Por Lucas Torres
Depois de seis anos instalada no Brasil quase que exclusivamente como um marketplace, a Amazon inaugurou em 22 de janeiro último seu Centro de Distribuição, passando a ter um estoque próprio de 120 mil produtos a fim de operar como um ‘varejo tradicional’.
A notícia, além de ter tido um efeito prático imediato impulsionando queda nas ações de alguns dos principais varejos online do país – como a B2W (dona de Submarino e Americanas.com), que caiu 3,26%; e Magazine Luiza, que regrediu 4,13% – representou um importante marco simbólico, sinalizando o alto interesse da gigante no mercado brasileiro.
Na ocasião, o presidente da Amazon no Brasil, Alex Szapiro, não demonstrou timidez alguma ao afirmar, em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, que, pensando no longo prazo, a empresa tem muito a fazer por aqui. “Digo o seguinte: fiquem sintonizados. Tenho certeza que, não só em 2019, como nos próximos anos, muita coisa vai acontecer”, afirmou à publicação.
Diante deste interesse, e do recente ingresso da empresa na locação de veículos, convidamos Lígia Novazzi, mestre em Economia pela Universidade de São Paulo e ‘Head de Pricing’ da Teros – empresa especializada em consultoria e definição de estratégias para a definição de preços – a projetar a política de precificação da Amazon em uma hipotética expansão do programa Amazon Motors para nosso território.
Segundo Lígia, uma conta simples mostra que a Amazon teria condições de muito facilmente igualar o atual preço mínimo de R$ 999,99 mensais oferecido pelo Programa Carro Fácil, da Porto Seguro. Isso porque o custo médio anual para uma pessoa física manter um carro popular é de aproximadamente R$ 12 mil, excluindo-se o combustível. Algo que, levando em consideração o maior poder de barganha de um frotista na negociação de compra e manutenção dos automóveis, bem como o fato deste não sofrer incidência de impostos na revenda depois do período de locação para seu cliente (considerando a locação de veículos 0km), a Amazon conseguiria baratear significativamente a operação.
“É preciso considerar ainda que a Amazon, em todos os mercados que ingressa, costuma entrar com uma política de investimento sem lucratividade a fim de estabelecer um sarrafo alto na competitividade”, afirma Lígia.
Em números palpáveis, projetando que a Amazon opte por repetir a estratégia de preços utilizada na Espanha, barateando 30% o valor em relação aos principais concorrentes, chegaríamos ao custo mensal de R$ 699,99 na modalidade mais ‘popular’ oferecida no Brasil.