Em 2024, ‘trimestre de ouro’ do varejo chega com otimismo renovado -

Em 2024, ‘trimestre de ouro’ do varejo chega com otimismo renovado

Sincopeças Brasil indica otimismo em relação ao ‘terceiro trimestre estendido’

Outubro inaugurou este ano um dos momentos de maior expectativa para o varejo nacional. Batizado de em 2024 de ‘trimestre de ouro’ por especialistas do setor, o período relativo aos últimos três meses do ano traz com ele ocasiões como Natal e Black Friday, datas que, segundo instituições como o IBEVAR, são, respectivamente, aquelas que mais agregam vendas ao comércio em relação à normalidade observada na tendência anual. São datas que, com criatividade estratégias, podem também ter repercussão positiva no aftermarket automotivo. Além disso, a aproximação das festas de fim de ano movimenta as revisões de férias, importantes para viagens seguras com a família. Uma boa oportunidade para promoções atrativas ao cliente final. Apesar do fim do ano vir sempre carregado dessas expectativas positivas, 2024 revela particularidades capazes de trazer ainda mais expectativas aos empresários do setor. O primeiro motivo para otimismo advém dos próprios resultados do varejo.

Afinal, o setor tem apresentado uma recuperação importante ao longo de todo calendário – apresentando uma alta de 5,1% em relação a 2023 no acumulado do ano e de 3,7% no enquadramento dos últimos 12 meses. Outro ponto, não menos importante, está ligado ao fato de estarmos convivendo com uma taxa de desocupação de apenas 6,8%, a menor registrada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE desde seu início, em 2012. De acordo com o assessor econômico da FecomercioSP, Fábio Pina, este fator é especialmente relevante se considerarmos que, além das ‘datas especiais’, o tradicional aumento do consumo no último trimestre do ano se dá pela injeção do pagamento do 13º salário na economia. “As vendas do último trimestre não são maiores do que a média do ano por algum fator espiritual. Isso acontece, em geral, porque a maioria das pessoas recebem a primeira e a segunda parcelas do 13º em novembro e dezembro. E, ora, se eu tenho mais gente empregada formalmente em 2024 no comparativo com o ano passado, a tendência é haver uma melhora no desempenho do varejo”, analisou Pina, antes de complementar com uma análise geral do aumento da renda do brasileiro neste ano: “No comparativo anual, temos tido crescimento nas vendas do varejo ao longo de todo o ano. Isso se deve muito ao aumento da renda da população e deve refletir em datas como Black Friday e Natal. Se eu tenho 10% a mais de renda, de massa de rendimento real, isso terá um efeito positivo no consumo. A não ser que eu acredite que todo mundo vai poupar, o que é muito pouco provável”, acrescentou. Professor titular da USP e presidente do IBEVAR, Claudio Felisoni corroborou em certa medida a análise do colega ao indicar que as projeções econométricas baseadas nos dados do IBGE apontam para um aumento de 3,84% no quarto trimestre de 2024 em relação ao mesmo trimestre de 2023. Ressalvas O especialista, no entanto, faz ressalvas. Segundo ele, monitoramentos de sua entidade junto às redes sociais mostram que existe um movimento de diminuição de intenção de compra para este final de ano – sobretudo quando dados do setor de serviços estão incluídos na análise. “Com efeito, dos 42 segmentos, considerando o histórico de vendas, para apenas 6 deles registra-se um patamar alto das intenções de compra. A maioria posiciona-se em um nível baixo (52,4%). Além disso, para 31 segmentos, representando quase 74% dos segmentos, observa-se redução do volume comecializado para o próximo tri – mestre”, pondera Felisoni.

Especialistas avaliam que aumento das vendas não acontece de forma homogênea no varejo

Se considerarmos o aumento da taxa de ocupação e da renda da população como os principais motores das expectativas positivas para o trimestre de ouro, é possível concluir que, de maneira geral, todos os segmentos do varejo têm motivo para estarem otimistas quanto aos resultados deste fim de ano. No entanto, como apontado no início desta reportagem, é preciso lembrar que este período traz datas excepcionais como o Natal e a Black Friday – eventos que, tradicionalmente, movimentam alguns segmentos muito mais do que outros.

Tanto Fábio Pina, da FecomercioSP, quanto Claudio Felisoni, do IBEVAR, salientam que, nesta equação, os segmentos em que as compras tendem a se dar mais por necessidade do que por desejo acabam ganhando um boost menor neste período. “Em geral, ninguém espera uma promoção de Black Friday para comprar alguma peça sem a qual o carro não funciona. Se eu fundi o motor em maio, eu vou lá e dou meu jeito de consertar. A mesma coisa acontece com o segmento de farmácias. Ninguém fica mais ou menos doente porque é Natal. Você também não vai deixar para estocar sua insulina no fim do ano”, ilustrou Pina.

Complementando a visão do colega, Claudio Felisoni trouxe dados de estudos sazonais realizados pelo IBEVAR para apontar o perfil de consumo dos brasileiros durante o Natal e o Black Friday. Segundo o presidente da entidade, os segmentos do varejo que têm maior acréscimo de vendas nestas datas em relação às suas curvas médias são Eletrônicos e Eletrodomésticos (90%-95%),

E-commerce (85%-90%), Brinquedos e Jogos (80%- 85%), Vestuário e Acessórios (70%-75%), Perfumaria e Cosméticos (65%-70%), Informática e Tecnologia (60-65%) e Smartphones e Acessórios (55%-60%). No outro lado da moeda, Felisoni indica que Lojas de Materiais de Construção (5%-10%), Postos de Combustível (8%-12%) e Farmácias (medicamentos de uso contínuo, 10%-15%) são aqueles que menos tendem a ganhar fôlego extra com as duas datas.

Sincopeças Brasil indica otimismo em relação ao ‘terceiro trimestre estendido’

Dados do IBEVAR e a percepção de economistas como Fábio Pina indicam que, embora o brasileiro seja apaixonado por automóveis, obviamente as autopeças estão longe de ser preferência nacional na hora de presentear alguém – embora muitos ficariam felizes em ganhar algum acessório para embelezar o automóvel. Em 2019, o presidente do Sincopeças Brasil, Ranieri Leitão, descobriu isso na prática quando articulou junto aos braços da entidade uma campanha para incentivar os cidadãos a aproveitarem o Natal e/ou a Black Friday para aumentar o consumo de peças e acessórios automotivos. “Na época, nós distribuímos cartazes e coisas do tipo. Eu não sei se a campanha não foi muito bem feita, mas surtiu pouco efeito”, contou a liderança, sem, no entanto, se desanimar para outras iniciativas. “Talvez esteja no momento de a gente pensar em outra ação nesse sentido. Com uma campanha bem feita, planejada, talvez possamos convencer uma parcela da sociedade de que uma peça ou um acessório pode vir a ser um bom presente de Natal ou até de aniversário – saindo da mesmice de sapato, roupa, perfume e outros itens tradicionais”.

A despeito da dificuldade de escalar essa montanha da tradição, porém, Leitão afirma que os varejistas do setor têm, sim, razões para estarem otimistas em relação aos próximos meses. “Geralmente, o último trimestre e o primeiro trimestre do ano são os dois períodos em que o varejo de autopeças fica mais aquecido”, indicou o presidente do Sincopeças Brasil. Segundo ele, isso acontece principalmente porque nessas épocas do ano o brasileiro tende a se planejar para viagens e passeios com a família – visão, aliás, corroborada por dados concretos de instituições como a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). “Nesses momentos, em que as pessoas pensam em viajar, a primeira coisa que elas se preocupam é saber se o veículo vai ter condições de levar e trazer a família em paz e o aftermarket tem que aproveitar essas ocasiões para potencializar seus negócios. É preciso, portanto, investir em campanhas para chamar a atenção dos clientes para a importância dessa manutenção preventiva”, concluiu Ranieri Leitão.

Bets: uma ameaça para os resultados do fim do ano?

Os números mostram que o varejo brasileiro tem avançado em 2024 e que tende a ter um ‘trimestre de ouro’ mais pujante do que nos últimos anos. Apesar disso, especialistas como os pesquisadores da consultoria Kantar apontam que o consistente cresci – mento da renda habitual da população, que segundo o Ipea, atingiu 5,8% entre os meses de abril e junho, estaria produzindo resultados ainda mais robustos nos setores de comércio e serviços. Análises como essa têm lançado os olhares de grandes empresas brasileiras e membros do Governo Federal para um concorrente inusitado: as plataformas de apostas ou, simplesmente, ‘bets’. Isso porque, de acordo com levantamento do Itaú, a população brasileira perdeu 23,9 bilhões de reais em apostas esportivas entre junho de 2023 e junho deste ano – movimentando um total cerca de 68,2 bilhões de reais no país no período. Essa nova via de ‘escoamento de recursos’ das famílias brasileiras levou cerca de 20 enti – dades nacionais de comércio, indústria, consumo e varejo a se unirem para divulgar um manifesto alertando para o crescimento desenfreado das apostas eletrônicas e suas graves consequências sociais, econômicas e de saúde pública. O documento, lançado ao final do último ‘Latam Retail Show’, em 21 de setembro, chama a atenção para o aumento exponencial do faturamento dessas empresas de apostas, que têm atraído recursos da população, especialmente das classes mais baixas, gerando com – portamento compulsivo em especial entre os mais jovens e vulneráveis emocionalmente e com graves implicações psicológicas pelo aumento do endividamento para os apostadores e suas famílias.


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