Irã e Estados Unidos têm protagonizado o noticiário no início deste ano, uma inimizade que foi fortalecida após o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani pelos norte-americanos nos primeiros dias de 2020. Porém, nem tudo entre EUA x Irã foram ofensivas e represálias. No passado, ambas as nações tinham boas relações e isso tinha consequências na indústria automobílistica.
As boas relações começaram nos anos 50. Os Estados Unidos apoiavam o regime monárquico do Xá Mohammed Reza Pahlevi, que recebeu ajuda da CIA e do MI6 para dar um golpe de estado no então primeiro-ministro Mohammad Mossadegh em 1953. Com o apoio à dinastia persa, que saiu fortalecida graças à ação norte-americana, Washington estabeleceu fortes laços com Teerã, principalmente comerciais.
A General Motors no Irã
Uma das primeiras empresas dos EUA a se aventurar em solo iraniano foi a General Motors, que estabeleceu uma joint-venture com a local Pars Khodro Company, fundada em 1967, renomeando a empresa para GM Iran. Essa companhia iraniana já havia começado a fabricar o Rambler American e alguns modelos da Jeep antes da negociação com a gigante norte-americana.
A primeira cartada da GM no Irã foi a fabricação de modelos das marcas Chevrolet, Buick e Cadillac em 1973. Com cerca de 4 mil unidades, um dos destaques da produção da multinacional norte-americana foi o Chevrolet Iran 2500, 2800 e Royale, que eram baseados no Opel Commodore B, um parente próximo do Opala brasileiro. Depois, o Nova passou a ser o “molde” desse veículos “locais”.
Já o caso da Cadillac no Irã era mais curioso. Por muitos anos, a fábrica que produzia o Cadillac Seville, ou Cadillac Iran, como foi batizado no país, foi a única fora dos Estados Unidos a montar veículos da marca no período entre a Segunda Guerra Mundial e 1997, quando a Alemanha passou a produzir o Catera. Fabricado entre 1977 e 1987, foram 2.653 unidades do Seville local que foram às ruas iranianas.
A Buick escolheu o Skylark para ser produzido no país asiático. Sem nenhuma surpresa, o modelo terminou com o mesmo nome que os veículos da Chevrolet e Cadillac fabricados por lá, Iran. O Buick Iran foi montado entre 1977 e 1981, e voltou depois de uma pausa entre 1986 e 1988.
No final das contas, a empreitada da General Motors no Irã produziu 40 mil carros entre 1977 e 1987. A Revolução Islâmica em 1979 dificultou a atuação da marca norte-americana, já que o Aiatolá Khomeini não gostava da relação EUA x Irã com o Xá deposto, mas não encerrou suas fábricas, o que só foi acontecer em 1987. Desde então, a Pars Khodro passou a trabalhar com a Nissan e a Renault, além de produzir modelos da chinesa Brilliance.
Em 2016, o Irã baniu a importação dos carros da Chevrolet em seu território. O Aiatolá Ali Khamenei fez esse ato como represália a algumas sanções comerciais vindas do lado norte-americano. Na época, ele disse que a produção local deveria ser mais valorizada.
Hoje, os maiores expoentes da indústria automotiva iraniana são Iran Khodro e Saipa. A primeira é uma das líderes de mercado na Ásia, graças ao Paykan, modelo que virou um marco no Irã e é considerado até hoje o “carro nacional”, mesmo não sendo mais fabricado desde 2005.