Economia inicia segundo semestre com boas expectativas -

Economia inicia segundo semestre com boas expectativas

Para o CEO da Teros, Juan Ferrés, país entrou em um caminho de crescimento econômico consistente

Lucas Torres [email protected]

Na esteira do aumento do PIB acima do esperado, de quedas consecutivas do dólar e do crescimento recorde no Índice de Confiança do Consumidor, o mercado de consumo se prepara para um segundo semestre possivelmente positivo para os setores de varejo e serviços.

Em entrevista exclusiva à nossa reportagem, o mestre em economia e CEO da Teros – empresa que oferece soluções em inteligência de dados, pricing e open finance –, Juan Ferrés, afastou a noção de que o atual bom momento dos indicadores do país se deve exclusivamente a um fenômeno sazonal causado pelos ótimos resultados do agronegócio. Para sustentar a visão, o especialista destacou que o primeiro semestre também teve como destaque o desempenho positivo do setor de serviços, segundo ele, o representativo da economia brasileira. “(Por isso) podemos dizer que não é um efeito sazonal e que estamos entrando num caminho de crescimento consistente, apesar de lento”, afirmou Ferrés. Saindo de uma visão mais ampla e apontando uma lente para o varejo nacional, que – a bem da verdade – ainda patina, o CEO da Teros atribuiu o delay em relação a outros setores ao impacto causado pela persistência da Taxa Selic na casa dos 13,75% e à crise das Americanas, fatores que dificultaram o acesso ao crédito tanto às empresas quanto ao consumidor final. “Por isso o varejo ainda não sentiu melhora, o que deve ficar para o segundo semestre”, previu o economista.

Novo Varejo Automotivo – De acordo com o Índice de Confiança do Consumidor do Instituto Ipsos, os brasileiros atingiram o maior índice de confiança em uma década neste mês de junho. A que você atribui este resultado? Você acha que temos razões para estarmos otimistas?

Juan Ferrés – A confiança do consumidor vinha se recuperando desde o final da pandemia onde encontrou seu vale. Após as eleições, esse crescimento se acelerou e chegou a seu pico em junho embalado pela sensação de maior poder de compra, reflexo da valorização do real e a da política de isenção fiscal em automóveis. Nós vimos as empresas passarem por um processo de ajuste em custos e gestão no primeiro semestre, justamente para se tornarem mais eficientes para o restante do ano. Estamos vendo um mercado mais otimista, saindo da ressaca que passou pós-Americanas, com empresas voltando a investir, mais confiantes, o que deve transbordar para os consumidores.

NVA – O dólar apresentou quedas consecutivas em junho, permanecendo abaixo dos R$ 5,00 desde o segundo dia do mês. Quais fatores você vê como determinantes para este cenário? Você vê essas quedas como sinais positivos para o país e as empresas?

 JF – Sim, muito em razão do bom desempenho da agricultura. O câmbio valorizado é favorável para as indústrias que sofreram muito com o aumento de custos dos insumos importados. Para o varejo, caso haja um repasse da redução do preço de produtos importados para o consumidor, devemos ver aumento das vendas no segundo semestre.

NVA – Você vê o crescimento robusto do PIB (1,9% em relação ao trimestre anterior e 4% em relação ao mesmo período de 2022) como um indicativo de solidez e um endosso de uma trajetória positiva da economia brasileira ou é algo sazonal e que demanda uma amostra maior de análise?

 JF – O destaque do último resultado acabou sendo a agricultura puxada por fatores exógenos como qualidade de safra e produtividade. Mas como o setor de serviços, o mais representativo da economia brasileira, também cresceu, podemos dizer que não é um efeito sazonal e que estamos entrando num caminho de crescimento consistente, apesar de lento.

NVA – Apesar dos índices positivos mencionados, o cenário de desemprego segue sem alterações significativas, atingindo 9,5 milhões de pessoas no primeiro trimestre do ano. Alguns especialistas, no entanto, comemoraram a estabilidade do número na comparação com o último trimestre de 2022, ao passo que, segundo eles, os primeiros três meses do ano costumam apresentar um aumento da desocupação no comparativo com outubro, novembro e dezembro. Como você avalia este cenário? Quão importante é a redução do desemprego não apenas do ponto de vista social, mas também em um contexto de consumo?

JF – De fato, a estabilidade do desemprego é um indica – dor positivo e, aliada ao crescimento do setor de serviços (maior gerador de vagas de trabalho), mostra uma perspectiva favorável, uma vez que mais pessoas têm renda para consumir. Isso gera um ciclo positivo e multiplicativo na economia. Mais consumo acaba gerando mais vagas de trabalho para acomodar essa maior demanda por produtos e serviços.

 NVA – Por falar em consumo, o varejo é um setor que segue patinando no país – crescendo, em abril, apenas 0,1% no comparativo mensal e 0,5% no comparativo anual. Isso é um indicativo de que a recuperação econômica ainda não se reflete no aumento de renda da população e que as altas taxas de juros pressionam significativamente o consumo?

JF – A economia vem se recuperando lentamente, sem uma redistribuição significativa de renda. Nos últimos anos o brasileiro se endividou significativamente e mantém-se assim até o momento. A inflação começou a arrefecer apenas recentemente o que fez com que o Banco Central mantivesse a Selic em 13,75% ao ano. Por último, o sistema financeiro ainda vive a ressaca pós-Americanas e há pouco crédito na economia. Tudo isso resulta num cenário em que a renda está se recuperando aos poucos também. Por isso o varejo ainda não sentiu melhora, o que deve ficar para o segundo semestre.

NVA – Quanto aos juros, muito se tem discutido sobre a persistência da Selic na casa dos 13,75%. Como você vê este debate? O país já tem condições suficientes para arrefecer a taxa ou o Banco Central acerta ao adotar a cautela, a despeito das pressões que têm sofrido?

JF – O Governo está seguindo com o compromisso de ajuste fiscal, o real está valorizando e o consumo está fraco, assim não há pressões inflacionárias que justifiquem manter a taxa Selic na casa dos 13,75%. Já há um cenário menos arriscado propiciando sua redução.

NVA – Como uma eventual queda dos juros impactaria os diversos setores da economia brasileira? De que maneira o varejo, especificamente, pode ser impactado pelo movimento? JF – Uma queda nos juros tornará a dívida do consumi – dor mais barata aumentando a renda disponível para novas compras. Além disso, as compras parceladas se tornaram mais baratas favorecendo vendas com tickets mais altos.

 NVA – Por último, gostaria que o senhor falasse, de maneira geral, sobre suas expectativas para a economia e o ambiente de negócios do Brasil neste segundo semestre. O que podemos esperar? JF – O segundo semestre deve ser marcado por um merca – do mais otimista. A melhora na taxa de desemprego, a inflação controlada e a retomada de crédito devem estimular vendas. Assim as empresas devem voltar a investir e fazer negócios


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