Etanol terá papel central na atuação da BYD no Brasil   -

Etanol terá papel central na atuação da BYD no Brasil

Presidente do conselho de administração da empresa, Alexandre Baldy conversou com exclusividade com o Novo Varejo

A essa altura, não há mais dúvida: até mesmo os principais players do universo dos carros elétricos já perceberam que o caso brasileiro é singular em relação a outros mercados ao redor do mundo. Isto é, diferentemente de casos como o europeu e o asiático, o carro 100% elétrico deverá ter papel secundário durante o processo de descarbonização da frota brasileira. Em declaração exclusiva ao Novo Varejo, a BYD, empresa chinesa com planos de investimentos no Brasil que ultrapassam a casa dos R$ 3 bilhões, informou que deverá valorizar o etanol em seus projetos no país.

E, para tanto, irá criar em Salvador um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para o desenvolvimento de um motor híbrido flex que possibilite o uso da energia que vem da cana-de-açúcar combinada com a eletricidade.

Presidente do conselho de administração da gigante, Alexandre Baldy – Ministro das Cidades durante o Governo Bolsonaro – afirmou, inclusive, que o fato de o Brasil possuir uma matriz energética limpa, somado ao potencial de consumo da população, coloca o país entre as prioridades da estratégia global da BYD. Além de apresentar os modais que devem concentrar os principais investimentos da empresa por aqui, Baldy se dispôs, ainda, a debater outros temas importantes para o sucesso – ou não – da fabricante asiática em terras brasileiras. Dentre estes pontos, o ‘chairman’ falou sobre as especulações de que a BYD conseguirá, já no ano que vem, baratear substancialmente o preço de seus automóveis, colocando- -os em patamar de igualdade com os carros a combustão. Além disso, o executivo conversou sobre o engajamento da empresa junto ao poder público para viabilizar as necessárias evoluções no campo da infraestrutura.

Novo Varejo – Recentemente, a BYD fez um movimento robusto no Brasil ao assumir a fábrica da Ford na Bahia. Qual percepção em relação ao mercado brasileiro motivou esse movimento?

Alexandre Baldy – O Brasil está entre as prioridades da BYD, tanto pelo seu potencial de consumo como por ter uma matriz energética limpa que faz todo sentido para a eletrificação da frota. Recentemente, em visita à China, o presidente Lula deixou claro o seu comprometimento com o meio ambiente, com as políticas públicas no Brasil para a proteção da Amazônia, com a atração da COP 30 para o país, e ressaltou que empresas que contribuíssem para proteger o meio ambiente e para a descarbonização seriam bem-vindas no país.

NV – Alguns especialistas afirmam que o fato de o Brasil possuir singularidades – sobretudo pela importância do etanol na matriz – dificultarão a entrada dos ‘100% elétricos’ no nosso mercado, de modo que os híbridos devam ter mais sucesso. Como a BYD vê essas afirmações?

AB – Devemos, sim, valorizar o etanol no Brasil. Por isso, também vamos apostar na produção de um motor híbrido flex, em Camaçari, na Bahia. Vamos criar em Salvador um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para o desenvolvimento deste motor híbrido flex, que possibilite o uso da energia que vem da cana-de-açúcar combinada com a eletricidade. Duas fontes de energia limpa para levar o Brasil em direção a um futuro mais verde e sustentável.

NV – Como o fato de a BYD ser referência em outras modalidades de energia limpa contribui para o seu braço automotivo, no âmbito do desenvolvimento de baterias e soluções que possam baratear os custos dos veículos, bem como oferecer uma rede de reposição bastante singular?

AB – A BYD acredita na construção de um ecossistema sustentável em que seja possível captar a energia nas placas solares, armazenar nas baterias e utilizar nos veículos. O mundo está sentindo os efeitos do aquecimento global e a preocupação com o meio ambiente é uma questão urgente. Nosso objetivo é usar a tecnologia para desenvolver produtos que ajudem na nossa missão de reduzir em 1o C a temperatura do planeta.

NV – Especula-se que o ‘Seagull’ custará cerca de R$ 50 mil. Vocês acreditam que o avanço tecnológico permitirá que carro elétrico siga se tornando cada vez mais competitivo em termos de preço na comparação com os automóveis a combustão?

AB – Em outubro de 2023, a BYD assumiu as instalações da antiga fábrica da Ford na cidade de Camaçari, na Bahia. A oficialização da chegada da empresa no nordeste brasileiro é um divisor de águas para a indústria automotiva nacional, que volta a investir e produzir no estado, desta vez fabricando veículos elétricos e híbridos com a mais alta tecnologia e eficiência. A produção nacional vai permitir preços ainda mais competitivos e tornar realidade o sonho de ter um veículo elétrico na garagem.

NV – Na visão de vocês quais fatores são os mais importantes para baratear os custos de aquisição e reposição dos carros elétricos a fim de torná-los definitivamente ‘populares’?

AB – O crescimento do mercado e o aumento da produção deste tipo de veículos já são importantes aliados para tornar os preços mais competitivos. A fabricação nacional também vai ajudar nesse aspecto. E como os carros elétricos também ajudam na questão ambiental, acreditamos que são importantes políticas públicas que possam estimular a adoção destes veículos que não poluem.

NV – Como a BYD vê o Brasil em termos de infraestrutura para os carros elétricos? Temos uma rede de carregadores já perto de suficiente no nosso território? De que maneira vocês estão se articulando junto ao poder público para contribuir para a evolução do país neste sentido?

AB – Melhorar a infraestrutura de recarga é um dos principais desafios. Já avançamos muito nos últimos anos, mas é preciso ir além, especialmente fora dos grandes centros e nas rodovias pois o Brasil é um país de dimensões continentais onde são feitos grandes deslocamentos. A BYD trabalha constantemente com os setores público e privado para estimular a ampliação dos pontos de recarga pelo país.


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