Claudio Milan: claudio@novomeio.com.br
O setor automotivo vive um dos momentos mais disruptivos desde que Gottlieb Daimler e Carl Benz patentearam e colocaram para rodar os primeiros automóveis movidos por motores de combustão interna, em 1886. É uma verdadeira revolução em curso. Conforme enumera o relatório da “Pesquisa Executiva Anual do Setor Automotivo Global 2021” (GAES), da KPMG – a 22ª segunda edição deste estudo realizada – táxis voadores, carros por assinatura, estações rápidas para recarga de veículos elétricos e novos entrantes big-tech são avanços que podemos esperar nos próximos 10 anos. Quem sabe até antes.
As tendências apuradas pelo estudo vêm das fontes mais confiáveis existentes: nada menos que 1.118 executivos do setor automotivo ouvidos em 31 países, incluindo 372 CEOs, 325 outros altos executivos, chefes de unidades de negócios, departamentos e gerentes. Um quarto (24%) trabalha para fabricantes de automóveis e 13% para fornecedores de primeira linha. Se esses caras não sabem o que vai acontecer neste mercado, então ninguém sabe… São várias as conclusões do estudo, mas algumas interessam mais de perto aos gestores e profissionais do setor automotivo.
Uma delas é a que dá título a esta matéria. A eletrificação da frota vem sofrendo questionamentos em países da Europa e nos Estados Unidos. As perspectivas ambiciosas anunciadas já para 2030 parecem um pouco distantes da viabilidade. No Brasil, o assunto é ainda mais marginal em razão da inexistência de uma política não apenas de incentivo à compra destes veículos, mas principalmente para criação da infraestrutura necessária ao abastecimento destes carros. Mesmo diante destas significativas dificuldades, os executivos do setor ouvidos pela KPMG apontaram que até 2030 41% dos veículos novos vendidos no Brasil serão 100% elétricos. O índice é superlativo, ainda que menor que o apurado em outros países: 52% no Japão, Estados Unidos e China e 49% na Europa Ocidental. No entanto, é justo dizer que, considerando o todo das respostas, os pontos de vista dos executivos são muito distintos e não há consenso sobre a parcela de participação de mercado que estes carros irão conquistar. E, para 77% dos entrevistados os veículos elétricos a bateria podem conquistar espaço de mercado significativo sem a adoção de incentivos governamentais.
O tempo de recarga, um dos desafios para viabilizar o carro elétrico, terá de ser inferior a 30 minutos. Para 77% dos entrevistados, essa será uma exigência inegociável dos consumidores. Hoje, a maior parte das estações disponíveis leva três horas para completar o ciclo. “Os executivos automotivos globais estão confiantes que esta indústria terá um crescimento mais lucrativo nos próximos cinco anos e que a participação no mercado de veículos elétricos crescerá drasticamente até 2030. Está acentuada pelas pressões e desafios de ESG e a corrida para uma economia de baixa emissão de carbono. Contudo, problemas na cadeia de suprimentos e a escassez de mão de obra preocupam esses profissionais. O modelo atual de negócios precisa ser reformulado para a superação dos atuais desafios”, comenta Flávia Spadafora, líder do setor Automotivo da KPMG no Brasil.