse sentido, claro, é a falta de credibilidade no futuro. O empresário enxerga muito isso. Evidentemente, se os juros, por exemplo, estivessem caindo mais, nós estaríamos ainda melhores neste momento. Mas não acho que tenha sido isso (os juros) que determinou essa pequena recessão que tivemos de maio para cá.

Antonio Fiola – A questão econômica interfere no poder de compra do consumidor, que acaba ficando reduzido, isso traz reflexos para o movimento na oficina.

Como o seu mercado sentiu a catástrofe do Rio Grande do Sul? Já houve algum impacto concreto? Você espera que a situação afete o segundo semestre do aftermarket como um todo?

Rodrigo Carneiro – Desde as primeiras imagens com cenas da horrível catástrofe, que tenho procurado acompanhar e tentar ajudar com soluções em primeiro lugar com as pessoas, com nossos irmãos – perdemos muitos – com a destruição física de cidades, habitações, centrais de distribuição, lojas e oficinas. Os números são assustadores, todos eles. Milhares de centros automotivos, de lojas de autopeças e dezenas de centrais de distribuição; até mesmo fábricas de autopeças foram inundadas. Apenas como simples referência, números iniciais indicam que mais de 500 milhões de reais foram sucateados e não sabemos sequer que ajuda teremos com os tributos já recolhidos ( ST ) e como financiar a reposição de estoques. A distribuição imediatamente negociou os prazos de pagamento e vem buscando junto aos fabricantes o apoio tão necessário à nossa cadeia produtiva. As entidades como Andap, Asdap, Sincopeças Brasil e RS – aliás toda a Aliança – unidas em favor daquele importantíssimo mercado. Mas cabe aqui uma outra certeza: o povo gaúcho uma vez mais mostrará como se faz.

Ranieri Leitão – Eu diria que ainda não tivemos impactos concretos no âmbito nacional, mas vai haver. Dito isso, tenho certeza absoluta que terá alguma consequência negativa para os próximos meses, sem, porém, vir a sufocar o setor. Antonio Fiola – Se por um lado vai gerar mais negócios na região para reparar os veículos que passaram pela enchente, as oficinas também precisam se recuperar para atendê-los. Muitas oficinas terão demanda, mas com os carros alagados, também haverá um choque econômico grande. É uma situação muito complexa.

Qual foi o principal marco do primeiro semestre para o seu segmento? E para o aftermarket automotivo como um todo?

Rodrigo Carneiro – O principal marco, infelizmente, é e sempre será esta catástrofe que tanto sofrimento nos trouxe e traz. Mas falemos de outro destaque igualmente majestoso. Bah! os brasileiros deram show de solidariedade. As fábricas já estão a produzir, a distribuição foi criativa, criou soluções logísticas. Os lojistas que puderam fizeram as peças chegar aos aplicadores e estes – e aqui o estrago foi grande – de uma ou de outra forma, mas com a ajuda de todos, vão continuar mantendo a frota operando e a safra escoando. Tenham certeza disto.

Ranieri Leitão – Na minha opinião, o principal marco foram os grandes resultados que o aftermarket teve – meses de janeiro, fevereiro e março. Foi realmente um primeiro trimestre muito bom.

Antonio Fiola – Destacaria a posse da nova diretoria do Sindirepa-SP, o número relevante de parcerias realizadas e a oficialização do movimento do Right to Repair.

Quais são as suas projeções para o segundo semestre de 2024?

Rodrigo Carneiro – Este é um ano em que já tivemos a espetacular Autopar, mesmo impactada pela dor do que acontecia no RS; teremos a Autop, Automechanika em Frankfurt, Seminário da Reposição em São Paulo, em outubro, e ainda a Feira de Las Vegas. Será uma jornada excepcional para mostrarmos algumas de nossas competências. Em Frankfurt, como exemplo, a distribuição fará pela terceira vez o WBA – Workshop Brasilian Aftermarket, onde pretendemos mostrar novamente nossa tecnologia em produção, distribuição e manutenção de uma das principais frotas automotivas do mundo. Vamos inclusive evidenciar nosso pioneirismo em produção e manutenção da maior frota automotiva de combustão de baixa emissão; nosso potencial e know how em combustíveis “limpos” no automotivo e nossa capacidade de soluções ecologicamente limpas. Não somos um país só de futebol – nisto nem estamos tão bem –, somos também líderes no mercado de reposição.

Ranieri Leitão – Geralmente, no segundo semestre as projeções são boas e são bastante concretas. Sendo assim, eu espero que a gente tenha um bom segundo semestre, principalmente no que diz respeito ao último trimestre do ano.

Antonio Fiola – O segundo semestre costuma historicamente ser melhor do que o primeiro. Este ano acreditamos que acontecerá dessa forma. Claro, também esperamos que haja queda da taxa de juros para estimular o consumo

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