Empreendedoras querem mais espaço e igualdade -

Empreendedoras querem mais espaço e igualdade

Artigo do presidente do Sebrae, Carlos Melles, aborda a importância de apoiar o empreendedorismo feminino no Brasil

Carlos Melles,
Presidente do Sebrae

Os donos de pequenos negócios no Brasil sofreram, nos últimos dois anos, os sucessivos impactos causados inicialmente pela pandemia de Covid-19 e, em seguida, pelo aumento dos preços dos insumos e da inflação. Pesquisas do Sebrae mostram que, no pior momento do lockdown, quase 90% de todas as empresas haviam registrado queda no faturamento, com uma perda média de 70% na receita. Apesar disso, é possível afirmar que a crise não foi igual para todos. As empreendedoras e, em especial, as mulheres negras, registraram ainda mais dificuldades ao atravessar esse período crítico. A boa notícia é que o empreendedorismo feminino dá sinais consistentes de recuperação.

De acordo com pesquisa feita pelo Sebrae a partir de dados da PNADC, do IBGE, após recuar para um total de 8,6 milhões de donas de negócio, no segundo trimestre de 2020, o número de mulheres à frente de uma empresa no país fechou o quarto trimestre de 2021 em 10,1 milhões (mesmo resultado alcançado no último trimestre de 2019). E por que essa recuperação do empreendedorismo feminino é importante para o país? O mesmo estudo do Sebrae revela que, entre 2019 e 2021, cresceu a proporção de mulheres donas de negócios que são Chefes de Domicílio. No fim do ano passado, elas já representavam quase 50% do universo de empreendedoras. São mulheres que com suas empresas são responsáveis pela própria subsistência e a de suas famílias. Nesse contexto, apoiar a recuperação das empresas lideradas por elas é fundamental.

O Sebrae acompanha de perto, há anos, o desempenho do empreendedorismo feminino no Brasil por meio do programa Sebrae Delas, contribuindo para a disseminação dessa atividade entre as mulheres e para a sua qualificação. Por isso, sabemos o tamanho do desafio que o país tem pela frente. É urgente reconhecer a importância dessas empreendedoras e de remover os obstáculos que ainda impedem a total integração de milhões de brasileiras ao mundo dos negócios. Essa ação passa, necessariamente, pela formulação de novas políticas públicas e pela mudança de uma cultura que ainda deposita nas costas das mulheres a maior parte da responsabilidade pela administração da casa e pelos cuidados com crianças e idosos.

É revelador desse ambiente cultural o fato de as mulheres ainda serem responsáveis por apenas 34% do total dos negócios brasileiros, formais e informais, e que apesar do fato de terem uma escolaridade média superior a dos homens, elas ainda tenham uma remuneração significativamente menor. No último trimestre de 2021, 54% das mulheres Donas de Negócio tinham um rendimento mensal de até 1 salário-mínimo, enquanto, entre os homens, 40% recebiam o mesmo valor. No pior momento da crise, 2/3 das empreendedoras recebiam até 1 salário-mínimo, enquanto metade dos homens registravam o mesmo rendimento.

Nesse mês em que é celebrado o Dia Internacional das Mulheres, os diversos atores – públicos e privados – que atuam no universo do empreendedorismo precisam refletir sobre essas profundas desigualdades que ainda cercam as donas de negócios no país. Se queremos assegurar às novas gerações de mulheres empreendedoras as mesmas condições de competitividade dos homens, será fundamental reavaliarmos muito mais do que nosso marco legal, mas também as nossas práticas diárias e hábitos culturais, que ainda perpetuam esse estado de iniquidade.

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