Falta de competitividade do Brasil é multifatoriale demanda reflexão do empresariado -

Falta de competitividade do Brasil é multifatoriale demanda reflexão do empresariado

Levantamento reforçou a ideia de que, para serem bem-sucedidos, negócios e os próprios indivíduos no país têm de superar forças que operam na direção contrária representadas por questões como um dos sistemas tributários mais complexos do mundo e uma das 58 piores infraestruturas do planeta

O que fazer quando as condições oferecidas não são as melhores? Há muito tempo, essa pergunta tem permeado a realidade de centenas de empresários brasileiros e ganhou novo eco com a divulgação do ranking mundial de competitividade que classificou o Brasil na 62ª posição entre 67 nações analisadas.

 Produzido pelo International Institute for Management Development, em parceria com a Fundação Dom Cabral, o levantamento reforçou a ideia de que, para serem bem-sucedidos, negócios e os próprios indivíduos no país têm de superar forças que operam na direção contrária representadas por questões como um dos sistemas tributários mais complexos do mundo e uma das 58 piores infraestruturas do planeta. Embora a resposta para esse questionamento central seja multifacetada e passe, claro, por um amadurecimento do Brasil em termos de eficiência institucional, algumas pistas estão postas no próprio ranking. O trabalho mostrou que estamos na última colocação quando o quesito é educação em gestão e dívida corporativa e no penúltimo posto quando o assunto é habilidades financeiras.

Tais apontamentos mostram que a autocrítica é um passo indispensável para superar e, se não superá-los, atenuar os impactos dos desafios estruturais. Tudo bem que, para sermos totalmente justos, é necessário dizer que a falta de preparação dos gestores brasileiros é fruto direto dos problemas de educação de base que temos no país. Não por acaso, estamos na 66ª posição global na educação básica, secundária e universitária. Ainda assim, será que a alta gestão – que muitas vezes se orgulha de se declarar self made – está se preparando, de fato, como deveria? Se nos basearmos em uma primeira camada, os chamados hard skills, podemos dizer que sim. Afinal, pesquisa da Boyden apontou que 93% dos profissionais C-Level do Brasil têm graduação e mais da metade deles fala até três idiomas. Ao olharmos com mais profundidade, porém, vemos que o que falta é justamente a adaptabilidade – algo extremamente exigido em ambientes instáveis como o brasileiro. Pesquisa da consultoria ManpowerGroup junto a 41 países colocou o Brasil na posição entre as 15 nações que mais sofrem para encontrar mão de obra qualificada para cargos de gestão. O levantamento mostrou que as empresas até ficam satisfeitas com o nível técnico dos candidatos, mas sentem muita falta de habilidades comportamentais que incluem o traquejo social, a comunicação e a capacidade de ser colaborativo.

Outro ponto que se destaca no ‘levantamento mais subjetivo’ da ManpowerGroup é a dificuldade que os gestores brasileiros têm tido com a diversidade, tema considerado chave na retenção de talentos e administração da equipe. Aqui, vale dizer, cabe uma autocrítica também às empresas, ao passo que as contratações de gestores também não contemplam este ponto: 93% dos profissionais C-Level do Brasil são homens; 71% deles se afirmam como brancos. Em resumo, o que todos esses números nos mostram é que tornar o Brasil mais competitivo é um papel, sim, institucional. Mas não exime os atuais gestores de fazerem a sua parte e construírem espécies de ‘microbolhas’ de competitividade.

Para finalizar, saliento que jogando a favor, ambos – governo e gestores – têm o fato de o país ainda figurar em posição razoável quando o assunto é eficiência econômica (38ª posição no ranking de competitividade). Cabe a todos gerirem melhor os recursos que ainda resistem.


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