No último dia 8 de janeiro, um ataque realizado por milhares de vândalos às casas de poder em Brasília colocou a democracia brasileira em um dos momentos mais críticos de sua história. De lá para cá, no entanto, uma resposta firme das instituições tem conseguido devolver a confiança necessária para que o mercado não precifique uma possível instabilidade institucional. Para discutir este assunto e os primeiros momentos de volatilidade vividos pelo novo Governo, conversamos com o sócio da Finacap Investimentos, Felipe Moura.
Novo Varejo Automotivo – O mercado financeiro tem estado bastante volátil desde a eleição presidencial. A que você atribui este comportamento dos investidores?
Felipe Moura – Realmente, desde as eleições o mercado tem tido diversos episódios de volatilidade. Muitos deles, na verdade, motivados mais pela especulação do que por fatos que nem se concretizaram. Exemplo disso é o mercado ter ficado bastante apreensivo com o fato de a candidatura do presidente Lula ter endereçado durante a campanha projetos que, se aplicados, teriam um custo fiscal muito elevado. Houve também a questão da PEC dos gastos que, no fim das contas, acabou sendo desidratada e acalmou o mercado. Em resumo, o mercado sentiu muito o peso destas narrativas, inclusive algumas criadas a partir de entrevistas coletivas como aquela em que o novo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, mencionou uma possível revogação da Reforma da Previdência, algo que foi rapidamente desmentido pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa. Desde então, sobretudo depois da reunião do presidente com seus ministros, nós temos visto uma melhora importante, já que, ao menos até aqui, o comportamento tem sido não declarar nada até que se torne concreto.
NVA – Você vê risco de instabilidade institucional causada pelos atos do dia 8 de janeiro como um fator que ainda pode atingir o mercado de maneira mais pujante?
FM – Acredito que não vai causar instabilidade, pois foi um movimento rapidamente contido. O Governo Federal encontrou uma boa resposta no combate aos atos, atitude que se somou ao fato de todos os chefes de poderes de Brasília terem rechaçado o movimento. Este discurso unificado, endossado, inclusive, por membros importantes da direita brasileira afasta muito qualquer risco de instabilidade institucional. Vejo, portanto, como uma coisa pontual. O mercado não sentiu este peso na própria segunda-feira após o ato. Além disso, quero também observar outros pontos positivos e que têm contribuído para uma melhora de humor do mercado. Entre eles, estão o fato de o mercado ter gostado bastante da indicação da Simone Tebet para o Ministério do Planejamento e o pacote de medidas anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que mostraram uma busca por encontrar receitas que mitiguem a elevação dos gastos sociais já sinalizados pelo novo governo.
